A vitória formal
A impressionante derrota de May será servida em ritmo lento.
O esforço de Theresa May para mostrar que efectivamente ganhou as eleições é quase trágico. A sua breve declaração de vitória repete tudo aquilo que a motivou a marcar eleições, mesmo sabendo que o resultado final demonstra que não o deveria ter feito: recordou o “Brexit”, quando perdeu objectivamente força para liderar o processo negocial; recordou a sua agenda social, quando tudo o que prometeu no manifesto de campanha sobre o assunto foi desdito durante a mesma campanha; garantiu legitimidade e estabilidade para os próximos cinco anos, quando muito poucos acreditam que dure mais do que cinco meses.
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O esforço de Theresa May para mostrar que efectivamente ganhou as eleições é quase trágico. A sua breve declaração de vitória repete tudo aquilo que a motivou a marcar eleições, mesmo sabendo que o resultado final demonstra que não o deveria ter feito: recordou o “Brexit”, quando perdeu objectivamente força para liderar o processo negocial; recordou a sua agenda social, quando tudo o que prometeu no manifesto de campanha sobre o assunto foi desdito durante a mesma campanha; garantiu legitimidade e estabilidade para os próximos cinco anos, quando muito poucos acreditam que dure mais do que cinco meses.
A impressionante derrota de May será servida em ritmo lento: se a coligação de interesses que montou apressadamente chegar a tomar forma, ainda vai formar o executivo; mas depressa se tornará óbvio que as condições para mandar não existem e o governo deverá cair a partir de dentro. Como o Partido Conservador está bem habituado a manobras de bastidores e facadas pelas costas, deverão ser os próprios parlamentares a declarar a incapacidade da senhora May para liderar o Reino.
Pelo meio, algumas semanas mais terão passado na negociação do “Brexit” — negociações essas que vão correr muito mal a Londres e muito bem a Bruxelas. Voltou a estar em cima da mesa alguma forma de participação no mercado único, o que vai sair mais caro ao Reino Unido e poderá acabar por se revelar importante na garantia de liberdade de circulação dos trabalhadores europeus.
Quem com isto tudo ganhou um lugar à mesa dos crescidos foi o Partido Democrático Unionista, fundado pelo polémico reverendo Ian Paisley. O novo apoiante do governo britânico é contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo, feroz opositor ao direito a abortar e inclui nas suas fileiras vários criacionistas que negam o aquecimento global e preferem deixar a ciência na mão de Deus. Tudo, portanto, bastante aconselhável para ser uma referência estável na governação de um país moderno em pleno século XXI.
Os conservadores perderam a segunda eleição em menos de um ano, mostrando uma extraordinária incompetência para o processo político. Contra eles, até o programa anacrónico de Jeremy Corbyn pareceu moderno e suficientemente credível para ser alternativa — o que é a maior prova da incompetência dos tories liderados por Cameron e May. Os próximos tempos políticos britânicos vão ser penosos.