Em época de incêndios, saiba como agir antes e durante as chamas
O que fazer antes e durante um incêndio? O PÚBLICO falou com o presidente da Associação Portuguesa de Técnicos de Segurança e Protecção Civil e reúne alguns conselhos.
A descoordenação e o desconhecimento sobre como reagir ao crescimento e à aproximação do fogo que no último sábado atingiu a população de Pedrógão Grande é um cenário que poderá repetir-se este Verão, uma vez que a fase mais preocupante de incêndios ainda nem sequer começou. Saber como agir, quer na prevenção, quer no momento, é essencial para aumentar a segurança e reduzir o nível de ameaça a vidas e bens.
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A descoordenação e o desconhecimento sobre como reagir ao crescimento e à aproximação do fogo que no último sábado atingiu a população de Pedrógão Grande é um cenário que poderá repetir-se este Verão, uma vez que a fase mais preocupante de incêndios ainda nem sequer começou. Saber como agir, quer na prevenção, quer no momento, é essencial para aumentar a segurança e reduzir o nível de ameaça a vidas e bens.
Numa conversa com o PÚBLICO, o presidente da Associação de Técnicos de Segurança e Proteção Civil (Asprocivil), Ricardo Ribeiro, alerta que "convém ter determinada uma série de acções antes do incêndio" e ajuda-nos a perceber a importância das recomendações partilhadas, por exemplo, pela Associação Portuguesa de Segurança sobre o que fazer no caso de um incêndio florestal, conforme os cenários possíveis.
Treinar um plano de evacuação, definir pontos de encontro, isolar janelas e manter-se junto ao chão são algumas das recomendações dos especialistas. O PÚBLICO reuniu algumas delas e destaca os procedimentos mais aconselhados pela Associação Portuguesa de Segurança e pelo presidente da Asprocivil.
O que fazer antes?
- O primeiro conselho é o mais repetido: “limpe o mato à volta da sua residência”;
- Outro é a criação de culturas com “barreiras corta-fogo (ex: caminhos)”;
- A localização dos objectos inflamáveis também deve receber atenção: “mantenha velas e candeeiros a petróleo, ou gás, afastados da madeira, do papel, de roupas ou outros materiais que sejam facilmente inflamáveis”;
- Estar preparado é outro dos avisos: “tenha em casa meios que lhe permitam extinguir, a qualquer momento, um foco de incêndio”;
- “Crie uma zona pavimentada ao redor da sua residência com uma largura mínima de um metro”;
- “Treine, com a família, um plano de evacuação da sua habitação, definindo um ponto de encontro e possíveis formas de contacto em caso de separação dos membros da família”.
O que fazer durante?
Importa ressalvar que não existe uma forma "correcta" de agir, uma vez que a realidade e a imprevisibilidade das situações varia de caso para caso. Não obstante, há opções mais aconselhadas. E ao contrário do que se possa pensar imediatamente, a primeira reacção não deverá ser fugir (a não ser que seja essa a recomendação das autoridades).
Em primeiro lugar, "deve ligar-se para as autoridades, para o 117, para o 112, GNR ou bombeiros e pedir instruções, dando conta da localização e descrevendo o que está a acontecer", começa Ricardo Ribeiro. Colocam-se então dois cenários: o afastamento do local ou a espera pelo socorro.
Caso o fogo constitua uma ameaça cada vez mais próxima, "e só depois da conversa com o apoio das autoridades" é que devem ser avaliados os possíveis trajectos de fuga. "Só é aconselhável tomar esta opção caso exista a certeza absoluta de que o caminho é completamente seguro."
Ricardo Ribeiro alerta ainda para o perigo de utilizar os automóveis. "Os fumos colocam condicionantes ao funcionamento do veículo, na medida que a mistura gasosa dos mesmos não se faz da mesma forma."
"Caso não seja possível, deverá permanecer em casa alertando as autoridades ou alguém que possa fazê-lo caso não consiga fazer uma chamada", continua. Um conselho que vai ao encontro do sugerido pela Associação Portuguesa de Segurança:
- "Tenha em conta que as autoridades não recomendam que abandone a sua casa se a sua vida não correr perigo", lê-se no site;
- "Proceda apenas à evacuação da sua casa quando as autoridades o recomendarem ou quando a sua vida correr perigo."
Durante esse período
- Avise os seus vizinhos;
- Corte o gás e desligue a corrente eléctrica;
- Molhe as paredes e os arbustos que rodeiam a sua casa de forma abundante;
- Se tiver animais, solte-os porque eles saberão o que fazer para se salvarem;
- Ligue um rádio a pilhas e esteja atento a todas as indicações difundidas;
- As janelas da casa devem ainda ser calafetadas, para diminuir o risco de intoxicação pelo fumo;
- Uma vez que os fumos tóxicos têm tendência a subir, o conselho é para que se "fique agachado para respirar junto ao chão, evitando inalar fumo";
- "Se possível, coloque um lenço molhado a cobrir o nariz e a boca" e "enrole-se em roupas molhadas, não esquecendo de cobrir a cabeça";
- Caso tenha de se refugiar, procure uma zona com acesso a água e com pouca vegetação;
Que direccção tomar em relação ao vento?
Ricardo Ribeiro esclarece ainda que é importante saber que opção tomar tendo em conta a localização em relação ao incêndio. Isto é, uma vez que o incêndio progride a favor do vento e com base no declive, importa perceber onde se está, para decidir que direcção tomar, de forma a não ir ao encontro da progressão das chamas.
- Caso esteja na parte de trás do incêndio, na cauda do incêndio, deve avançar na direcção contrária ao vento, “uma vez que se vai afastando” das chamas.
- Opção que se altera caso esteja na frente do incêndio, uma vez que se for contra o vento vai em direcção às chamas. Aqui, a deslocação deve ser feita a favor do vento.
Nestas situações importa manter a calma, uma vez que o pânico faz com que a respiração seja mais frequente e leva a que se esgote o oxigénio mais depressa e se inalem mais fumos tóxicos, aumentando o risco de perda dos sentidos.
- Outra regra transversal é o afastamento de zonas de declive.
Então, por que têm sido evacuadas aldeias nestes dias?
"É um pouco diferente no sentido que estas são evacuações para diminuir uma possível consequência do descontrolo do incêndio", justifica Ricardo Ribeiro. "Trata-se de uma evacuação num contexto de emergência e nessa altura tem mesmo de sair", acrescenta, explicando que "o comandante de operações de socorro tem informação do comportamento previsível do andamento do incêndio e toma a decisão com base na avaliação da informação das células de planeamento, operação e logistica".
Mas que não restem dúvidas: caso a ordem seja a de abandonar as habitações, as instruções devem ser respeitadas, sublinha.
- "Depois de abandonar a sua casa, não volte atrás até ordem em contrário."
Nota: Artigo actualizado com informação sobre a direcção a tomar em relação ao vento, com base numa sugestão de uma leitora.