Merkel, de protegida de Kohl ao seu “pior erro”
A actual chanceler foi responsável por um espectacular golpe que ditou o fim da carreira do antigo líder e a catapultou. Hoje compete para igualar os 16 anos de Kohl à frente do Governo.
Angela Merkel era uma jovem desconhecida quando se cruzou no caminho de Helmut Kohl em 1990, quando o chanceler alemão procurava uma mulher, da antiga RDA, para o seu Governo. "A minha rapariga”, chamava-lhe. Mas, quase dez anos mais tarde, ela ditou o afastamento dele com um golpe sem misericórdia: o partido tinha de continuar sem Kohl, o seu “velho cavalo de guerra”.
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Angela Merkel era uma jovem desconhecida quando se cruzou no caminho de Helmut Kohl em 1990, quando o chanceler alemão procurava uma mulher, da antiga RDA, para o seu Governo. "A minha rapariga”, chamava-lhe. Mas, quase dez anos mais tarde, ela ditou o afastamento dele com um golpe sem misericórdia: o partido tinha de continuar sem Kohl, o seu “velho cavalo de guerra”.
Kohl é conhecido como o chanceler eterno, com 16 anos no poder, só Bismarck o ultrapassou. Angela Merkel está em posição de o igualar: a caminho de uma eleição em que se espera uma vitória fácil em Setembro, se terminar o quarto mandato terá o mesmo tempo que o seu mentor na chefia do Governo.
Os dois têm muito em comum. Nenhum tem um especial dom de oratória, ambos vieram de uma Alemanha desfavorecida (ele da província, ela do antigo Leste). Apesar de Kohl ter contribuído para a ascensão de Merkel, fê-lo para sublinhar o seu compromisso com o Leste nas eleições. “A rapariga” não era uma alcunha carinhosa, há quem diga que Kohl mostrava Merkel como uma curiosidade.
Anos mais tarde acontece o episódio que marcou a carreira política de ambos.
Kohl tinha perdido as eleições em 1998 sem ter passado, como se antecipava, o poder ao seu delfim - o actual ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble. Um ano mais tarde, Kohl e Schäuble viram-se envolvidos num caso de contribuições ilegais e contas secretas na CDU.
Quase ninguém no partido quis enfrentar o eterno chanceler. Com uma grande excepção: Angela Merkel.
O director do influente Frankfurter Allgemeine Zeitung, Karl Feldmeyer (que morreu o ano passado), contou como recebeu um telefonema da praticamente desconhecida Merkel para comentar a situação no partido. “O que quer dizer?”, perguntou o director do jornal. “Já o escrevi”, disse Merkel. Feldmeyer propôs então publicar um artigo de opinião, e não quis acreditar quando o leu: “O partido tem de aprender a caminhar e lutar as próximas batalhas sem o seu velho cavalo de guerra, como Kohl muitas vezes gostava de dizer referindo-se a si próprio”.
“Ela espetou-lhe a faca nas costas”, contou o jornalista à revista norte-americana New Yorker. “E rodou-a duas vezes.”
Anos mais tarde, Kohl disse que trazer Merkel para o Governo foi o seu pior erro. “Trouxe a minha assassina”, contou num jantar ao jornalista e editor Michael Naumann (que foi minsitro da Cultura social-democrata). “Pus a cobra no meu braço.”
Merkel foi recentemente alvo de críticas de Kohl – numa biografia não autorizada, o antigo chanceler terá dito: Merkel “está a destruir a minha Europa”. Kohl, que estava muito debilitado depois de um AVC e uma queda em 2008, nega ter feito estas afirmações e recebeu um milhão de euros de indemnização pela sua publicação.