Karen Armstrong vence Prémio Princesa das Astúrias para as Ciências Sociais

Especialista em história comparada das religiões, a investigadora inglesa lançou o movimento Carta pela Compaixão em 2008.

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A investigadora Karen Armstrong, especialista inglesa em história comparada das religiões, venceu o Prémio Princesa das Astúrias para as Ciências Sociais, anunciado esta quarta-feira em Oviedo.

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A investigadora Karen Armstrong, especialista inglesa em história comparada das religiões, venceu o Prémio Princesa das Astúrias para as Ciências Sociais, anunciado esta quarta-feira em Oviedo.

Autora de documentários para televisão e de livros como Uma História de Deus (1993), Jersusalém: Uma Cidade, Três Religiões (1996), O Islamismo. História Breve (2000), Buda (2002), Grandes Tradições Religiosas (2006) ou Doze Passos para Uma Vida Solidária (2009), todos eles publicados em Portugal pela Temas e Debates, Armstrong é uma das mais lidas e discutidas pensadoras actuais do fenómeno religioso.

É também responsável pelo lançamento do projecto Carta pela Compaixão, um movimento que criou com a dotação monetária do prémio TED, que lhe foi atribuído em 2008. Pensado para unir pessoas de diferentes nacionalidades e credos em torno do princípio fundamental da chamada regra de ouro, uma ética da reciprocidade formulada de diversos modos nos textos canónicos das principais religiões do mundo (“Tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o também a eles”, diz Jesus, segundo Mateus, no Sermão da Montanha), a organização agrega já pessoas de mais de uma centena de países.

Numa breve declaração de agradecimento do prémio – que inclui um cheque de 50 mil euros e uma escultura de Joan Miró –, a investigadora lembra que “vivemos em tempos perigosos” e que a crescente interligação entre as populações do planeta aos mais diversos níveis está a ser paradoxalmente acompanhada de “um regresso agressivo ao nacionalismo e a guetos religiosos e culturais”. Para Armstrong, “é essencial compreendermos as aspirações religiosas, políticas e ideológicas dos nossos vizinhos globais”, que não correspondem necessariamente ao que imaginamos que sejam. “Temos de reexaminar urgentemente as ideias feitas e os preconceitos e ver, para lá dos soundbites dos media, as complexas realidades que estão a dilacerar o nosso mundo, percebendo, a um nível profundo, que não partilhamos o planeta com seres inferiores, mas com iguais”, escreve ainda a premiada.

Nascida em 1944 em Wildmoor, no Reino Unido, numa família com origens irlandesas, Karen Armstrong ingressou aos 18 anos num convento católico e foi como noviça, e depois já como freira professa, que estudou Inglês na Universidade de Oxford. Mas em 1969, aos 25 anos, deixou o convento, no qual teria sofrido abusos físicos e psicológicos que mais tarde relatou ao jornal The Guardian”.

Após ter abandonado o convento, licenciou-se em Literatura Contemporânea e foi professora e investigadora no Bedford College da Universidade de Londres e no Colégio Feminino James Allen. Em 1982 escreveu o seu primeiro livro, Through the Narrow Gate, um relato da sua própria experiência, e logo no ano seguinte escreveu e apresentou um programa de televisão sobre a vida de S. Paulo e o impacto do pensamento paulino no cristianismo, ao qual se seguiram outros documentários para o Channel Four, um canal inglês de serviço público.

Desde meados dos anos 80 do século passado, tem-se dedicado sobretudo a escrever sobre religião, e em particular sobre o património comum do judaísmo, cristianismo e islamismo.