Imergir no Ulisses sem stress
O jogo de realidade virtual Joycestick nasceu nas aulas do professor Joseph Nugent, no Boston College. É uma nova forma de se contar uma história antiga.
“Não leve Ulisses tão a sério, é só um livro”. Este era o conselho que o escritor e repórter brasileiro Sérgio Rodrigues, autor de O Drible (Companhia das Letras) e vencedor do Grande Prémio Portugal Telecom 2014, dava aos seus leitores numa das suas crónicas do Todo Prosa, escrita em 2012, que se intitulava “Chegou a hora de ler Ulisses? Talvez, mas sem estresse”. A crónica era dedicada principalmente àqueles “que contemplam a obra-prima de James Joyce a certa distância, com um misto de fascínio e pavor, sem jamais se animar a encarar suas muitas centenas de páginas”.
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“Não leve Ulisses tão a sério, é só um livro”. Este era o conselho que o escritor e repórter brasileiro Sérgio Rodrigues, autor de O Drible (Companhia das Letras) e vencedor do Grande Prémio Portugal Telecom 2014, dava aos seus leitores numa das suas crónicas do Todo Prosa, escrita em 2012, que se intitulava “Chegou a hora de ler Ulisses? Talvez, mas sem estresse”. A crónica era dedicada principalmente àqueles “que contemplam a obra-prima de James Joyce a certa distância, com um misto de fascínio e pavor, sem jamais se animar a encarar suas muitas centenas de páginas”.
E que tal resolver esse eterno problema imergindo no Ulisses em 3D? Foi essa a ideia que levou ao projecto Joycestick, um jogo de realidade virtual que parte do romance de James Joyce (1882- 1941), criado por uma vintena de alunos do Boston College e apresentado entre quarta e sexta-feira passada, dia 16 de Junho, no Bloomsday Festival, em Dublin, na Irlanda.
Durante estes dias foi possível a quem passou pelo James Joyce Centre, em Dublin, experimentar o Joycestick, usando óculos para realidade virtual e auscultadores, era uma oportunidade para se ver “Ulisses ganhar vida diante dos nossos olhos”, como escreviam no programa do evento.
O jogo, que tem por subtítulo The Story of Ulysses in 100 Objects, permite que se vá navegando por diversas cenas do livro reconstruídas em 3D e se vá acumulando pontos e prémios à medida que se interage com os tais 100 objectos recriados a partir de oito cenas do livro e que podem ser tocados pelo leitor/jogador virtualmente, ao mesmo tempo que ouvem excertos do livro e outros sons relacionados com a narrativa.
Joycestick nasceu nas aulas do professor Joseph Nugent, do departamento de Inglês e Estudos Irlandeses daquela universidade - estar a acontecer numa universidade americana torna tudo ainda mais interessante porque este livro esteve proibido até 1933 nos Estados Unidos - e o projecto juntou alunos de várias áreas, da literatura à informática, do design à música. Lançaram-se nesta aventura porque queriam que quem entrasse no jogo se sentisse na Dublin do início do século XX, que se divertisse mas também que aprendesse pois o jogo é fiel à história que decorre durante um dia, 16 de Junho de 1904, em Dublin e aos locais descritos pelo autor irlandês como a cozinha onde se confeccionam os famosos rins ou a torre Martello. Uma nova forma de se contar uma história antiga. Das aulas e do trabalho deste professor irlandês com os seus alunos já nasceu uma aplicação para iPhone, a JoyceWays (um guia para a Dublin de Joyce), um ebook, o Digital Dubliners, e o site Dubliners Bookshelf.
Quem quer explorar o livro, que em Portugal está disponível traduzido por Jorge Vaz de Carvalho na Relógio D’Água, no original pode optar pela aplicação para iPad, James Joyce’s Ulysses: A Guide, que a Naxos criou já há alguns anos (é cara, custa cerca de 8 euros na App Store) e traz o ebook com várias anotações que ajudam a compreender a leitura, a versão audiolivro, textos explicativos, excertos das músicas mencionadas no livro além de gravações do próprio Joyce.