No Brasil encontrou-se o cogumelo mais antigo do mundo

Há 115 milhões de anos terá caído na água e, digamos, foi a nossa sorte, pois agora é o cogumelo mais velho de todos.

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O supercontinente Gonduana quando se estava a fragmentar Danielle Ruffatto

Tudo aconteceu há cerca de 115 milhões de anos. Estava o supercontinente Gonduana a fragmentar-se na América do Sul, África, Antárctida e na Oceânia, quando um cogumelo caiu num rio e começou uma viagem que chegou agora até nós. O sítio da sua paragem foi no Nordeste do Brasil e agora chegou preservado em calcário. Torna-se assim o cogumelo mais antigo descoberto até ao momento, como refere um pequeno artigo científico na revista Plos One.

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Tudo aconteceu há cerca de 115 milhões de anos. Estava o supercontinente Gonduana a fragmentar-se na América do Sul, África, Antárctida e na Oceânia, quando um cogumelo caiu num rio e começou uma viagem que chegou agora até nós. O sítio da sua paragem foi no Nordeste do Brasil e agora chegou preservado em calcário. Torna-se assim o cogumelo mais antigo descoberto até ao momento, como refere um pequeno artigo científico na revista Plos One.

O seu destino foi ditado por uma lagoa de água salgada. Aí, este fungo afundou-se e foi coberto por camadas de sedimentos. Os seus tecidos foram sendo fossilizados e acabou por se transformar num óxido de ferro (goetite), explica um comunicado da Universidade do Illinois. Agora foi descoberto numa colecção de fósseis oriundos da formação geológica do Crato, no Brasil.

O cogumelo fossilizado tem cerca de cinco centímetros de altura e imagens de microscopia electrónica das lâminas debaixo do seu chapéu permitiram identifica-lo como sendo de uma nova espécie (na ordem Agaricales). O seu nome científico é Gondwanagaricites magnificus. E percebe-se bem porquê. Gonduana” é o nome do antigo supercontinente. Em grego, agarikon significa “um cogumelo” e “ites” é “fóssil”. Por fim, e magnificus é a palavra em latim para “esplêndido”.

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O cogumelo fossilizado Jared Thomas

Com os seus 115 milhões de anos, o Gondwanagaricites magnificus acaba de ultrapassar em idade um cogumelo encontrado em âmbar no Sudeste asiático que tinha 99 milhões de anos.

“Muitos cogumelos crescem rapidamente e perdem-se em poucos dias. O facto de este estar todo preservado é surpreendente”, reage Sam Heads, paleontólogo da Universidade do Illinois e autor principal do trabalho.

E encontrar um cogumelo tão antigo também levou os cientistas a reflectirem sobre a evolução das espécies, como refere o comunicado. O aparecimento dos fungos ocorreu antes do das plantas terrestres e contribuiu para a passagem das plantas do meio aquático para o terrestre. Andrew Miller, outro autor do estudo também da Universidade do Illinois, explica desta forma a ligação entre as plantas e os cogumelos: “Formaram-se associações entre as hifas [filamentos de células] dos fungos e as raízes das plantas. Os fungos transportaram a água e nutrientes para as plantas, o que permitiu às plantas terrestres adaptarem-se a solos secos e pobres em nutrientes. E as plantas forneceram açúcares aos fungos através da fotossíntese. Essa associação ainda existe hoje.”