Antiga habitação de Vasco Branco é agora uma casa das artes

Espólio do cineasta, pintor, ceramista e escritor está exposto ao público num espaço que, mais do que uma casa-museu, é um ponto de encontro cultural e uma residência artística.

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As prateleiras, que se estendem ao longo de três das quatro paredes da sala, estão carregadas de livros – tantos que para os conseguir contar a todos seriam precisas muitas horas -, mas é no topo dos armários que o nosso olhar se fixa. Um conjunto de máquinas de filmar – verdadeiras relíquias – transporta-nos para outras décadas, algures entre os anos de 1958 e 1984, e tentamos imaginar qual daquelas câmaras terá Vasco Branco usado para recolher imagens para O Espelho da Cidade – película que mereceu, em 1963, uma menção especial do júri do cinema amador num festival de cinema independente em Cannes.

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As prateleiras, que se estendem ao longo de três das quatro paredes da sala, estão carregadas de livros – tantos que para os conseguir contar a todos seriam precisas muitas horas -, mas é no topo dos armários que o nosso olhar se fixa. Um conjunto de máquinas de filmar – verdadeiras relíquias – transporta-nos para outras décadas, algures entre os anos de 1958 e 1984, e tentamos imaginar qual daquelas câmaras terá Vasco Branco usado para recolher imagens para O Espelho da Cidade – película que mereceu, em 1963, uma menção especial do júri do cinema amador num festival de cinema independente em Cannes.

Estamos sentados naquela que era a “sala da televisão” da antiga residência de Vasco Branco, cineasta e artista falecido em 2014, que está agora transformada num “porto seguro para os amantes das artes”. Mantendo inúmeros testemunhos da vida do artista no interior daquelas quatro paredes, o edifício número 14 da Rua Príncipe Perfeito, no centro da cidade de Aveiro, funciona como casa-museu, residência artística e também tem um andar dedicado ao alojamento local – uma guest house que respira arte por todos os poros.

Chama-se VIC – Aveiro Arts House (Casa das Artes de Aveiro) e nasceu por iniciativa de Hugo Branco, neto do cineasta, pintor, ceramista e escritor, também ele há muito ligado às artes – fez curadoria de vários eventos culturais, foi dj e tem formação superior em artes digitais. Quando regressou a Portugal – trabalhou fora do país, nomeadamente no México, que foi o seu último ponto de paragem -, tomou consciência que urgia “resolver um problema”. “A casa do meu avô estava fechada há muitos anos e    a opção era vendê-la. Decidi dar um passo em frente e apresentei um projecto à família”, enquadra o coordenador da Aveiro Arts House. 

A partir da ideia base de prestar homenagem ao homem que na área das artes plásticas adoptou o nome artístico VIC, o projecto começou a ser construído e a alargar a sua abrangência. “Já aqui tínhamos muito espólio e obras feitas pelo meu avô, portanto, a proposta de tornar esta casa num local dedicado ao seu trabalho era mais do que óbvia”, justifica Hugo Branco. E obrigatória, também. “Esta casa respira o trabalho dele por todos os lados, e da minha avó também”, acrescenta.

Uma das maiores provas da vivência de Vasco Branco dentro da casa situada ao lado do Museu de Aveiro reside, precisamente, na sala de projecção de filmes, com capacidade para 42 pessoas, onde outrora “se exibiam filmes que estavam proibidos pela censura”, recorda o neto do cineasta. O auditório mantém-se, praticamente, intocável – numa das paredes estão expostos os vários diplomas e reconhecimentos, muitos dos quais internacionais, que Vasco Branco obteve ao longo da sua carreira – e é um dos pontos centrais do projecto VIC – Aveiro Arts House. “Fazemos aqui várias projecções de cinema e também algumas oficinais, como será o caso da oficina de captação e edição de vídeo [marcada para este e para o próximo fim-de-semana]”, exemplifica o coordenador da casa que faz questão de manter um programa cultural e artístico constante.

Além das actividades que vão sendo promovidas ao longo do ano, a VIC é, também, um espaço de residência artística - o segundo andar da casa está preparado para receber artistas que se associam ao projecto – e “ponto de encontro de amantes das artes”. “Já era assim no tempo do meu avô, em que recebia tantos artistas, e vai continuar a ser assim”, garante Hugo Branco. A casa alberga, ainda, uma pequena galeria dedicada a expor as obras de Vasco Branco – neste momento, apresenta uma colecção de peças de cerâmica dedicadas a Miró. De arte é também feita a terceira componente do projecto, a guest house, onde há um quarto dedicado a cada uma das vertentes artísticas de Vasco Branco: cerâmica, pintura, cinema e literatura.