Sete perguntas que vamos repetir

Não é por memória às vítimas que o jornalismo deve fazer silêncio - é por honrar a sua memória que não se pode calar.

O incêndio ainda não acabou, há muitas famílias a apoiar. “First things first”, dizem o Presidente e o Governo. Para nós, jornalistas, não pode haver uma trégua nos porquês. E porque não depois? — perguntará o leitor. Porque a natureza da política é a de fugir às perguntas mais difíceis depois de as feridas sararem. E porque nos cabe garantir que uma tragédia como a de Pedrógão é o “basta” para uma discussão que já vai longa. Também nós temos culpas: por norma, largamos o debate ao segundo dia. Não podemos mais.

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O incêndio ainda não acabou, há muitas famílias a apoiar. “First things first”, dizem o Presidente e o Governo. Para nós, jornalistas, não pode haver uma trégua nos porquês. E porque não depois? — perguntará o leitor. Porque a natureza da política é a de fugir às perguntas mais difíceis depois de as feridas sararem. E porque nos cabe garantir que uma tragédia como a de Pedrógão é o “basta” para uma discussão que já vai longa. Também nós temos culpas: por norma, largamos o debate ao segundo dia. Não podemos mais.

O que se segue aqui são as primeiras dúvidas para esse longo debate, que não podemos largar.

  1. Na sexta-feira, a Protecção Civil lançou um alerta público para as “condições atmosféricas” que viriam no fim-de-semana, deixando claro que o risco de incêndios aumentou muito. Os meios foram reforçados? Onde?
  2. Quando há alertas destes, quando sabemos que temos picos de calor em épocas destas, ainda faz sentido esperar pelo dia 1 de Julho para activar a dita Fase Charlie e ter todos os meios no terreno?
  3. Falando de Pedrógão: o que é que aconteceu realmente no terreno? A coordenação existiu? Quem deu a ordem para fechar estradas? Quando foi accionado o plano de emergência?  
  4. E no plano do combate: porque é que os Grupos de Análise e Uso do Fogo foram desactivados, quando davam provas de ajudar o combate dos bombeiros no terreno? Não chegou a altura de construir uma estrutura de coordenação de prevenção, planeamento e combate, como foi proposto há dez anos? Ou porque é que não se profissionaliza os bombeiros, encarregando-os de fazer prevenção no Inverno e combate no Verão, em terrenos que, desta forma, reconhecem?
  5. Porque é que o dinheiro do Fundo Florestal Permanente, que deveria ser canalizado para a gestão florestal, é também distribuído pelas autarquias (que já cobram uma taxa de protecção civil) e pela GNR?
  6. Quanto ao planeamento, alguma vez se equacionou recompensar quem não opta por espécies de crescimento rápido pelos serviços ambientais que presta à sociedade (água, ar e solo)?
  7. Já agora, face ao que aconteceu, o Governo reforçará os meios de prevenção e combate no Verão que se segue? Este Governo aguenta uma repetição deste inferno?

Haverá, caro leitor, muitos mais porquês a que teremos de tentar responder nos próximos tempos, porventura mais certeiros e apropriados. O que nos propomos, aqui no PÚBLICO, é a procurar esses também. Não é por memória às vítimas que o jornalismo deve fazer silêncio — é por honrar a sua memória que não se pode calar.