Museu Judaico, em Lisboa, "tem sido discutido intensamente"
Vereadores do PCP pediram mais diálogo com os moradores de Alfama e câmara diz que há disponibilidade para fazer "ajustamentos ao projecto".
A criação do Museu Judaico no Largo de São Miguel, em Alfama, “tem sido um processo de enorme participação”, disse esta quarta-feira o vice-presidente da Câmara Municipal de Lisboa. Nos últimos meses, parte da população e associações locais têm-se queixado de que o projecto do museu não foi discutido publicamente e que o mesmo não se coaduna com o largo para onde está previsto.
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A criação do Museu Judaico no Largo de São Miguel, em Alfama, “tem sido um processo de enorme participação”, disse esta quarta-feira o vice-presidente da Câmara Municipal de Lisboa. Nos últimos meses, parte da população e associações locais têm-se queixado de que o projecto do museu não foi discutido publicamente e que o mesmo não se coaduna com o largo para onde está previsto.
O tema foi levado à reunião pública da autarquia e chegou mesmo a gerar alguma tensão entre os eleitos. O comunista Carlos Moura falou do assunto logo no início da sessão. “Não enjeitamos o facto de termos aprovado a existência deste museu”, disse, referindo-se ao facto de o projecto ter merecido votação unânime na câmara. Mas, acrescentou, “nós cuidávamos que se tivesse tido em conta a participação dos habitantes”.
Foi o vice-presidente Duarte Cordeiro que respondeu, pois Fernando Medina está no estrangeiro. “Temos tido a sensibilidade de ouvir as pessoas”, disse, acrescentando que “não se pode confundir a falta de participação com discordâncias” relativas ao projecto. “Tem sido um processo de enorme participação. Não sei se haverá consenso, mas nem sempre é possível haver consenso.”
O vereador do Urbanismo interveio de seguida. “Não sei se os presentes tinham noção de que, no tempo do fascismo, as sinagogas tinham de estar escondidas, não podiam ter fachada para a rua”, disse Manuel Salgado, que considera “normal” que o projecto do museu inclua uma estrela de David numa das fachadas. O foco neste ponto deixou Carlos Moura indignado. “Não temos nada contra o museu nem contra estarem lá os símbolos do judaísmo. Se não ouvirmos a população e nos comportarmos sobranceiramente às suas preocupações, podemos estar a gerar problemas bastante graves para o futuro.”
Na resposta, Duarte Cordeiro acusou o vereador comunista de aparecer “pela porta do cavalo para apresentar um lamento por uma posição que teve”. “Falta de discussão com a população? Tem sido discutido intensamente. Isto tem sido muito discutido”, disse ainda o vice-presidente, lembrando uma reunião promovida pela Junta de Freguesia de Santa Maria Maior a 6 de Abril. Cordeiro afirmou que Carlos Moura estava a tentar “boicotar uma decisão tomada por unanimidade”.
Foi o também comunista João Bernardino que se indignou desta vez. “Foi uma intervenção muito infeliz. O senhor respondeu de uma forma inaceitável”, disse. Duarte Cordeiro insistiu. “Esta é uma matéria incómoda para o PCP. O PCP quer revisitar a posição que assumiu”, afirmou.
Para acicatar ainda mais os ânimos, o vereador das Finanças tomou a palavra. “Não estou disponível para que as questões que possam estar em causa cheguem a questões religiosas”, afirmou João Paulo Saraiva, salientando que o PCP não tinha posto a tónica nesse ponto. Mas Carlos Moura não gostou da insinuação e gerou-se uma acesa troca de palavras fora dos microfones. “As palavras do sr. vereador não são admissíveis!”, disse o comunista. “Mas tu és surdo? Queres ouvir a gravação?”, gritou Saraiva. “Esta discussão nem sequer tocou tangencialmente [na questão religiosa]”, disse Moura.
Tanto Duarte Cordeiro como Manuel Salgado salientaram que está previsto um grupo de trabalho sobre o museu – e, acrescentou Salgado, nessa sede poderão ser feitos “ajustamentos ao projecto”.
Universidade Sénior ainda com futuro incerto
Quatro meses depois da última visita, os alunos, professores e funcionários da Universidade Internacional da Terceira Idade (UITI) voltaram à câmara para pedir soluções para a instituição. A universidade sénior ocupa um prédio municipal degradado na Rua das Flores e, face aos riscos de segurança, a autarquia decretou obras urgentes. Só que elas ainda não começaram, as aulas estão paradas e os responsáveis da escola não sabem se vão poder abrir no próximo ano lectivo.
Em Janeiro, Fernando Medina comprometeu-se a encontrar uma nova localização para a universidade, definitiva ou temporária, enquanto decorrem as obras. Mas queixam-se os frequentadores da escola, nada aconteceu entretanto. “Para quando está previsto o início das obras na UITI?”, quis saber Maria Isabel Roxo, funcionária da instituição.
Manuel Salgado respondeu que a direcção da universidade se mostrou “interessada em instalar-se provisoriamente” num prédio municipal na Rua Maria Andrade. Mas, acrescentou, esse edifício “é neste momento disputado” por quatro entidades diferentes – e todas querem ocupar o prédio na totalidade.