A Coreia do Norte libertou Otto Warmbier para morrer em casa
O estudante norte-americano de 22 anos tinha sido condenado a 15 anos de trabalhos forçados. Foi libertado na semana passada em estado vegetativo. Morreu esta terça-feira e em Washington acusa-se Pyongyang de homicídio.
Otto Warmbier, um estudante norte-americano de 22 anos, chegou na semana passada aos EUA em estado vegetativo, e com graves lesões cerebrais, depois de ter passado 17 meses preso na Coreia do Norte, onde foi condenado a 15 anos de trabalhos forçados. Morreu esta terça-feira e não se sabe porquê.
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Otto Warmbier, um estudante norte-americano de 22 anos, chegou na semana passada aos EUA em estado vegetativo, e com graves lesões cerebrais, depois de ter passado 17 meses preso na Coreia do Norte, onde foi condenado a 15 anos de trabalhos forçados. Morreu esta terça-feira e não se sabe porquê.
O neurologista José Ferro explica ao PÚBLICO que existem duas razões principais para lesões deste tipo: “Uma é a paragem cardiorrespiratória ou paragem respiratória, que leva a uma falta de oxigenação que vai para o cérebro. E a outra são traumatismos cranianos muito graves”. No entanto, não existiam sinais de lesões físicas ou de agressões no caso de Warmbier.
As autoridades norte-coreanas explicaram o estado de saúde do estudante com um caso de botulismo menos de um mês depois do julgamento. Ou seja, Otto estaria inconsciente há mais de um ano. “O destino de Otto reforça a determinação da minha Administração em prevenir tais tragédias de pessoas inocentes às mãos de regimes que não respeitam o estado de Direito ou a decência humana básica”, afirmou Donald Trump em comunicado, num sinal de que Washington não se deixa convencer pelas justificações de Pyongyang. Os pais afirmaram também que Warmbier recebeu um “horrível e tortuoso tratamento” durante o período de encarceramento.
Os médicos do centro clínico da Universidade de Cincinnati, que recebeu o jovem quando este regressou na semana passada, também torcem o nariz às explicações norte-coreanas e garantem que não foram encontrados sinais de botulismo. Sem se conhecerem, por isso, as causas que levaram à morte de Warmbier, os médicos dizem que este apresentava extensas perdas de tecido cerebral em todas as zonas do cérebro.
Em relação ao botulismo, José Ferro admite que esta perigosa e por vezes fatal intoxicação alimentar pode “levar a uma paralisia respiratória e à falta de oxigenação”. Mas, “em princípio, o botulismo é tratável e muito pouco frequente”. Também é pouco plausível que tenha sido o trabalho forçado a que Otto terá sido submetido a causa das lesões. Isto porque, disse ao PÚBLICO, se o jovem fosse exposto a um esforço extremo que lhe provocasse uma paragem cardiorrespiratória, "tinha morrido” e não teria permanecido em estado vegetativo mais de um ano.
Com a morte do jovem de 22 anos ainda envolta em mistério, as palavras mais fortes surgiram do senador republicano e antigo candidato presidencial, John McCain: “Triste pela morte de Otto Warmbier, torturado e assassinado pela Coreia do Norte – EUA não deveriam tolerar uma acção tão hostil”, afirmou no Twitter.
A verdade é que esta situação, e a avaliar pela reacção que chega de Washington, torna a missão do novo Presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, mais difícil. Isto porque defende um maior diálogo com os vizinhos do Norte, apelando a que os EUA façam o mesmo. Moon condenou agora a Coreia do Norte pelo tratamento a Otto considerando-o “muito deplorável”, e prometeu pressionar Pyongyang para libertar os três prisioneiros norte-americanos e os seis sul-coreanos que lá continuam.
Por tudo isto, Trump pode ser levado a actuar de forma mais dura em relação a Pyongyang. Quanto à China, é pouco provável que peça contas à Coreia do Norte por um caso de direitos humanos.
Para esta semana está prevista a visita de membros do Governo de Pequim a Washington, o que deve ser aproveitado pela Administração Trump para pressionar o principal aliado da Coreia do Norte a agir. Além disso, e segundo o Washington Post, a Casa Branca está a pensar proibir as viagens de norte-americanos a território norte-coreano.
O nível de tensão entre os EUA e a Coreia do Norte tem atingido picos que há muito não eram vistos. A morte do estudante de 22 anos pode abrir mais um capítulo de hostilidade entre as duas potências que, tecnicamente, ainda estão em guerra –a guerra da Coreia (1950 – 1953) terminou com um armistício mas nunca foi assinado um tratado de paz oficial.