Aplicação ajuda cegos a andar em Viana do Castelo sem perigo
Cegos e amblíopes de Viana do Castelo estão usar a aplicação Incluso no telemóvel que os ajuda a fazer percursos pedestres na cidade sem perigo e a utilizar os autocarros urbanos com mais autonomia. Mas falta financiamento para abranger todos os associados da ACAPO.
Graças à aplicação Incluso que Francisco Silva utiliza no telemóvel, que já pode andar sozinho, durante a noite e apoiado na sua bengala, no centro de Viana do Castelo, sem receio de colidir com uma boca-de-incêndio ou outro obstáculo por ser amblíope e ter dificuldade de visão. Ou andar de autocarro urbano “sem estar dependente dos outros para saber em que sítio está e onde tem de sair”, diz satisfeito por ter mais autonomia no seu quotidiano e ir onde quer “de forma mais célere e eficaz”.
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Graças à aplicação Incluso que Francisco Silva utiliza no telemóvel, que já pode andar sozinho, durante a noite e apoiado na sua bengala, no centro de Viana do Castelo, sem receio de colidir com uma boca-de-incêndio ou outro obstáculo por ser amblíope e ter dificuldade de visão. Ou andar de autocarro urbano “sem estar dependente dos outros para saber em que sítio está e onde tem de sair”, diz satisfeito por ter mais autonomia no seu quotidiano e ir onde quer “de forma mais célere e eficaz”.
Mas ainda nem todos os associados da delegação da Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO) de Viana do Castelo, que Francisco preside, podem dizer o mesmo. Apenas uma dezena deles está a beneficiar do projecto Incluso, que funciona desde Março e que foi desenvolvido em parceria com a Escola Superior de Tecnologia e Gestão do Instituto Politécnico de Viana do Castelo (ESTG-IPVC). Trata-se de uma aplicação móvel para os ajudar a realizar percursos pedestres no centro histórico e a utilizar os autocarros que circulam dentro da cidade sem precisarem de ajuda de outras pessoas.
Por estes dias, Francisco Silva e Sara Paiva, coordenadora do projecto no IPVC, estão a estudar formas de angariarem financiamento europeu para adquirirem equipamentos para os restantes associados. “O problema é que os smartphones, neste caso os Androids - o programa para os iPhones ainda está em desenvolvimento - são bastante caros e nós recebemos pequenas reformas que mal dão para tudo”, lamenta Francisco. “Mas é muito importante que todos tenham uma vida com melhor qualidade e mais autónoma com a ajuda desta app móvel”, diz o presidente da delegação da ACAPO que sabe bem o quanto estas duas soluções o têm ajudado e o podem fazer a mais pessoas amblíopes, como ele, e ainda a invisuais.
“Já não estou sempre a perguntar onde estou aos outros passageiros do autocarro, como fazia antes. Simplesmente ouço a voz da aplicação que me vai orientando sobre o percurso e me avisa quando tenho de sair e, nessa altura, peço ao motorista para abrir a porta do autocarro”, conta. O programa indica-lhe as ruas e os locais de referência para se orientar, como por exemplo “aproxima-se da PSP” ou “está a cem metros das Finanças e à beira do Gil Eanes”. Fica assim ultrapassada uma “grande dificuldade que os associados da ACAPO de Viana de Castelo sentiam e que transmitiram” à coordenadora do projecto no IPVC aquando do primeiro contacto. Desde a primeira hora, Francisco e dois colegas invisuais da delegação partilharam com a equipa os problemas que vivem para se deslocarem a locais como a ACAPO, as Finanças ou a biblioteca. Chegaram mesmo a experimentar o projecto no terreno, conforme ia sendo desenvolvido, e também alguns alunos do IPVC colocaram uma venda para se porem na pele dos utilizadores para melhor poderem desenvolver a app.
Além da aplicação para o autocarro, muitos dos associados, que chegam à cidade de transportes públicos vindos da periferia, também precisavam de outra solução que os ajudasse a deslocarem-se a pé dentro da cidade. “Moro na periferia e quando chego cá de autocarro, recorro ao programa pedestre para me orientar dentro do centro histórico”, conta Francisco. “Evita que colida com certos obstáculos, como caixas de electricidade e de telecomunicações ou uma boca-de-incêndio, assim como avisa que me aproximo de uma passadeira e indica o melhor caminho a seguir sem problemas.” A coordenadora do projecto explica que houve a preocupação de evitar estes obstáculos perigosos durante o percurso. Esta solução pedestre permite deslocarem-se entre seis pontos de referência dentro da cidade: o interface - onde param as camionetas -, a sede da ACAPO, a Biblioteca Municipal, as Finanças, a Câmara Municipal e o Centro de Saúde. “Assim vamos a pé sozinhos onde precisamos e de forma mais célere e eficaz”, acrescenta Francisco.
Para ter acesso ao programa, que, por enquanto só funciona nos Androids, basta ir à Play Store e descarregar a aplicação gratuita. Uma vez num local da cidade, o utilizador liga a app que recebe as coordenadas onde se encontra e o orienta.
O próximo passo deste projecto é alargar a aplicação, que é usada dentro dos autocarros, aos transportes públicos que fazem o percurso entre a cidade e a periferia, onde moram vários sócios da delegação da ACAPO e que acham que seria uma mais-valia. Sara Paiva também gostaria de “alargar o projecto ao resto do país para que mais pessoas beneficiem, porque o modelo já está construído e pode ser adaptado a cada cidade”, diz a também professora de informática no IPVC.
A equipa está a estudar formas de financiamento europeu para melhorar a cobertura do GPS em locais onde não funciona bem, como entre edifícios altos e estreitos que bloqueiam o sinal. “A solução poderá passar pela utilização dos sensores do telemóvel em vez do GPS”, diz Sara Paiva, que adianta que serão acrescentadas mais funcionalidades à aplicação, os horários dos autocarros e quanto tempo demoram a chegar e se estão com atraso ou não.
Este programa Incluso surge no âmbito do projecto âncora “Escola Inclusiva”, que nasceu em 2016, com trabalhos para ajudar a comunidade.