Ausência do “Brexit” na campanha enfraqueceu Theresa May

Primeira-ministra britânica tinha o objectivo de reforçar a maioria dos conservadores no Parlamento, mas as sondagens e o balanço da campanha eleitotral dão-lhe poucas razões para optimismo. Eleitorado jovem pode ser decisivo.

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Jeremy Corbyn conseguiu centrar a campanha em assuntos internos e não no “Brexit”, como queria a primeira-ministra NIGEL RODDIS/EPA

A imprensa britânica tem gerido com pinças os estudos eleitorais, depois da débacle nas últimas eleições e do referendo do “Brexit”, mas parece dar como certo que a margem folgada atribuída inicialmente aos conservadores não será concretizada na quinta-feira. A estratégia da primeira-ministra, Theresa May, era centrar a campanha no “Brexit”, mas foram os temas internos que dominaram o debate, favorecendo os seus adversários.

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A imprensa britânica tem gerido com pinças os estudos eleitorais, depois da débacle nas últimas eleições e do referendo do “Brexit”, mas parece dar como certo que a margem folgada atribuída inicialmente aos conservadores não será concretizada na quinta-feira. A estratégia da primeira-ministra, Theresa May, era centrar a campanha no “Brexit”, mas foram os temas internos que dominaram o debate, favorecendo os seus adversários.

Estávamos a 18 de Abril, quando Theresa May surpreendeu o país e anunciou que pretendia marcar eleições gerais antecipadas, com o objectivo declarado de reforçar a sua maioria na Câmara dos Comuns. No pensamento da primeira-ministra estavam os indicadores que atribuíam ao Partido Conservador uma vantagem de quase vinte pontos sobre os trabalhistas, liderados por um impopular Jeremy Corbyn, envolvido em conflitos internos.

 Mas os últimos inquéritos – realizados dias antes do atentado de Londres – atribuem vitórias aos conservadores com margens que variam entre os 12 e apenas um ponto. Ou seja, dizem que Theresa May corre o risco de não reforçar a sua maioria, como até pode vir a perdê-la. O factor decisivo, dizem os especialistas, será a taxa de participação do eleitorado mais jovem, que apoia maioritariamente os trabalhistas.

O desenrolar da campanha eleitoral parece ter mudado as perspectivas. Assuntos internos, como a qualidade dos serviços públicos, dominaram a campanha, apesar das várias tentativas de May em trazer para a ribalta as negociações com Bruxelas. Mas a apresentação do programa do Partido Conservador mostrou a Theresa May que afinal havia campanha para além do “Brexit”. A proposta de reforma do esquema de pagamento dos serviços de assistência domiciliária para idosos foi alvo de críticas generalizadas. Depois de ser descrita pela oposição como um “imposto de demência”, May viu-se obrigada a garantir que será incluído um “limite máximo” para os pagamentos de cuidados de saúde. A decisão foi vista como um volte-face, que no entanto não conseguiu travar a má imagem já passada.

A segunda vida de Corbyn

Foi uma oportunidade perfeita para os trabalhistas apresentarem Theresa May como a líder de um Governo que não esconde o desejo de continuar as políticas de austeridade que David Cameron começou a pôr em prática em 2010.

Ao mesmo tempo, Corbyn apresentou um programa eleitoral onde aposta em medidas que põem antigos líderes trabalhistas como Tony Blair à direita da direita. As propostas de Corbyn incluem a extinção das propinas no ensino superior, a renacionalização de sectores estratégicos como a água, a electricidade e os correios, e a promessa de disponibilizar cem mil casas para habitação social todos os anos.

O programa trabalhista foi apelidado de “radical” e até “marxista” – quando não de  “irrealista” – mas introduziu uma nova dimensão numa campanha eleitoral que se antecipava morna. “De muitas formas”, escreve a direcção editorial do Guardian no texto em que justifica o seu apoio aos trabalhistas, o programa “é uma dolorosa lembrança de como o nosso sentido de justiça social colectiva e o espírito de comunidade se perderam desde 2010”.