Macron ganhou outra vez. Desta vez, as legislativas
Com uma abstenção recorde, a República em Marcha torna-se “o” partido de França. As outras formações lutam pela vida, sobretudo à esquerda.
O difícil será encontrar um deputado que não seja do partido de Emmanuel Macron na próxima Assembleia Nacional francesa. O resultado ainda terá de ser confirmado no próximo domingo, na segunda volta das legislativas, mas a previsão é que a República em Marcha e o Movimento Democrático (MoDem), juntos, tenham entre 415 e 455 dos 577 parlamentares.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O difícil será encontrar um deputado que não seja do partido de Emmanuel Macron na próxima Assembleia Nacional francesa. O resultado ainda terá de ser confirmado no próximo domingo, na segunda volta das legislativas, mas a previsão é que a República em Marcha e o Movimento Democrático (MoDem), juntos, tenham entre 415 e 455 dos 577 parlamentares.
Com uma abstenção recorde na V República, desde 1958, a ultrapassar os 51%, confirmaram-se os temores do Partido Socialista e d’Os Republicanos de que seria “uma catástrofe” para o seu lado.
O primeiro secretário do PS, Jean-Christope Cambadélis, não conseguiu sequer ter votos suficientes para discutir a segunda volta, face ao secretário de Estado do Digital, Mounir Mahjoubi, uma das jovens estrelas trazidas para a ribalta pelo Presidente Macron. “Não é saudável, nem desejável, que o partido de Macron beneficie do monopólio da representação nacional”, afirmou Cambadélis.
Todos os ministros tiveram bons resultados, mesmo os que abandonaram os seus partidos de origem, e aqueles que estão sob suspeita de práticas menos correctas, como Richard Ferrrand - que terá favorecido a sua companheira num negócio de imobiliário, e está a ser investigado.
A previsão é que o Presidente passe de ter Presidente e maioria governamental para dez a 25 deputados nos próximos quatro anos, com cerca de 13,3% dos votos. São muitos os socialistas eliminados. Benoît Hamon, o candidato às presidenciais, foi posto fora da corrida na sua circunscrição habitual, por 80 votos. Aurélie Filippeti, ex-ministra da Cultura, e uma das revoltosas contra Manuel Valls, ficou por terra. Patrick Mennucci, que disputava a eleição face a Jean-Luc Mélenchon, da França Insubmissa, em Marselha, anunciou a sua própria derrota.
O conselho político do PS reúne-se já nesta segunda-feira de manhã para discutir esta profunda crise existencial. Hamon apela a uma “refundação”.
E Manuel Valls, o ex-primeiro-ministro, que está suspenso entre o PS e o partido de Macron? Ficou em primeiro no seu círculo eleitoral, nos arredores de Paris, embora deva disputar a segunda volta com a candidata França Insubmissa.
No centro-direita a situação não é tão dramática: os Republicanos são o segundo maior partido, com cerca de 21,2%, e François Baroin, que dirige o processo eleitoral, passou à segunda volta. Mas houve alguns sustos grandes, como o resultado de Nathalie Kosciusko-Morizet em Paris, que teve 18%, no antigo círculo eleitoral de François Fillon (que não é candidato). A vitória é de Gilles Le Gendre, da República em Marcha. As perspectivas não são boas para NKM, uma política de centro-direita, compatível com o partido de Macron.
Outras figuras destacadas dos Republicanos, como Jean-François Copé, Eric Woerth, ou Eric Ciotti estão a ter dificuldades com candidatos da República em Marcha. Mas François Baroin abandonou a polémica política do “nem-nem” seguida nos anos Sarkozy, de não aconselhar ao voto num candidato rival na segunda volta se este estivesse em melhores condições para ganhar à Frente Nacional. É uma dificuldade acrescida para Marine Le Pen.
"Vão votar"
Baroin apelou à mobilização, à ida às urnas na segunda volta. “Esta abstenção, que atingiu níveis nunca vistos desde 1958, dá testemunho das fracturas da sociedade francesa que se exprimiram na primeira volta das presidenciais. Não estão esquecidas e muito menos apagadas”, afirmou.
Também Mélenchon, que não terá mais que 14,2%, apelou à mobilização, sem acreditar que as posições tão radicalizadas expressas há um mês, na alturas das presidenciais, se tenham apagado como por magia depois de Emmanuel Macron ter entrado no Palácio do Eliseu e se ter formado um governo à sua imagem. “Uma situação política totalmente instável e em trompe-l'œil. Não há neste país uma maioria para destruir o código do trabalho, reduzir as liberdades públicas, nem para a irresponsabilidade ecológica, e muito menos para confortar os ricos, tudo coisas que constam do programa do Presidente”, afirmou o porta-voz da França Insubmissa, que nas presidenciais teve 19%.
Marine Le Pen teve um óptimo resultado em Henin-Beaumont, o feudo eleitoral que construiu no Norte do país – 46%. Mesmo assim, terá de ir à segunda volta. Em 2012, não conseguiu ultrapassar esse obstáculo – e voltou a defender uma modificação do sistema eleitoral, para acabar com as duas voltas, que funciona como uma barreira à ascensão ao poder do seu partido de extrema-direita.
A líder da Frente Nacional apelou à mobilização “dos eleitores patriotas” para a segunda volta, em que tem várias figuras empenhadas em duelos difíceis. Os cerca de 13% obtidos agora andam longe dos 34% da segunda volta das presidenciais.O actual deputado da Frente Nacional Gilbert Collard, por exemplo, está praticamente empatado com a ex-toureira Maria Sara, que se candidata pela etiqueta de Macron. Florian Philippot, o muito contestado número 2 de Le Pen, passou à segunda volta, também quase empatado com o candidato da República em Marcha.