O incêndio em que foram precisas 17 horas para resolver uma avaria nas comunicações

No ano passado, enquanto os bombeiros combatiam as chamas no concelho do Sardoal, uma falha afectou as comunicações por rádio. A solução implicou múltiplas entidades, públicas e privadas.

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Condições do terreno podem causar falhas nas comunicações PAULO CUNHA/LUSA

As condições numa zona de incêndio podem causar falhas na infraestrutura que assegura as comunicações no terreno. Foi o que aconteceu em Agosto do ano passado, num incêndio no concelho do Sardoal, em Santarém, onde as chamas obrigaram a evacuar uma aldeia de 50 pessoas e no qual uma avaria nas comunicações só foi resolvida 17 horas depois. A situação levou o Ministério da Administração Interna a rever procedimentos.

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As condições numa zona de incêndio podem causar falhas na infraestrutura que assegura as comunicações no terreno. Foi o que aconteceu em Agosto do ano passado, num incêndio no concelho do Sardoal, em Santarém, onde as chamas obrigaram a evacuar uma aldeia de 50 pessoas e no qual uma avaria nas comunicações só foi resolvida 17 horas depois. A situação levou o Ministério da Administração Interna a rever procedimentos.

A descrição detalhada da falha de comunicações faz parte de documentos a que o PÚBLICO teve acesso e que foram trocados entre o Ministério da Administração Interna e a Câmara Municipal do Sardoal. Entre eles, está um relatório da PSP, que teve a tarefa de substituir a estação de comunicações avariada por uma estação móvel, e um relatório confidencial do SIRESP, o sistema de comunicações de emergência, que é gerido numa parceria público-privada. A descrição mostra uma sucessão de procedimentos por parte de diferentes entidades, que tiveram de se articular entre si.

De acordo com o relatório do SIRESP, os problemas começaram às 18h20 de 23 de Agosto, algumas horas após o início das chamas. A uma falha no fornecimento de energia seguiu-se uma avaria no circuito de comunicações da PT, levando a que a estação de comunicações (que permite as ligações entre equipamentos de rádio numa determinada zona) passasse a funcionar de forma limitada. O problema afectava as comunicações no terreno, mas não significou um corte total, até porque existiam outras estações na zona.

Cerca das 22h, a Autoridade Nacional de Protecção Civil pediu ao Centro de Operação e Gestão (que está sob a alçada do Ministério da Administração Interna) a substituição da estação afectada. Mas só às 23h40 o centro pediu à PSP que fosse levada para o local uma estação móvel. É aqui que a secretaria geral do ministério reconhece a primeira falha: este pedido demorou demasiado tempo. Segundo o documento, foram tomadas medidas para que este género de procedimentos não demore mais de 30 minutos.

Às 0h30, a equipa da PSP que levaria a estação móvel até à zona do incêndio apresentava-se em Belas, nos arredores de Lisboa, onde o veículo estava guardado. Chegariam às 4h45 ao Quartel dos Bombeiros do Sardoal (o veículo tem uma velocidade máxima de 80 quilómetros por hora) e às 5h30 estavam na localidade de Fontes, onde, escoltada pela GNR, a estação seria posta a funcionar às 6h05.

Surgiu então um problema técnico: os equipamentos de rádio continuavam a ligar-se à estação avariada. Foi preciso que um técnico da PT fosse desligar esta estação, algo que só aconteceu poucos minutos após as 11h. Esta demora de cinco horas foi, segundo a comunicação da secretaria geral do ministério, “a falha operacional mais crítica”. A demora foi causada por ser “indefinida a atribuição da responsabilidade de decisão relativa ao desligamento de uma estação base”. Tanto o documento do ministério como o do SIRESP referem que este procedimento foi entretanto estabelecido.