Wall Street não está convencida de que o carvão saia a ganhar com a retirada do Acordo de Paris

Se Trump abandonar oficialmente o Acordo, o estímulo às acções da indústria do carvão será provavelmente reduzido, diz o analista Jeremy Sussman.

Foto
Reuters

As acções da indústria do carvão nos EUA caíram quando se soube que Donald Trump estaria a inclinar-se para sair do Acordo de Paris sobre as alterações climáticas.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

As acções da indústria do carvão nos EUA caíram quando se soube que Donald Trump estaria a inclinar-se para sair do Acordo de Paris sobre as alterações climáticas.

Como assim?

“Seria de esperar que toda a gente ficasse entusiasmada”, disse ao telefone, na quarta-feira, Michael Dudas, analista sobre o carvão na Vertical Research Partners LLC. “Mas há vermelho no meu monitor.”

Porque é que as empresas de exploração de carvão não estão a crescer?

Em primeiro lugar, segundo Dudas, Wall Street considera que o carvão americano enfrenta problemas mais urgentes no país do que o acordo climático mundial. Estes incluem o crescimento explosivo de centrais eléctricas alimentadas a gás natural e a energias renováveis e o facto de a procura de electricidade nos EUA ter parado de crescer.

Além disso, Trump já convenceu os investidores – ao reverter regulações (incluindo uma destinada a proteger os rios dos efeitos da exploração de carvão) e ao escolher o céptico do aquecimento global Scott Pruitt para dirigir a Agência de Protecção Ambiental – de que a procura de carvão nos Estados Unidos não está à beira de um precipício.

“A realidade é estes assuntos eram mais importantes para os produtores e utilizadores de carvão nos EUA”, disse Dudas.

Na quarta-feira, acções da indústria do carvão (incluindo a Peabody Energy Corp. e a Cloud Peak Energy Inc.) foram adquiridas numa venda de produtos alargada que incluiu gás natural e petróleo – e isto não esteve relacionado com os planos de Trump relativos ao Acordo de Paris.

O contrato mensal de carvão da ICE Futures Europe na Bacia do Rio Powder tinha caído 3,3% na terça-feira, a maior queda desde Fevereiro, de acordo com dados recolhidos pela Bloomberg. A Gas futures fechou na quarta-feira com um valor de 3,04 dólares por milhões de unidades térmicas britânicas (BTU), o valor mais baixo desde 25 de Abril. O petróleo caiu, devido a receios de uma saturação prolongada a nível global.

“Os produtos em geral estão em queda”, disse num email Jeremy Sussman, analista na Clarksons Plateau Securities Inc.

Se Trump abandonar oficialmente o Acordo de Paris, o estímulo às acções da indústria do carvão será provavelmente reduzido, afirmou Sussman. Isto seria “uma continuação da sua posição pró-carvão, um aspecto em que ele tem sido relativamente consistente.”

Também há o facto de as empresas terem de fazer previsões de décadas quando decidem construir uma nova mina de carvão ou uma central eléctrica alimentada a carvão. Neste contexto, elas podem encarar a presidência de Trump como um “percalço”, disse Hans Daniels, CEO da Doyle Trading Consultants LLC.

“O ambiente pode parecer favorável agora, mas como vão ser as coisas daqui a 20, 30, 40, 60 anos?” disse Daniels. “Muita gente continua a considerar que a tendência no longo prazo é uma tentativa de reduzir as emissões de carbono.”

É provável que uma saída do Acordo de Paris não vá aumentar a procura ou os preços do carvão – é mais provável que isto aconteça devido a alterações no clima, no crescimento económico ou preços elevados do combustível, de acordo com Daniel Scott, analista na MKM Partners LLC. Felizmente para os membros da indústria, estes estão numa posição melhor do que anteriormente.

“Eles já não são os monstros falidos ou atolados em dívidas que eram antigamente”, afirma Scott por telefone.

Exclusivo PÚBLICO/Bloobmerg