Não havia registo de trovoadas no sábado

Site do IPMA apresentou no domingo dados contraditórios com os que foram disponibilizados agora pela direcção do instituto.

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A página de internet do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) mantém um registo das descargas eléctricas no território nacional com recuo até ao dia anterior. No domingo, não existia nenhuma informação sobre descargas eléctricas na área da localidade de Escalos Fundeiros, onde a Polícia Judiciária afirma ter encontrado a árvore que recebeu o raio que terá dado origem ao incêndio.

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A página de internet do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) mantém um registo das descargas eléctricas no território nacional com recuo até ao dia anterior. No domingo, não existia nenhuma informação sobre descargas eléctricas na área da localidade de Escalos Fundeiros, onde a Polícia Judiciária afirma ter encontrado a árvore que recebeu o raio que terá dado origem ao incêndio.

No domingo, em conferência de imprensa, o presidente do IPMA Jorge Miranda, não avançou uma razão para a ausência de registos. Ao contrário, garantiu que existem registos na região de Escalos Fundeiros no início da tarde de sábado, mas não consegue explicar o porquê de os registos publicamente disponíveis não terem mostrado ocorrências. “Temos uma rede de descargas eléctricas, a rede recebe e determina localizações na atmosfera. Esses dados são do domínio público, são provisórios e depois ficam no domínio público.”

Quando confrontado com o facto de que o site não identificou qualquer descarga, o presidente do IPMA limitou-se a dizer que “não é verdade” que não haja registos. Já os serviços do instituto admitem que há falhas frequentes no serviço, visto que habitualmente o site não interpreta corretamente os dados do algoritmo – e confirmam também que essas falhas ocorreram no sábado. No entanto, isso não explica duas informações: que, noutros sites que procedem ao mesmo tipo de registos, também não haja qualquer referência a descargas eléctricas; e que, a partir da hora de almoço de domingo, as informações do IPMA relativamente a sábado tenham deixado de estar disponíveis.

As imagens que publicamos demonstram a incongruência entre os diversos dados disponíveis: na primeira imagem constam os dados recolhidos no site do IPMA na manhã de domingo, onde apenas constam descargas eléctricas para os lados da Sertã; Na segunda imagem, o site do IPMA que deixou de ter os dados disponíveis a partir da hora de almoço de domingo; Na terceira imgem estão os dados recolhidos no site LightningMaps sobre descargas na zona de Pedrógão, que é menos detalhado e confirma os dados originais do IPMA; A quarta imagem é a que foi  disponibilizada pelo presidente do IPMA na conferência de imprensa de ontem à tarde, onde prometeu que os novos dados seriam disponibilizados depois de verificados e validados.

Vários habitantes da localidade de Escalos Fundeiros, citados numa reportagem do Expresso, negaram que ao início da tarde de sábado tenham existido quaisquer trovoadas secas na região - confirmando, como os mapas originais do IPMA, que as únicas trovoadas "estavam longe, para os lados da Sertã". O alerta sobre estas discrepâncias tinha sido avançado pelo autor Pedro Almeida Vieira, que enquanto jornalista produziu várias reportagens sobre os incêndios em Portugal - e sobre o qual escreveu o livro O Vermelho e o Negro (é dele a imagem do site LightingMaps apresentada em cima).

Em paralelo, já no dia 13 o IPMA alertava que “muitos locais das regiões do interior norte e centro” deveriam “entrar em onda de calor no dia 15”. E ontem a mesma entidade concluiu que o “os efeitos dramáticos observados [em Pedrógão Grande] foram muito potenciados pela conjugação desfavorável de descargas eléctricas na ausência de chuva, temperatura muito elevada, baixa humidade, ventos locais induzidos pela instabilidade e pelo incêndio, e reduzida água no solo”. A temperatura na região no dia 17 era de 33,3.ºC e a humidade de 20%, especificam.