Susana Baca: “Beber de muitas fontes é importante. Isso traduz-se na alma do nosso povo”
A cantora peruana abre esta quinta-feira em Lisboa o festival Soy Loco por Ti, America. Um encontro de culturas com muito para ouvir e conhecer.
Diva da música peruana, cantora de primeira linha na arena internacional, Susana Baca está de volta aos palcos portugueses para uma série de quatro concertos, abrindo esta quinta-feira o Festival Soy Loco por Ti, America, integrado nas Festas de Lisboa e na Capital Ibero-Americana de Cultura. Além dela, actuarão neste festival Yilian Cañizares (Cuba, dia 16), Adriana Varela (Argentina, dia 17) e Chico César (Brasil, dia 18, no encerramento). Os concertos decorrerão nos Jardins da Pimenta, no Museu de Lisboa, com entrada livre (sempre às 22h). A par deles, haverá (às 19h) sessões de leitura com, entre outros, Matilde Campilho, Adriana Calcanhotto e André Gago.
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Diva da música peruana, cantora de primeira linha na arena internacional, Susana Baca está de volta aos palcos portugueses para uma série de quatro concertos, abrindo esta quinta-feira o Festival Soy Loco por Ti, America, integrado nas Festas de Lisboa e na Capital Ibero-Americana de Cultura. Além dela, actuarão neste festival Yilian Cañizares (Cuba, dia 16), Adriana Varela (Argentina, dia 17) e Chico César (Brasil, dia 18, no encerramento). Os concertos decorrerão nos Jardins da Pimenta, no Museu de Lisboa, com entrada livre (sempre às 22h). A par deles, haverá (às 19h) sessões de leitura com, entre outros, Matilde Campilho, Adriana Calcanhotto e André Gago.
Nascida nos arredores de Lima, capital do Peru, com 73 anos completados no passado dia 24 de Maio, Susana Baca traz-nos as sonoridades do aclamado Afrodiaspora (2011), temas do cancioneiro afro-peruano mas também inéditos: “Algumas coisas da proposta nova que teremos para o próximo disco e que começaremos a gravar em Janeiro de 2018.” Este disco, diz ao PÚBLICO, “é um regresso à poesia, cantando poetas como García Lorca ou poetas populares peruanos, mas com uma forma de interpretação nova, fruto de um trabalho colectivo e criativo”. Mantendo, no entanto, os traços essenciais da sua obra. “A conexão africana permanece. E este encontro de caminhos, que existe também na música, é entre a África e a América. É muito interessante e dá lugar a um trabalho criativo na América Latina.” E com boas experiências: “No campo cultural há mais caminhos que se cruzam. Ao meu país chegam, por exemplo, músicos argentinos com um nível de preparação muito bom, músicos venezuelanos (estes pela situação muito particular que se vive na Venezuela hoje), e beber de muitas fontes é importante. Isso traduz-se na alma do nosso povo.”
Ter sido Ministra da Cultura do Peru, ainda que por apenas 133 dias, trouxe-lhe uma maior clarividência: “Dei-me conta de uma situação muito especial no Peru, na sua relação com a América Latina, e do relevo de uma reivindicação antiga apresentada à política: os governos devem investir na Cultura, é muito importante e necessário.”
Proteger os artistas
De Portugal, Susana Baca conheceu a seu tempo Amália, José Afonso e Saramago. E hoje? “Tenho-me cruzado e até trabalhado com várias das divas actuais do fado, porque o fado que conhecemos através de Amália Rodrigues agora tem continuidade em cantoras como a Mariza, a Dulce Pontes, ou uma cantora muito importante para mim, que é a Cristina Branco. Elas retomaram o fado, recriaram-no e transformaram-no numa música muito bem recebida, porque é feita por artistas maravilhosos.”
Com Susana Baca estarão três músicos dos muitos que tocaram em Afrodiaspora: Ernesto Hermoza (guitarra e charango), Oscar Huaranga (contrabaixo) e Hugo Bravo (percussões). Além deles, virá também María Elena Beleván, violinista principal da Orquestra Nacional do Peru. Depois de Lisboa, actuarão em Ponta Delgada, Açores (dia 24) e depois, no início de Julho, em Sever do Vouga (dia 1) e em Ovar (dia 2).
Há quatro anos, e pensando no futuro dos artistas peruanos, Susana Baca já tinha um desejo forte, que se mantém: “Conseguir que seja aprovada a Lei do Artista, que deixei pronta quando fui ministra, porque um artista no Peru que esteja muito mal ou a morrer só é atendido por caridade pública, não há um seguro de saúde que o proteja. Essa lei protege os artistas, dá-lhes direitos. É um sonho colectivo, que acalentamos.”