Médicos de família querem listas com menos doentes

Há mais de 858 mil pessoas sem médico de família atribuído e 658 mil são da região de Lisboa e Vale do Tejo.

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Actualmente, cada médico de família tem em média 1900 utentes DR

Os médicos de família querem ter listas de utentes mais reduzidas e adequadas aos diferentes contextos em que trabalham. No limite, poderá haver listas com apenas 850 pessoas por médico, em locais com maiores dificuldades de acesso e em que os doentes são mais complexos, ou seja, menos de metade da média actual. No máximo, as listas terão 1750 pessoas por profissional. É esta a base da proposta que a Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF) vai apresentar aos deputados da Comissão Parlamentar de Saúde e que este sábado foi divulgada, em Lisboa, na Ordem dos Médicos.

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Os médicos de família querem ter listas de utentes mais reduzidas e adequadas aos diferentes contextos em que trabalham. No limite, poderá haver listas com apenas 850 pessoas por médico, em locais com maiores dificuldades de acesso e em que os doentes são mais complexos, ou seja, menos de metade da média actual. No máximo, as listas terão 1750 pessoas por profissional. É esta a base da proposta que a Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF) vai apresentar aos deputados da Comissão Parlamentar de Saúde e que este sábado foi divulgada, em Lisboa, na Ordem dos Médicos.

Numa altura em que, segundo dados da associação, ainda há mais de 858 mil pessoas sem médico de família em Portugal, um problema que se faz sentir sobretudo nas regiões de Lisboa e Vale do Tejo (quase 658 mil utentes sem médico assistente atribuído nos centros de saúde no final de Maio), a APMGF está empenhada em mudar a dimensão das listas e o paradigma da assistência prestada.

Para isso, serão necessários mais 600 profissionais (hoje há cerca de 5500 médicos de família em actividade), mas a ideia é que esta mudança aconteça progressivamente ao longo dos próximos anos.

Com as novas “unidades ponderadas e ajustadas”, uma métrica que classifica os contextos de exercício clínico em diferentes categorias de complexidade, acreditam poder melhorar a acessibilidade das populações e constituir unidades de saúde familiar (USF) em regiões onde, no cenário actual, tal não é possível.

“Queremos que seja atribuído um valor ao contexto do exercício, levando em conta, por exemplo, as distâncias e os doentes mais complexos”, explica Rui Nogueira, presidente da associação.

O objectivo, frisa, “é servir melhor e ter mais tempo para os doentes” e também criar condições para ter unidades com “alta resolutividade” que permitam “tirar alguns doentes dos serviços de urgência”.

No Alentejo, só 2,6% da população não tem médico de família

Actualmente, cada médico de família tem em média 1900 utentes, um número que pode oscilar tendo em conta a idade dos doentes (os idosos e as crianças pesam mais). Mas que aumentou na altura da crise económica (e porque havia uma grande falta destes especialistas). 

O que se propõe com a nova métrica é criar seis categorias, levando em conta não só a complexidade mas também a dificuldade de acesso da população, por exemplo, a hospitais.

Faz sentido avançar com esta mudança numa altura em que ainda há tanta população a descoberto? Rui Nogueira acredita que sim, uma vez que se está agora a assistir a uma “renovação geracional”, com a entrada na profissão de um grande número de jovens especialistas em medicina geral e familiar (há cerca de dois mil internos em formação, o que permite compensar o novo pico de aposentações previsto para os próximos anos).

“Não estamos interessados em rupturas, queremos fazer isto de uma forma progressiva”, garante, sublinhando que a ideia é avançar com experiências-piloto, eventualmente no Alentejo, onde actualmente só 2,6% da população não tem médico de família.

Além da Comissão Parlamentar de Saúde, os responsáveis querem fazer “um périplo” pelas administrações regionais de saúde para “perceber qual é a viabilidade de implementação” de experiências no terreno.