Incêndio em Londres: “O pior foi ver pessoas presas e a sensação de ser inútil”
Um incêndio de grandes dimensões num prédio residencial afectou centenas de pessoas no centro de Londres. Quem estava no prédio e conseguiu sair conta como viveu os momentos de pânico.
O alarme de incêndio não terá disparado no prédio londrino que está a arder desde a 1h desta quarta-feira. Um habitante do 17.º andar descreve que o revestimento do edifício parece um fósforo, dada a rapidez da combustão. As autoridades britânicas confirmaram a existência de vítimas mortais e de dezenas de feridos. Na imprensa britânica, multiplicam-se os relatos de testemunhas e de pessoas que acorreram ao local.
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O alarme de incêndio não terá disparado no prédio londrino que está a arder desde a 1h desta quarta-feira. Um habitante do 17.º andar descreve que o revestimento do edifício parece um fósforo, dada a rapidez da combustão. As autoridades britânicas confirmaram a existência de vítimas mortais e de dezenas de feridos. Na imprensa britânica, multiplicam-se os relatos de testemunhas e de pessoas que acorreram ao local.
Havia pessoas na torre sentadas na janela e diziam que iam saltar e as pessoas cá em baixo gritavam para eles "não salte que eles estão a chegar". Isto aconteceu por volta da 1h30 da manhã e não via ninguém a ser retirado. Muitos vizinhos estavam a tentar ajudar, visto que alguns dos apartamentos tinham acesso por uma espécie de ponte para o nosso prédio e então algumas pessoas estavam a ajudar os seus vizinhos através de um portão que há entre eles. Algumas pessoas estavam a ajudar uma família de quatro pessoas com um bebé.
— Isabel Afonso, 22 anos, portuguesa que reside no prédio, Guardian
Havia uma mulher atrás de mim que gritava para alguém que conhecia no sétimo andar. Estava ao telefone a tentar falar com essa pessoa. Essa mulher estava obviamente muito emocionada porque os apartamentos estavam a arder nesse momento.
— Testemunha que pediu para se manter anónima, Guardian
Eu ouvi os camiões de bombeiros e só depois fui alertado de que algo estava a acontecer. Não havia alarme de incêndio no prédio, não temos um sistema de alarme de incêndio integrado. O revestimento do edificío parecia um fósforo.
— Methrob, que vivia no 17.º andar, à Radio BBC
A situação progrediu muito rapidamente. Por volta da meia-noite o fogo estava no terceiro andar e, antes que déssemos conta, os 23 pisos do prédio estavam todos em chamas e havia gente a gritar por ajuda e a atirar as crianças porta fora. Todos nos sentimos incapazes porque ninguém conseguia chegar até eles. Estávamos todos muito assustados e ninguém sabia o que fazer e tudo isto foi muito triste de se ver. Estavam lá muitas pessoas, crianças, idosos e pessoas com deficiência, e os membros da minha família, que felizmente conseguiram sair. Mas ainda há muitas pessoas que estão dadas como desaparecidas.
— Samira, BBC
Um dos nossos vizinhos tinha a irmã, o marido e os filhos no prédio a arder. Foi no apartamento ao lado do deles que o fogo começou. É algo que nos toca particularmente, porque ainda temos vizinhos cujas famílias estão no prédio.
— Joanna O’Connor, residente de edifício vizinho, Sky News
Primeiro, o fogo estava no lado oposto do prédio ao nosso apartamento. Os bombeiros mudaram-se para a estrada principal. Não conseguíamos ver as chamas. Mas víamos pessoas a acenar com luzes e bandeiras. Nos primeiros momentos, as pessoas pareciam tranquilas mas, quando se começou a ver fumo a sair das janelas, foi aí que as pessoas começaram a entrar em pânico. Nós vimos pessoas na janela do segundo andar a contar do topo do edifico. Havia quatro pessoas que estavam a gritar e depois a janela ficou completamente escura do fumo e aquela parte do edifício estava coberta de chamas. O pior foi ver pessoas presas e a sensação de ser inútil. Estávamos a ver pessoas, provavelmente a morrer, e a sensação de não fazer nada, simplesmente não podemos fazer nada é horrível.
— Line Sterring, dinamarquesa de 23 anos, BBC
Era 00h45 da manhã, quando estava na cama com a minha namorada. Ela dormia, a nossa filha dormia no quarto ao lado e eu estava quase a adormecer. De repente, começou-me a cheirar a queimado. Verifiquei todas as nossas tomadas eléctricas, estava tudo desligado. Abri a janela da cozinha para fumar e ouvi alguém a gritar: “Está a ficar cada vez maior, está a ficar cada vez maior”. Abri a porta, havia fumo por todo o lado, e um vizinho disse-me que era um incêndio. Voltei a casa e peguei na minha filha e na minha namorada e corremos para fora do edifício. E quando chegamos cá fora era um pesadelo, parecia que tínhamos acabado de sair de um filme de terror.
— Residente não identificado do prédio, BBC
Eu estava no apartamento da minha namorada, estávamos a dormir, alguém bateu à porta, viemos para fora do apartamento e alguém gritava “Fogo! Fogo!” e algumas pessoas estavam a descer as escadas do edifício em direcção às saídas de emergência. Mas as portas não abriam. Voltamos para casa, pensamos que talvez estivéssemos mais seguros lá, mas depois o nosso alarme de fumo em casa disparou e decidimos sair do apartamento. Havia muito fogo nas escadas. Estávamos no mesmo piso onde começou o incêndio. Havia muito fumo, em todo o lado. Pessoas a gritar. As pessoas que estavam nos andares superiores ainda deviam estar a dormir quando o incêndio se propagou, não sei sinceramente se metade deles conseguiu sair. Havia crianças nas janelas. Pessoas a acenar às janelas com as luzes do telemóvel para pedir ajuda. Ouvi dizer, não sei se é verdade, que a saída de emergência também estava a arder e que por isso era impossível sair. Estou a rezar pelas pessoas que ainda estão lá em cima.
— David Benjamin, BBC
Todas as zonas comuns juntas às escadas estavam cheias de fumo. Os alarmes de fumo não tinham accionado, mas a forma como o incêndio se espalhou tão rapidamente do quarto andar, até o 23.º andar, foi assustador.
— Zoe, moradora do quarto andar que acordou com um vizinho a bater à sua porta, BBC
A polícia alargava os cordões de segurança, afastava as pessoas com medo que o edifício colapsasse.
— Andy Moore, jornalista da BBC, sobre escombros a cair do edifício e ter ouvido explosões e vidros a partir.
Estou a ser coberto por cinza, isto é quão má está a situação. Num trajecto de 100 metros fiquei coberto de cinza. É desolador. Já vi uma pessoa abanando uma tocha no nível superior do prédio, porque obviamente não consegue sair.
— George Clarke, testemunha e apresentador do programa Amazing Spaces (Canal 4), Rádio 5