"Brexit": nem a data para o início das negociações é agora garantida

Governo britânico garante que posição de Londres para a saída da UE mantê-se inalterada. Mas Ruth Davidson, líder dos conservadores escoceses, diz que "poderá haver alterações no plano".

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Davidson foi convidada para a primeira reunião do novo governo Hannah McKay/Reuters

A uma semana do início das negociações em Bruxelas, a incerteza é total sobre o rumo do processo que levará à saída do Reino Unido da União Europeia. O porta-voz do Governo britânico assegurou que o plano definido em Janeiro pela primeira-ministra se mantém inalterado – uma garantia que soa a vazia perante o enfraquecimento de Theresa May, exposta agora à pressão dos que, no seu partido e na oposição, recusam o hard Brexit que ela propôs.

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A uma semana do início das negociações em Bruxelas, a incerteza é total sobre o rumo do processo que levará à saída do Reino Unido da União Europeia. O porta-voz do Governo britânico assegurou que o plano definido em Janeiro pela primeira-ministra se mantém inalterado – uma garantia que soa a vazia perante o enfraquecimento de Theresa May, exposta agora à pressão dos que, no seu partido e na oposição, recusam o hard Brexit que ela propôs.

“As coisas ficaram mais difíceis? Vamos ter um soft Brexit, um hard Brexit? Um open ou um closed Brexit’? As respostas para todas essas perguntas estão em Londres, não em Bruxelas”, disse ao Politico um diplomata europeu, assumindo que as dúvidas que a UE tinha sobre os planos de Londres deram lugar à perplexidade perante o caos que resultou das legislativas.

Nesta segunda-feira, não havia sequer certeza se o ministro britânico para o “Brexit”, David Davis, estará em condições de ir a Bruxelas no próximo dia 19 para a primeira reunião com Michel Barnier, o chefe dos negociadores europeus. A Comissão Europeia afirma estar pronta a iniciar o processo, mas já admite que Londres pode precisar de mais alguns dias para finalizar a formação do governo.

“A nossa posição foi claramente definida, em várias ocasiões, e não houve qualquer alteração em relação a isso”, respondeu o porta-voz de May, confrontado com os apelos de vários políticos para que May reveja os seus planos para o “Brexit”, nomeadamente a decisão de abandonar o mercado único europeu e a união aduaneira, para que Londres possa controlar a imigração e negociar os seus próprios acordos comerciais.

Entre eles está Ruth Davidson, líder dos conservadores na Escócia, que garantiu enorme influência junto de May ao conseguir eleger 13 deputados em Westminster, sem os quais a primeira-ministra teria ficado ainda mais longe da maioria absoluta. Convidada para a primeira reunião do novo executivo, Davidson defendeu aquilo a que chama um "open Brexit”, mais centrado na negociação de uma relação económica próxima com a UE do que no controlo da imigração. No final do encontro, Davidson disse acreditar que “poderá haver alterações no plano para o ‘Brexit’” e sugeriu que os conservadores devem procurar um consenso nacional nesta matéria. “Os eleitores disseram que querem que sejamos nós a governar, mas também disseram que querem que trabalhemos com os outros – é isso que significa não ter maioria.”

A imprensa britânica adianta também que Phillip Hammond, ministro das Finanças que May se viu obrigado a manter no governo perante o desaire eleitoral, lhe terá dito logo após as eleições que quer um “Brexit que ponha os interesses da economia em primeiro lugar”. Também o Partido Democrático Unionista (DUP), com quem May negoceia um acordo que lhe garanta a maioria no Parlamento, quer que o Reino Unido mantenha uma relação próxima com a UE. Os unionistas, tal como o Partido Trabalhista, recusa também a estratégia de que “nenhum acordo [com a UE] é melhor do que um mau acordo” – mote que Davis voltou a repetir, insistindo que sem a ameaça de abandonar as conversações, Londres perde poder negocial.

É, no entanto, incerto em que é que se irá traduzir esta pressão, até porque os eurocépticos mantêm grande peso na bancada conservadora (podendo rebelar-se perante eventuais cedências) e a própria oposição trabalhista assumiu no seu programa eleitoral que o Reino Unido deverá deixar o mercado único. “O referendo à UE deixou claro que as regras da imigração devem mudar”, afirmou Keith Starmer, porta-voz dos trabalhistas para o “Brexit”. Uma alternativa seria a permanência na união aduaneira (assegurando um comércio livre de tarifas com os países da UE), mas esse cenário impediria Londres de negociar os seus próprios acordos comerciais, que foi uma das promessas centrais no programa da campanha pelo “Brexit”.