A enorme irresponsabilidade de Trump
As alterações climáticas são o maior problema do século XXI e os Estados Unidos da América o seu principal responsável histórico pelas emissões poluentes acumuladas ao longo de décadas. Trata-se de um problema que não é político ou legal, mas verdadeiramente humanitário, com consequências enormes principalmente para as populações dos países em desenvolvimento.
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As alterações climáticas são o maior problema do século XXI e os Estados Unidos da América o seu principal responsável histórico pelas emissões poluentes acumuladas ao longo de décadas. Trata-se de um problema que não é político ou legal, mas verdadeiramente humanitário, com consequências enormes principalmente para as populações dos países em desenvolvimento.
O Acordo de Paris, conseguido na Conferência das Nações Unidas para as Alterações Climáticas em 2015, estabelece metas de emissões de carbono para cada um dos países com diferentes graus de exigência e permitiu um entendimento entre todas as nações do mundo sobre a forma progressiva de evitar um aumento de temperatura mais elevado. Depois de anos de negociações, depois de um compromisso de metas limitado aos países desenvolvidos estabelecido pelo Protocolo de Quioto em 1997, depois do falhanço redondo de um acordo em Copenhaga (em 2009), depois de anos de conflitos, avanços e recuos dos EUA e da China, o Presidente Obama e o Presidente Xi Jinping ultrapassaram as suas divergências em setembro de 2014 e conseguiram chegar a um entendimento nesta matéria, concretizado em dezembro de 2016 em Paris.
Formalmente, o estipulado no próprio Acordo estabelece que os EUA só poderão comunicar a sua saída formal três anos após a sua ratificação, o que aconteceu em setembro de 2016, e a saída definitiva só terá lugar um ano após esta comunicação. Porém, o que realmente importa é o divórcio e o isolamento que Trump escolheu. Neste caso, mais do que a parte formal, interessa o pensamento ideológico e a irracionalidade da decisão. Esta saída tem na sua base razões de política interna e de afirmação do Presidente Trump, com justificações que não fazem sentido, pois os custos da inação serão sempre superiores às medidas de mitigação de emissões e os empregos são cada vez mais verdes.
Mais ainda, a saída dos EUA não põe em causa o enorme esforço de redução de emissões e de transição para as energias renováveis que está a ocorrer no mundo mas também por parte de muitos estados americanos, municípios e, principalmente, empresas. Os investimentos em energias renováveis e em eficiência energética vão continuar a acontecer, na América e no mundo, e estamos a caminhar para um planeta e uma economia cada vez mais livre dos combustíveis fósseis. Este alheamento dos EUA fragiliza o multilateralismo e ação concertada à escala mundial, mas não levará outros países atrás.
O Acordo vai proporcionar certamente novas lideranças como a China, permitindo também o levantar da moral da União Europeia que se deve mostrar mais unida e ambiciosa. Renegociar o Acordo é uma verdadeira ficção e o abandono da contribuição dos EUA para o Fundo Climático Verde, que permite aos países com menor capacidade adaptarem-se às consequências das alterações climáticas, é de uma enorme injustiça por parte do país principal responsável pelo problema.
Felizmente, o Acordo de Paris é maior do que qualquer nação ou qualquer governo. Ainda podemos conseguir a promessa de Paris, mas não temos tempo a perder. Os países de todo o mundo devem aproveitar a oportunidade para libertar esse potencial, investir em energia renovável que elimine a poluição nociva do carbono e construir economias mais flexíveis, inclusivas e prósperas.