FC Porto-Benfica: o que tem acontecido no caso dos emails
Uma cronologia sobre o caso que marca a actualidade no futebol português.
6 de Junho
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
6 de Junho
Depois de outras ocasiões em que recorreu a emails de outros para falar de cartilhas e claques, Francisco J. Marques, director de comunicação do FC Porto, revelou no Porto Canal emails que terão sido trocados entre Adão Mendes, antigo árbitro de da Associação de Futebol de Braga, e Pedro Guerra, director de conteúdos da Benfica TV e comentador da TVI, e que segundo aquele responsável portista configuram a existência de uma alegado “esquema de corrupção [na arbitragem] para beneficiar o Benfica”.
O antigo jornalista começa por citar um email de Adão Mendes para Pedro Guerra de 28 de Janeiro de 2014 em que se fala de padres como árbitros e de missas como jogos do Benfica. “Vamos ter os padres que escolhemos e ordenamos nas missas que rezamos, temos é de rezar e cantar bem”, diz o email citado por Francisco J. Marques, em que aparece citado um “primeiro-ministro” que entende ser Luís Filipe Vieira, presidente do Benfica. Num outro email trocado entre Adão Mendes e Pedro Guerra, o director da comunicação portista cita um excerto em que são referidos os nomes de oito árbitros (Jorge Ferreira, Nuno Almeida, Manuel Mota, Vasco Santos, Rui Silva, Hugo Pacheco, Bruno Esteves e Paulo Baptista) que, no seu entender, estão ao serviço do clube “encarnado”.
7 de Junho
No dia seguinte à revelação dos emails, o Benfica reagiu em comunicado, desmentindo “de forma veemente as falsas e absurdas insinuações do director de comunicação do FC Porto” e revelando a intenção de avançar com um “processo crime por difamação e outros processos que que se justifiquem”. Os “encarnados” consideram ainda que a divulgação dos emails tem por objectivo “desviar as atenções da crise e graves problemas por que passam outras instituições”. No mesmo dia, o jornal Expresso revela que o Ministério Público abriu um processo de inquérito motivado pelos emails trocados entre Adão Mendes e Pedro Guerra. A Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF), por seu lado, anunciou que iria apresentar “queixa das referidas declarações” de Francisco J. Marques.
8 de Junho
O Conselho de Disciplina (CD) da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) anunciou a abertura de um inquérito “tendo por base declarações e notícias relacionadas com denúncias de eventuais actos de corrupção”. Na sua newsletter “Dragões Diário”, o FC Porto voltou ao assunto, acusando o Benfica de ter feito “um envergonhado desmentido em que nada desmente”. No Fórum da TSF, Francisco J. Marques diz que tem mais material para revelar.
9 de Junho
Pedro Guerra reage, pela primeira vez, às declarações de Francisco J. Marques. “O Benfica continua a trabalhar, segue o seu rumo independentemente de toda a boataria”, disse à CMTV.
10 de Junho
A Assembleia Geral do Benfica é o palco escolhido para Luís Filipe Vieira comentar o caso, depois de alguns sócios terem criticado Pedro Guerra. “Não faz sentido falar em corrupção ou no que Pedro Guerra fez. Temos de estar unidos, pois só assim poderemos continuar a ganhar. O Benfica tem de estar acima de tudo”, limitou-se a dizer o líder benfiquista.
11 de Junho
No programa “Prolongamento”, da TVI24, onde é comentador, Pedro Guerra fala com mais detalhe do caso dos emails, referindo-se ao caso como “uma canalhice” e “uma vergonhosa cabala” e assumindo a defesa da arbitragem portuguesa ao classificá-la de “isenta e imparcial”. Sobre a veracidade da troca de emails com Adão Mendes, que admitiu conhecer pessoalmente, Pedro Guerra diz que não se lembra de os ter escrito: “Acho que são falsos. Não fazem sentido as frases. O que me leva a pensar que isso é falso é porque não me lembro da conversa do primeiro-ministro. Estou de consciência tranquila. […] Não tenho memória disso.” No Twitter, Francisco J. Marques reagiu de imediato com ironia: “É mentira. Bem, não me lembro, mas é mentira. E se for verdade é mentira. ‘You know what I mean’.” Também na TVI24, o antigo árbitro Marco Ferreira considera que “os emails dizem que há indícios de algo”.
13 de Junho
Francisco J. Marques continua a fazer as suas revelações de terça à noite no Porto Canal em nome do “interesse público”, desta vez com um novo protagonista, Paulo Gonçalves, assessor jurídico do Benfica. A primeira troca de missivas entre Gonçalves e Adão Mendes apresentada fala de um pedido de Outubro de 2014 do antigo árbitro ao jurista “encarnado” para que interceda a favor do árbitro Manuel Mota devido a uma nota negativa que recebeu num jogo entre Vitória de Guimarães e Marítimo. Num outro email, de Setembro de 2014, Adão Mendes volta a pedir ajuda a Paulo Gonçalves, desta vez por causa de uma avaliação ao seu filho Renato Mendes, que é árbitro da AF Braga, um processo em que seria importante o apoio do Benfica. “A questão é ser o glorioso a apadrinhar a questão. Temos de pôr a carne toda no assador.” Francisco J. Marques refere ainda um email de Junho de 2016 em que Adão Mendes apresenta uma lista de cinco candidatos a árbitros assistentes.
O director de comunicação do FC Porto revela ainda outros emails envolvendo Mário Figueiredo, antigo presidente da Liga Portuguesa de Futebol Profissional, numa troca de mensagens com Luís Filipe Vieira em Abril de 2014, e Nuno Cabral, antigo delegado da Liga. Após estas revelações, o Sporting também entra na polémica, através de Nuno Saraiva, o seu director de comunicação. “Não sei a veracidade dos emails, mas há vários indícios da que apontam para a veracidade dos mesmos”, diz Saraiva, que pede ainda que “se tudo se comprovar, com uma investigação séria, sem medos, os títulos do Benfica dos quatro anos devem ser retirados”.
14 de Junho
Em declarações à Lusa, Mário Figueiredo não nega a veracidade das mensagens que trocou com Luís Filipe Vieira, frisando que “foram retiradas do contexto em que foram proferidas”. “As acusações feitas pela Liga contra o Benfica e contra o seu presidente durante o meu mandato provam a independência da Liga em relação ao Benfica”, acrescentou.
15 de Junho
O Diário de Notícias avança que os emails revelados por Francisco J. Marques (e outros) estão na posse do Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Lisboa, que os obteve através de uma denúncia anónima.
16 de Junho
Luís Bernardo é o porta-voz da reacção oficial do Benfica, numa entrevista à Benfica TV (ver texto nestas páginas) e Pedro Proença, presidente da LPFP, pede celeridade e serenidade na resolução do processo.