Banco de Portugal prevê crescimento de 2,5%, o maior em 17 anos
Banco de Portugal vê as exportações a crescerem quase 10% este ano e o investimento quase 9%. E diz que o actual crescimento, não só representa um regresso à convergência com a Europa, como parece ser sustentável.
A convergência da economia portuguesa com a europeia, interrompida desde o ano 2000, está de volta, anunciou esta quarta-feira o Banco de Portugal num relatório em que reviu em forte alta as previsões de crescimento para este ano e os próximos, com as exportações e o investimento a dispararem este ano.
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A convergência da economia portuguesa com a europeia, interrompida desde o ano 2000, está de volta, anunciou esta quarta-feira o Banco de Portugal num relatório em que reviu em forte alta as previsões de crescimento para este ano e os próximos, com as exportações e o investimento a dispararem este ano.
No boletim económico agora publicado, o Banco de Portugal passa a estimar para este ano uma variação do PIB português de 2,5%, um valor que fica bem acima dos 1,8% que previa há três meses e que foram também o valor apresentado pelo Governo no Programa de Estabilidade entregue em Bruxelas.
A autoridade monetária vê agora todas as componentes do PIB a terem um desempenho mais favorável do que o previsto, algo que se reflecte também em resultados mais favoráveis no mercado de trabalho.
E os resultados mais impressionantes surgem nas exportações e no investimento. Depois de crescerem 4,4% em 2016, o Banco de Portugal projecta agora que as exportações disparem 9,6% este ano. Há três meses, o resultado esperado não passava dos 6%.
O relatório diz que esta explosão nas exportações se deve à “aceleração da procura externa e a ganhos adicionais significativos de quota de mercado”, salientando que estes resultados são generalizados a todos os tipos de bens e serviços, mantendo-se “um elevado dinamismo no turismo”.
As importações também crescem de forma bastante mais forte do que o previsto (9,5% em vez de 7,3%), mas mesmo assim menos que as exportações em 2017, o que permite que Portugal continue a registar excedentes face ao exterior.
Para o investimento, que em 2016 tinha desiludido com uma contracção de 0,1%, o Banco de Portugal está confiante num forte arranque este ano. A previsão é de um crescimento de 8,8%, bastante mais do que os 6,8% previstos em Março. O relatório explica que esta previsão resulta da aceleração do investimento em construção e, em menor grau, do investimento em máquinas e equipamentos. A recuperação do investimento público ajuda.
No caso do consumo privado, depois de um crescimento de 2,3% em 2016, o Banco de Portugal deixou de prever um abrandamento para 2,1% passando a antecipar uma estabilização do indicador, o que também contribui para uma evolução mais positiva do PIB.
Tudo isto tem efeitos positivos no mercado de trabalho, com o Banco de Portugal a prever que a taxa de desemprego caia para 9,4% já este ano, em vez dos 9,9% antes previstos.
Porquê uma revisão tão acentuada no espaço de três meses? Basicamente porque os números que já foram conhecidos, nomeadamente os do primeiro trimestre, foram muito melhores do que aquilo que o Banco de Portugal estava à espera. No relatório é dito que “o conjunto de informação recente (…) revelou-se sistematicamente mais favorável que o anteriormente projectado”.
Além disso, a revisão em alta das projecções do Banco de Portugal não se ficou por 2017. É verdade que o banco central continua a apontar para um abrandamento da actividade económica para os dois anos seguintes, mas agora, em vez do crescimento de 1,7% antes previsto para 2018, projecta uma variação do PIB de 2%. Para 2019, a revisão da previsão foi de 1,6% para 1,8%.
Também aqui, é a expectativa de um desempenho mais forte do investimento, principalmente o empresarial, e das exportações que explica o maior optimistmo, a par de um abrandamento mais moderado no consumo privado.
E no que diz respeito ao mercado de trabalho, antecipa-se que a taxa de desemprego caia para 7% em 2019.
Regresso da convergência
Com base nestas previsões, o Banco de Portugal faz uma das análises mais favoráveis dos últimos tempos à evolução da economia a médio prazo, anunciando o fim do longo período, desde 2000, em que a economia portuguesa perdeu terreno face ao resto da zona euro. E mais, não só Portugal será capaz de crescer mais do que os seus parceiros da zona euro nos próximos três anos, como a forma como o irá fazer aparenta ser sustentável.
O boletim económico estima que “o ritmo de crescimento ao longo de todo o horizonte deverá ser superior ao da área do euro, tendo em conta as projeções recentemente divulgadas pelo BCE, traduzindo-se num reinício do processo de convergência real, interrompido desde o início dos anos 2000”.
E, tendo em conta que este crescimento se faz com base num crescimento forte das exportações e do investimento, com alguma moderação no consumo e excedentes externos confortáveis, elogia o padrão agora seguido pela economia portuguesa. “Este perfil é consistente com a manutenção de equilíbrios macroeconómicos fundamentais, com destaque para o excedente externo da economia portuguesa. Assim, o padrão de crescimento económico projectado apresenta características consistentes com uma recuperação sustentada da economia portuguesa”, diz o Banco de Portugal.
Também há, é claro, avisos, principalmente para o longo prazo. O relatório diz que “persistem importantes constrangimentos ao crescimento de longo prazo, incluindo o elevado nível de endividamento dos vários sectores da economia, o baixo nível de capital produtivo por trabalhador, uma evolução demográfica desfavorável e um elevado nível de desemprego de longa duração.
No que diz respeito ao orçamento, o banco diz que “não é possível identificar desvios relevantes face ao orçamentado” nos primeiros 4 meses do ano, mas avisa que a previsão de redução do défice estrutural apresentada pelo Governo é inferior à exigida pelas regras orçamentais europeias. “A importância de prosseguir uma política orçamental consistente com o cumprimento das regras definidas no âmbito europeu é inequívoca”, defende o Banco de Portugal.