Vinhos de Portugal voltam ao Rio e partem à conquista de São Paulo

Quarta edição no Rio de Janeiro, primeira em São Paulo: o evento organizado pelos jornais PÚBLICO, O Globo e Valor Económico, em parceria com a ViniPortugal, está de volta numa altura em que as vendas de vinho português estão a aumentar no Brasil.

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Na sua quarta edição, o Vinhos de Portugal no Brasil cresce este ano para São Paulo Sibila Lind (arquivo)

Ainda é cedo para encontrar explicações, mas os números são claros: no primeiro trimestre de 2017 houve um aumento do consumo de vinho português no Brasil. “Depois de no ano passado Portugal ter perdido quota de mercado, este ano conseguiu quase duplicar o volume exportado”, afirma Jorge Monteiro, presidente da ViniPortugal.

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Ainda é cedo para encontrar explicações, mas os números são claros: no primeiro trimestre de 2017 houve um aumento do consumo de vinho português no Brasil. “Depois de no ano passado Portugal ter perdido quota de mercado, este ano conseguiu quase duplicar o volume exportado”, afirma Jorge Monteiro, presidente da ViniPortugal.

É neste “quadro de confiança” que se realiza o Vinhos de Portugal no Brasil, iniciativa da ViniPortugal com os jornais PÚBLICO, de Portugal, O Globo, no Brasil, e este ano também, pela primeira vez, o Valor Económico.

A entrada do Valor Económico no projecto prende-se com aquela que é a grande novidade deste ano: o evento, que tem no Rio de Janeiro a sua quarta edição (de 2 a 4 de Junho, no Casa Shopping, na Barra da Tijuca), vai acontecer pela primeira vez em São Paulo (de 9 a 11, no Shopping JK Iguatemi). “Estamos a crescer muito em valor [de vendas] e isso explica a elevada adesão dos produtores quer para as provas do Rio, quer para as de São Paulo”, sublinha Jorge Monteiro.

“No Rio estamos com 72 produtores de vinho portugueses, o que significa que crescemos em relação ao ano passado, em que tivemos 66”, adianta Simone Duarte, organizadora do evento por parte de Portugal. “É um número muito bom para um ano em que o Brasil está a atravessar uma crise. E a venda de entradas começou a esgotar mais rapidamente do que no ano passado.” Para São Paulo, num evento de estreia e por isso com mais incógnitas, inscreveram-se 66 produtores. “Para o primeiro ano, é também muito bom.”

Já há algum tempo que a ViniPortugal tinha manifestado vontade de levar o evento para São Paulo. “Fazia parte do nosso plano estratégico”, confirma Simone Duarte. Só não aconteceu no ano passado porque o evento do Rio mudou de lugar, para a Barra, e isso implicou mais trabalho. Este ano ficaram finalmente reunidas as condições.

O interesse por São Paulo deve-se, explica Jorge Monteiro, a duas razões principais: “É um mercado onde Portugal tem menor quota [relativamente ao Rio] mas que tem outra dimensão e, por isso, pode ser determinante no crescimento da nossa quota de exportação. Além disso, a população de São Paulo tem maior poder de compra.”

Mas é preciso algum trabalho adicional. Se no Rio, “onde somos mais conhecidos”, o Vinhos de Portugal no Brasil já vai “em velocidade de cruzeiro”, em São Paulo é necessário dar a conhecer e depois consolidar a imagem de Portugal. “Os paulistas consomem menos vinho português que os cariocas, mas São Paulo é uma cidade que, no geral, consome mais vinho”, acrescenta Simone Duarte.

A organizadora sublinha ainda que se trata de um mercado com maior concorrência no que diz respeito a eventos e, por isso, onde “é mais complicado conseguir patrocinadores”. O Vinhos de Portugal no Brasil “é um evento caro [os preços das entradas em São Paulo são um pouco mais elevados porque os custos são maiores], que faz sentido se tiver patrocínios”. No entanto, e com a ligação ao Valor Económico, “o principal jornal financeiro do país”, e ao grupo InfoGlobo, fundamental para garantir a comunicação da iniciativa a um público muito vasto, foi possível concretizar o projecto.

Mercado em mudança

Apesar das boas notícias que chegaram no início deste ano com o aumento das vendas, em 2016 registaram-se mudanças no mercado de consumo no Brasil, que se explicam pela crise em que o país entrou. “O consumidor deslocou-se para produtos de outras gamas, para vinhos mais baratos”, refere o responsável da ViniPortugal, que aconselha os produtores que este ano vão ao Brasil a ter isso em conta na altura de escolherem os vinhos que vão apresentar. No entanto, desde o início de 2017 que não está a haver queda dos preços dos vinhos portugueses.

É cedo para avaliar o actual agravamento da crise política, com a investigação judicial ao Presidente Temer e as manifestações pedindo o seu afastamento, mas Jorge Monteiro considera que o impacto, a existir, será sobre o valor do real, que poderá desvalorizar. Mas, para já, toda a situação “tem muito de imprevisível”.

Por outro lado, é muito importante estar atento ao que se passa com a concorrência. E outro dado que se evidencia entre os números relativos a 2016 é o que aponta para o crescimento de vendas dos vinhos chilenos. “O Chile foi, sem dúvida, o grande ganhador do ano passado.”

É um país que tem a vantagem do preço a que coloca os vinhos no mercado brasileiro por não ter que pagar as altíssimas taxas alfandegárias que países como Portugal e outros da Europa têm que pagar e que atingem os 25%. Mas isso não explica tudo porque, ainda de acordo com Jorge Monteiro, a Argentina, que tem a mesma vantagem, “não beneficiou com isso” em 2016.

Outra notícia positiva para Portugal é o grande crescimento das vendas de espumantes portugueses, que, mesmo sendo ainda “pouco significativos” no conjunto total das exportações, começam a posicionar-se como uma alternativa “de qualidade mas mais acessível” do que o champanhe francês.

Para a ViniPortugal, a aposta mantém-se clara. “A marca país que mais investe no mercado brasileiro continua a ser Portugal. E países como a Itália e a França têm vindo a perder posições.” Este é, sublinha Jorge Monteiro, um trabalho que necessita de continuidade. “Não é numa edição que vemos imediatamente um aumento das exportações, mas temos que ver o que ganhamos no médio prazo e o que perderíamos se não fizéssemos estas iniciativas.”

O Brasil, prossegue, “é um mercado em que estamos no ponto exacto para grandes eventos junto dos consumidores. O produto já está na prateleira. O que precisamos é que, por impulso, o consumidor o tire e o leve para casa”.

Além disso, “se quando fizemos o primeiro evento no Rio Portugal era um país com uma imagem algo desgastada, hoje está com uma imagem muito positiva, seja pelo futebol, pela música ou pela situação económica, e somos um destino turístico do qual os brasileiros gostam muito”. Por tudo isto, conclui, “creio que vamos ser uma descoberta em São Paulo”.