Estudantes criam ecobebidas com resíduo de queijo e fruta feia
As bebidas Toal são idênticas a iogurte líquido e a sumo de fruta e utilizam "soro excedente do fabrico de queijo" e morangos "que não têm calibre suficiente para venda ao consumidor final
Duas bebidas "totalmente naturais, sem corantes, nem conservantes" foram criadas a partir de resíduo de queijo e de fruta feia por um grupo de alunos de mestrado na Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra (FFUC).
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Duas bebidas "totalmente naturais, sem corantes, nem conservantes" foram criadas a partir de resíduo de queijo e de fruta feia por um grupo de alunos de mestrado na Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra (FFUC).
Denominada Toal, a gama — "composta por duas ecobebidas" — foi desenvolvida no âmbito de um projecto de transformação de "subprodutos das indústrias de queijo e hortofrutícola em alimentos saudáveis e nutritivos", refere a Universidade de Coimbra (UC).
"Na equação para a confecção dos novos produtos, formulados por um grupo de estudantes de mestrado" em segurança alimentar da FFUC, "entram soro excedente do fabrico de queijo, um subproduto bastante poluente, e morangos que não têm calibre suficiente para venda ao consumidor final" — a designada fruta feia.
As duas novas bebidas, idênticas a iogurte líquido e a sumo de fruta, "apenas diferem [entre si] no conteúdo": uma tem carácter proteico, outra energético. Ambas "são ricas em antioxidantes e probióticos, que auxiliam na manutenção do sistema imunitário, e os açúcares essenciais, bem como os seus pequenos péptidos (pequenas proteínas de fácil absorção), exercem funções ao nível do sistema cardiovascular, nomeadamente no controlo da pressão arterial", esclarecem Daniela Costa e Rita Martins.
Na Toal proteica, "salienta-se um elevado valor nutritivo e actividade biológica, destacando-se a leucina, essencial no processo de crescimento muscular aliado à diminuição da acumulação de gordura corporal", acrescentam. As estudantes, que foram orientadas por Fernando Ramos, docente e investigador da FFUC, evidenciam o facto de ambas as bebidas constituírem "alternativas saudáveis para o consumidor" e de não prejudicarem o meio ambiente.
"No caso do soro proveniente do fabrico do queijo, estamos a contribuir para mitigar um problema ambiental, evitando que este entre na rede de águas", justificam. Em relação aos morangos, trata-se de aproveitar "fruta que não é vendida ao consumidor final" e de "combater o desperdício alimentar".
A grande inovação destas ecobebidas assenta no facto de aproveitarem "todas as propriedades do soro" (proteínas, água e açúcares) e de não exigirem um processo de confecção complexo, salientam as duas mestrandas, referindo que a indústria da produção de queijo gera grandes quantidades de soro. De acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), em 2015 foram produzidos em Portugal 658 milhões de litros de soro de queijo de vaca.
As ecobebidas Toal já foram degustadas por consumidores e a receptividade "foi muito agradável", afirmam Daniela Costa e Rita Martins, adiantando que já há investidores interessados em financiar o projecto. "O nosso objectivo é criar uma start-up para comercializar o produto", revelam. "Os estudantes universitários devem saber tirar partido do que aprenderam ao longo do curso e ter a capacidade de criar o seu próprio emprego."
O desenvolvimento dos produtos Toal contou ainda com a colaboração de duas alunas de mestrado da Escola Superior Agrária de Coimbra (ESAC), Vânia Gomes e Elsa Rosário, acompanhadas pelo docente Carlos Dias Pereira, e de uma aluna do Instituto Politécnico de Leiria/Pólo de Caldas da Rainha, Ana Martins Abrantes. O projecto participou no Ecotrophelia Portugal 2017, concurso promovido pela PortugalFoods e pela Federação das Indústrias Portuguesas Agroalimentares (FIPA), no qual se classificou em segundo lugar.