Espera-se chuva de clássicos com os clássicos Guns N'Roses

Passaram anos a dizer que era impossível, que nunca se reuniriam outra vez. No final de 2015, a surpresa. Axl Rose e Slash juntavam-se novamente . E Duff McKagan regressava também. Tocam no Passeio Marítimo de Algés esta sexta-feira. Os Guns N'Roses. Mesmo a sério.

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Em 2009, um ano depois da edição do eternamente adiado Chinese Democracy, Axl Rose mostrou-se peremptório: “O que é absolutamente claro é que um de nós os dois irá morrer antes de nos reunirmos e, por mais que alguém ache isso triste, feio, ou infeliz, é o que é”, afirmou à Billboard, que o questionara sobre se valia a pena imaginar que ele e Slash enterrariam o machado de guerra para se unirem novamente. Três anos depois, poucos meses depois da cerimónia que oficializou a entrada dos Guns N’Roses no Rock’n’Roll Hall of Fame, em que Axl Rose decidiu não participar, o guitarrista declarou à imprensa que a formação clássica da banda “nunca se irá reunir”. Eis-nos então agora, dia 2 Junho de 2017, à espera que subam ao palco do Passeio Marítimo de Algés, cenário para o seu terceiro concerto em Portugal (lotação esgotada). Eles, os Guns N’Roses. Com Axl Rose, Slash, o baixista Duff McKagan e o teclista Dizzy Reed, quatro clássicos do período histórico da banda. Que raio aconteceu aqui?

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Em 2009, um ano depois da edição do eternamente adiado Chinese Democracy, Axl Rose mostrou-se peremptório: “O que é absolutamente claro é que um de nós os dois irá morrer antes de nos reunirmos e, por mais que alguém ache isso triste, feio, ou infeliz, é o que é”, afirmou à Billboard, que o questionara sobre se valia a pena imaginar que ele e Slash enterrariam o machado de guerra para se unirem novamente. Três anos depois, poucos meses depois da cerimónia que oficializou a entrada dos Guns N’Roses no Rock’n’Roll Hall of Fame, em que Axl Rose decidiu não participar, o guitarrista declarou à imprensa que a formação clássica da banda “nunca se irá reunir”. Eis-nos então agora, dia 2 Junho de 2017, à espera que subam ao palco do Passeio Marítimo de Algés, cenário para o seu terceiro concerto em Portugal (lotação esgotada). Eles, os Guns N’Roses. Com Axl Rose, Slash, o baixista Duff McKagan e o teclista Dizzy Reed, quatro clássicos do período histórico da banda. Que raio aconteceu aqui?

Não vale a pena mergulhar muito profundamente no que terá acontecido nos anos passados entre os incisivos “nunca” de Axl Rose e Slash, a confissão deste último que as tensões entre ambos haviam desaparecido e, por fim, o anúncio surpresa, em Dezembro de 2015, de que a banda seria cabeça de cartaz do festival de Coachella do ano seguinte. Se há uma qualidade que atravessa a carreira da banda é a sua turbulência interna e o carácter imprevisível das suas acções. Os ícones do rock bombástico e hedonista de Los Angeles estão de volta, não estão? Com Slash e Duff MCKagan no lugar certo, em vez de um conjunto rotativo de músicos liderado por Axl Rose, não é verdade? Então, venham eles que isto agora é a sério – não queremos saber o que disseram Axl e Slash um ao outro para quebrar o gelo. Certo é que, dia 1 de Abril de 2016, os Guns N’Roses deram um concerto-surpresa no Troubador, clube mítico de Los Angeles e, desde aí, não mais pararam.

A digressão, que tem o bem-humorado título Not in this Lifetime… Tour, chega a Portugal no início da componente europeia da actual digressão mundial, depois de actuações em Slane, na Irlanda, dia 27 de Maio, e em Bilbao, Espanha, dia 30. A acompanhá-los estarão Mark Lanegan e Tyler Bryant & The Shakedown (a banda que, o ano passado, no mesmo local, assegurou a primeira parte do concerto dos AC/DC com Axl Rose no papel de vocalista). As portas abrem às 16h, os concertos de abertura começam às 19h e os Guns N’Roses às 21h.

Em 2006, Axl Rose liderou uns outros Guns N’Roses num concerto tépido no Rock In Rio, e quatro anos depois a digressão Chinese Democracy passou pelo então Pavilhão Atlântico, mas desses momentos não ficará grande história. Marcado na memória ficou certamente a passagem pelo antigo Estádio de Alvalade em Julho de 1992. Em entrevista ao PÚBLICO, Duff McKagan dizia que a banda, então descrita como “a mais perigosa do mundo” pela controvérsia que a rodeava (problemas vários com drogas, abandono de concertos, porrada com fãs e seguranças, atitude controversa, muito rock’n’roll, tendo em conta a moral & bons costumes), não passava de “apenas uns putos” – “basicamente”. A maioria dos presentes em Alvalade naquele dia, tenderam a concordar. Pelo menos no que diz respeito a Axl Rose – e não pelas melhores razões. “Monumental seca foi o que apanharam os 60 mil fãs dos Guns N' Roses”, escrevia o PÚBLICO em crítica ao concerto assinada por Jorge Dias, acrescentando que “o supervedetismo de Axl Rose e comparsas chegou e sobrou para estragar uma noite que todos esperavam de delírio total”. Que aconteceu? Axl Rose escorregou em algo que o público atirara para palco logo no início e a coisa descambou a partir daí. Muitas interrupções, amuos, a irritação com um boneco insuflável que não insuflou, saídas de cena enquanto Duff McKagan cantava e Slash solava para não deixar morrer o concerto, algumas canções pelo meio, insultos ao público e por aí fora até ao final.

Eram os Guns N’Roses no auge da popularidade, fruto desse encontro entre virtuosismo hard-rock e postura de “bad boys” que surgia como alternativa ao grunge em ascensão, e do sucesso de Appetite for Destruction (1987), o álbum de estreia, dos dois volumes de Use Your Ilusion (1991) e de singles (e correspondentes telediscos de orçamento milionário, em assídua rotação televisiva) como You could be mine, November rain ou Don’t cry. Os episódios do concerto em Lisboa, assinale-se, não diferiram muito do testemunhado noutras cidades naquela longuíssima digressão (194 concertos ao longo de 28 meses). Vinte e cinco anos depois, não se espera nada semelhante no Passeio Marítimo de Algés.

Ao contrário do que aconteceu em 1992, não estarão em palco o guitarrista Gilby Clarke (que substituíra o fundador Izzy Stradlin no decorrer da digressão), ou o baterista Matt Sorum. Nos seus lugares encontramos hoje Frank Ferrer e o baterista Richard Fortus, aos quais se junta uma segunda teclista, Melissa Reese. Mas ouvir-se-á muito do que foi tocado naquele ano. Esta é, afinal, uma digressão de celebração da reunião de uma banda e do legado que construiu. O alinhamento das 27 canções tocadas em Bilbao inclui a “recente” Chinese democracy. Quanto ao resto, a julgar por esse concerto, será clássico atrás de clássico, com Welcome to the jungle a You could be mine, de Mr. Brownstone a Civil war, de Estranged a November rain – com homenagem a Chris Cornell, o recentemente falecido vocalista dos Soundgarden, numa versão de Black hole sun, ou uma passagem por Wish you were here, dos Pink Floyd, ou The Seeker, dos The Who. São os Guns N’Roses e estão de volta a Portugal. Com Axl e Slash lado a lado. Quem diria?