Direcção-Geral do Património vai abrir inquérito sobre alegados estragos no Convento de Cristo

Ministro da Cultura poderá ser questionado sobre o assunto nesta terça-feira, dia em que está marcada uma audição parlamentar para “discussão das políticas no âmbito da cultura”.

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O Convento de Cristo de Tomar Daniel Rocha / PUBLICO

A Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC) anunciou neste sábado que vai abrir um inquérito para apurar a veracidade sobre alegados estragos provocados no Convento de Cristo, em Tomar, durante a rodagem de um filme.

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A Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC) anunciou neste sábado que vai abrir um inquérito para apurar a veracidade sobre alegados estragos provocados no Convento de Cristo, em Tomar, durante a rodagem de um filme.

“Na sequência de algumas situações e acontecimentos tornados públicos ontem sobre o Convento de Cristo, em Tomar, a DGPC informa que vai abrir um inquérito para apurar a sua veracidade”, afirma o organismo que tutela o monumento numa resposta à agência Lusa.

Uma reportagem televisiva divulgada na sexta-feira à noite na RTP levou o Bloco de Esquerda a requerer a audição no parlamento, com carácter de urgência, do ministro da Cultura.

No requerimento, os deputados bloquistas Jorge Campos e Carlos Matias declaram “perplexidade” com a informação divulgada sexta-feira à noite na RTP “denunciando estragos no Convento de Cristo, em Tomar, alegadamente durante a rodagem da comédia O Homem que Matou D. Quixote, de Terry Gilliam."

“Os relatos incluem a realização de uma fogueira, pedras centenárias partidas ou com arestas fracturadas, pelo facto de se terem fixado adereços e panos às colunas e outras estruturas, cantarias e telhas destruídas. Nas imagens televisivas, é ainda visível um aglomerado com dezenas de botijas de gás conectadas à rede de tubos que terá assegurado o fogo, na enorme pira”, afirma o texto do BE.

Os deputados referem ainda testemunhos que relataram o ter-se gerado “uma enorme onda de calor provocada pelo fogo nas imediações da janela do Capítulo, jóia da arquitectura manuelina e ícone mundial do Convento de Cristo, pondo em risco tanto o monumento, como o grande número de figurantes presentes no local”.

Para os deputados, “mesmo que se paguem e que se reparem os estragos, irão fazê-lo com recurso a argamassas ou remendos, ou seja, os danos são irrecuperáveis”. O BE pede que sejam apuradas “responsabilidades, para que não se repitam situações similares que ponham em causa e em definitivo o património cultural português”.

O partido lembra que o Convento de Cristo mereceu a classificação de Património da Humanidade pela UNESCO, sendo “um monumento de referência da época do Renascimento que integra a conhecida Janela do Capítulo da sacristia manuelina”, sendo “um ícone do património nacional e parte importante da sua história”.

Por outro lado, refere que o filme alegadamente na origem dos estragos “é uma co-produção entre Portugal, Espanha, França, Bélgica e Inglaterra e conta com um orçamento de 16 milhões de euros”.

Para “preparação” da audição do ministro Luís Filipe de Castro Mendes, o BE pede que lhe sejam enviados o contrato assinado entre a tutela e a produção cinematográfica em causa, uma lista detalhada dos danos ocorridos durante as filmagens, o estudo de impacto para a realização desta produção no Convento de Cristo.

Solicita ainda informação sobre o número de especialistas da Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC) ou outros técnicos especializados na área do património que tenham sido designados para acompanhar a rodagem e o processo de produção no Convento de Cristo e respectivo programa de acompanhamento.

O ministro poderá ser questionado já sobre o assunto na terça-feira, dia em que está marcada uma audição parlamentar para “discussão das políticas no âmbito da cultura” e sobre o  acto de vandalismo ocorrido recentemente no parque arqueológico de Foz Côa.