José Eduardo Agualusa é o vencedor do International DUBLIN Literary Award

O romance Teoria Geral do Esquecimento valeu ao escritor angolano o maior prémio literário para uma obra de ficção publicada em inglês.

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DANIEL ROCHA

“É uma alegria grande”, diz José Eduardo Agualusa ao PÚBLICO, a partir de Dublin, pouco depois de ser conhecida a notícia de que é o primeiro autor de língua portuguesa a vencer um dos mais prestigiados prémios literários mundiais, o International DUBLIN Literary Award, atribuído à edição em inglês do romance Teoria Geral do Esquecimento (D. Quixote, 2012). "Uma alegria por haver muito bons livros em competição, porque a atribuição é decidida pelas bibliotecas públicas, o que me parece excelente, e porque é uma forma de dar visibilidade a culturas periféricas, já que as obras escolhidas não têm de ser escritas originalmente em língua inglesa, apenas publicadas em inglês”, concretizou o escritor.

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“É uma alegria grande”, diz José Eduardo Agualusa ao PÚBLICO, a partir de Dublin, pouco depois de ser conhecida a notícia de que é o primeiro autor de língua portuguesa a vencer um dos mais prestigiados prémios literários mundiais, o International DUBLIN Literary Award, atribuído à edição em inglês do romance Teoria Geral do Esquecimento (D. Quixote, 2012). "Uma alegria por haver muito bons livros em competição, porque a atribuição é decidida pelas bibliotecas públicas, o que me parece excelente, e porque é uma forma de dar visibilidade a culturas periféricas, já que as obras escolhidas não têm de ser escritas originalmente em língua inglesa, apenas publicadas em inglês”, concretizou o escritor.

Criado em 1996, este é, em termos pecuniários, o maior prémio literário para uma obra de ficção publicada em língua inglesa. São cem mil euros, montante a dividir entre autor e tradutor (75 mil para o primeiro, 25 mil para o segundo) quando se trata de uma obra originalmente escrita noutro idioma. É o caso de Teoria Geral do Esquecimento – A General Theory of Oblivion, na tradução de Daniel Hahn. “Este é também um prémio para a tradução, e essa distinção pode ser uma forma de haver mais literatura traduzida nos países anglo-saxónicos”, refere o escritor, que trabalha com Hahn desde a tradução de Nação Crioula (D. Quixote, 1997), o seu sexto romance. “Ele começou a traduzir com os meus livros”, acrescenta o escritor angolano, sublinhando o trabalho autoral que qualquer tradução implica, e o acerto de Hahn na criação de “uma voz inglesa” para a sua obra. “Ele criou uma voz própria a partir da minha. Tive uma sorte imensa em ter o Daniel”, confessa, notando que será ele a traduzir o seu mais recente romance, A Sociedade dos Sonhadores Involuntários, que acaba de sair em português pela Quetzal. Daniel Hahn assegurara já anteriormente a passagem a inglês de outras obras do autor. O Livro dos CamaleõesAs Mulheres do Meu Pai, Estação das Chuvas e o já referido Nação Crioula.

É a primeira vez que o prémio, criado em 1996, elege um livro originalmente escrito em português, e a nona vez que distingue uma tradução. A General Theory of Oblivion concorria com obras do escritor turco (e Nobel da Literatura) Orhan Pamuk (A Strangeness in My Mind, ou Uma Estranheza em Mim, na versão portuguesa), do moçambicano Mia Couto (A Confissão da Leoa, romance originalmente publicado pela Caminho em 2012 e traduzido para inglês por David Brookshaw) ou da irlandesa Anne Enright (Man Booker Prize em 2007), com The Green Road. Dos dez finalistas – que incluíam ainda o vietnamita Viet Thanhn Nguyen (vencedor do Pulitzer em 2016 com The Sympathizer, que a Elsinore acaba de publicar em Portugal com o título O Simpatizante), o austríaco Robert Seethaler (A Whole Life), o norueguês Kim Leine (The Prophets of Eternal Fjord), a mexicana Valeria Luiselli (The Story of My Teeth), a nigeriana Chinelo Okparanta (Under the Udala Trees) e Hanya Yanagihara (A Little Life) –, Agualusa diz ter lido "apenas o livro do Mia”, de quem é amigo e a quem ligou imediatamente após a notícia da atribuição do prémio: “Se pudesse, gostava de ter ganhado com ele."

Um romance do medo

Teoria Geral do Esquecimento acompanha o destino de Ludovica Fernandes Mano, uma portuguesa que permanece em Angola após a independência do país, barricando-se no seu apartamento por 30 anos, ao longo dos quais escreve a sua história nas paredes de casa. Agualusa ocupou-se do romance, que inicialmente esteve para ser um argumento cinematográfico, durante dez anos.

“Foi um romance que teve um início de vida muito difícil em Portugal, mas que depois recuperou e ganhou visibilidade internacional”, continua Agualusa, que no ano passado foi finalista do Man Booker International com o mesmo romance. “Fala do medo, do medo do outro. E talvez seja mais actual hoje do que quando foi escrito”, salienta, referindo o contexto global de medo, que entretanto deixou de estar circunscrito a alguns países ou territórios e se generalizou. “Há circunstâncias que fazem com que uma obra seja mais ou menos falada, recuperada, lida”, acrescenta. Este romance, reconhece, teve um “percurso imprevisível” que o levou a ser traduzido em 16 línguas: “Os livros são entidades complexas. Nunca sabemos como vai ser o seu comportamento. Essa é também a coisa boa dos livros.”  

O júri do prémio destacou por sua vez a habilidade de Agualusa para transmitir aos seus leitores "compreensão e esperança" a partir de histórias angolanas que a sua escrita torna universais: "Embora Teoria Geral do Esquecimento se detenha na fome, na tortura e no assassinato, girando em torno da nossa capacidade de esquecer, o seu tom e a sua mensagem têm a ver com o amor. É o amor que redime Ludo [a protagonista, Ludovica Fernandes Mano] e os outros, é o amor pela paisagem de Luanda que ancora a narrativa em detalhes idiossincráticos [...]. Ninguém está verdadeiramente sozinho na colmeia luandense de José Eduardo Agualusa, e também as suas personagens nos fazem sentir profundamente ligados ao mundo."

O romance de Agualusa foi indicado para o International DUBLIN Literary Award pela Biblioteca Pública Municipal do Porto, pela Biblioteca Municipal de Oeiras, pela Biblioteca Demonstrativa Maria da Conceição Moreira Salles, de Brasília, e pela Gradska Knjiznica, de Rijeka, na Croácia, que destacaram a forma como o romance equilibra "elementos-chave da história angolana recente com as vidas de gente comum", construindo um "caleidoscópio" que retrata magistralmente Angola e Luanda com toda a sua violência, todo o seu misticismo e toda a sua loucura, mas também com todo o seu calor".

Natural do Huambo, onde nasceu em 1960, José Eduardo Agualusa junta, assim, o seu nome a uma lista de premiados que inclui Javier Marías, Michel Houellebecq, Colm Tóibin, Colum McCann, Herta Müller e o mesmo Orhan Pamuk que também estava na corrida este ano.  

O International DUBLIN Literary Award é inteiramente financiado pela cidade, com o objectivo de impulsionar a criação literária de excelência em todo o mundo.