May promete “humildade” e um “Brexit” “máximo de consenso”

Politicamente frágil, a primeira-ministra adopta um novo tom no regresso ao Parlamento. De fora do programa do Governo ficaram propostas mais polémicas

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Theresa May regressou ao parlamento, onde entregou à rainha o seu programa de governo Reuters/POOL

Theresa May regressou esta quarta-feira ao Parlamento e à primeira fila da bancada do Governo, mas já não como a primeira-ministra popular, que tinha na mão o partido e as rédeas da mão. O programa de governo que entregou a Isabel II – e que continua sem saber se tem condições para concretizar – deixou cair algumas das principais propostas que fez na campanha, consumindo-se na enorme tarefa legislativa que o país tem de concluir até à saída da União Europeia.

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Theresa May regressou esta quarta-feira ao Parlamento e à primeira fila da bancada do Governo, mas já não como a primeira-ministra popular, que tinha na mão o partido e as rédeas da mão. O programa de governo que entregou a Isabel II – e que continua sem saber se tem condições para concretizar – deixou cair algumas das principais propostas que fez na campanha, consumindo-se na enorme tarefa legislativa que o país tem de concluir até à saída da União Europeia.

A líder conservadora, que antecipou as legislativas oferecendo ao país uma “liderança forte e estável”, admitiu que o resultado “não foi o que esperava” e prometeu governar a partir de agora com “humildade”. 

Uma mudança de tom que se estende ao “Brexit”, que May garantia que seria realizado a qualquer custo, mas que agora reconhece que terá de ser executado de uma forma que gere “o máximo de consenso possível”. Com o próprio governo dividido sobre a estratégia a seguir e sem maioria absoluta no Parlamento, a primeira-ministra prometeu “trabalhar com o Parlamento, com as empresas, com as autonomias e muitos outros para garantir uma saída suave e ordenada” da UE. O jornal Guardian notava também que nas notas explicativas que acompanham o Discurso da Rainha, o Governo explica que “repeal bill” – a peça central das oito leis que May quer aprovar nos próximos dois anos e que transfere para o ordenamento jurídico britânico toda a legislação europeia em vigor – não visa “criar constrangimentos a qualquer acordo que venha a ser negociado com a UE”, dando margem de manobra aos negociadores para os compromissos necessários. 

Mas os sinais de fragilidade são tantos quantas as dúvidas sobre se May terá condições para executar a versão reduzida do seu programa. Uma lista da qual não fazem parte importantes bandeiras de campanha como a promessa de abrir mais escolas públicas com poder para seleccionar os seus alunos, o fim da proibição de caça à raposa, ou a incendiária proposta para aumentar as contribuições pagas pelos idosos que recebem apoio domiciliário. 

“Não vale a pena fazer de conta que o resultado era aquele que o partido queria, ou que o Discurso da Rainha tem tudo o que o Governo desejava”, disse à Sky News Boris Johnson, o ministro dos Negócios Estrangeiros e figura permanente na lista de potenciais sucessores de May. 

O acordo com o Partido Democrático Unionista (DUP), que daria aos conservadores a maioria absoluta que as urnas não lhes deram, continua também a ser adiado – uma fonte do partido disse à Reuters que não é provável que haja luz verde esta semana. Mesmo sem ele, os unionistas deverão aprovar o programa de governo, na votação da próxima semana, mas torna-se difícil imaginar como May conseguirá aprovar a legislação necessária ao “Brexit”.

Ninguém sabe isso melhor do que Jeremy Corbyn, o líder do Partido Trabalhista, que regressou ao Parlamento fortalecido pelo bom resultado das urnas, e que no debate desta quarta-feira garantiu que o Labour “não é meramente a oposição”, mas um “Governo à espera de o ser”. Uma alternativa credível, disse, “a um Governo sem maioria, sem um mandato, sem um programa e com uma primeira-ministra que perdeu a sua autoridade política”.