Novidades da câmara não calam críticas às obras no Arco do Cego

Numa reunião sem vereadores, técnicos da autarquia tentaram rebater queixas dos moradores do bairro. Mas as duas medidas anunciadas sobre estacionamento e trânsito foram pouco convincentes para os presentes.

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Os moradores do Arco do Cego continuam muito descontentes com o resultado das obras que a Câmara Municipal de Lisboa promoveu no bairro e ficaram pouco impressionados com as novidades que alguns técnicos da autarquia lhes deram esta segunda-feira. Numa sessão de esclarecimentos há muito desejada, o responsável pelo projecto mencionou duas medidas que visam resolver os dois problemas que mais queixas geram entre residentes: a falta de estacionamento e o volume de trânsito dentro do bairro.

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Os moradores do Arco do Cego continuam muito descontentes com o resultado das obras que a Câmara Municipal de Lisboa promoveu no bairro e ficaram pouco impressionados com as novidades que alguns técnicos da autarquia lhes deram esta segunda-feira. Numa sessão de esclarecimentos há muito desejada, o responsável pelo projecto mencionou duas medidas que visam resolver os dois problemas que mais queixas geram entre residentes: a falta de estacionamento e o volume de trânsito dentro do bairro.

“Há uma pressão muito forte de estacionamento exterior”, reconheceu o arquitecto João Marrano, que anunciou que está prevista “a introdução da zona vermelha da EMEL e o pagamento até às 23 horas”, para que os automobilistas que vêm de fora não se sintam tentados a deixar o carro dentro do bairro. Segundo alguns moradores presentes, o número de lugares diminuiu 30% com as obras e é cada vez mais difícil estacionar. João Marrano rejeitou este número, disse que apenas se perderam 9,3% dos lugares.

O arquitecto disse também que a autarquia está a preparar um projecto para a Avenida Marconi, paralela ao bairro, de modo a que esta seja transitável nos dois sentidos a partir da Praça de Londres e, assim, os automóveis deixem de atravessar o interior do Arco do Cego.

Os anúncios não calaram os muitos moradores presentes, que durante várias horas desfiaram críticas e dúvidas sobre as obras. Logo no início da sessão, realizada na sede da Junta de Freguesia do Areeiro, os residentes começaram a interpelar João Marrano.

As primeiras queixas foram que os lugares de estacionamento e os raios de curvatura das ruas ficaram demasiado pequenos, mas o arquitecto respondeu que não. “Há uma percepção de que a largura do betuminoso foi reduzida, mas não foi”, disse João Marrano, explicando que essa percepção deriva de os lugares de estacionamento serem agora em pedra e não marcados no alcatrão, como antes. Por outro lado, acrescentou, a largura de 1,80 metros para cada lugar “foi considerada uma medida legítima para o tipo de malha urbana existente neste bairro”.

Depois, Marrano disse que, na elaboração do projecto, foi “um ponto importante” para a câmara “garantir que quem circula em automóvel ligeiro o faça devagar”. Ora, os moradores dizem que hoje acontece precisamente o contrário. “A nossa vivência é zero. Vocês acabaram com o nosso bairro. Acabaram com a paz no bairro. Hoje vivemos num bairro horrível”, exaltou-se uma residente. “A única coisa que era preciso fazer era tapar buracos. Tapar buracos, mais nada. A partir daí foi só asneiras”, disse outro. “O bairro, antes de vocês pegarem nele, era um modelo europeu de desenvolvimento”, criticou um terceiro.

Landislau Ferreira, habitante da Rua Landislau Piçarra, disse que “na Rua do Arco do Cego agora circula-se a 80 ou 90 quilómetros por hora”, o que também acontece noutras artérias. Por isso, propôs a colocação de lombas nas entradas do bairro e uma sinalização mais clara de que naquela zona só se pode circular, no máximo, a 20 km/h. “As lombas provocam muito ruído. Passado um mês de as colocarmos, as pessoas pedem-nos para as retirarmos”, respondeu João Marrano.

Rui Martins, dirigente do grupo cívico Vizinhos do Areeiro, lamentou a ausência de vereadores na reunião. “Estou surpreendido por não ver nenhum eleito da câmara”, disse, criticando depois a “proliferação incompreensível de sinais, como também de pilaretes”, a existência de grandes floreiras a bloquear lugares de estacionamento e os lancis muito baixos, que levam a que seja frequente ver carros parados em cima dos passeios. “As pessoas não percebem onde começa a via e onde começa o passeio”, apontou.

“Não precisamos de uma sessão de esclarecimento, precisamos de ser consultados”, disse a moradora Luísa Jacobetty, para quem “a solução é parar tudo” até que a câmara faça “uma consulta pública” sobre os trabalhos. Pouco depois, a directora municipal da Mobilidade interveio pela primeira vez. “A câmara tem sido, desde a primeira hora, de uma abertura…”, disse Fátima Madureira, logo interrompida por intervenções exaltadas. “A câmara não tem tido abertura nenhuma! A vida destas pessoas está feita num inferno”, ouviu-se. Mas a dirigente municipal repetiu: “Os moradores têm sido sempre ouvidos.”

Aos problemas já identificados pelos moradores há meses juntou-se recentemente uma novidade que também tem causado confusão: várias ruas têm agora linhas vermelhas pintadas no asfalto. Trata-se, segundo João Marrano, de “um projecto feito em colaboração com o Regimento de Sapadores Bombeiros para criar acessos de emergência” dentro do bairro. É “uma tentativa de sensibilização de que aquilo é uma linha de emergência para bombeiros”, especificou. “Parece o Portugal dos Pequenitos”, comentou um morador.

“O urbanismo é feito de várias fases, uma delas é a monitorização”, disse João Marrano, tentando defender-se das inúmeras acusações de que o projecto foi mal desenhado desde o início. “Quanto é que isto já custou e quanto é que vai custar pagar os erros deste experimentalismo de prancheta?”, quis saber o morador Alberto Rosmaninho. “Isto em termos de planeamento é uma vergonha completa. Nem no PowerPoint fica bem.”

O arquitecto não soube responder.