A descer nas sondagens, May faz mira a Corbyn e ao "Brexit"
Líder conservadora britânica tenta recuperar do fiasco que marcou o lançamento do seu programa eleitoral e avisa que, se o líder trabalhista vencer as eleições, vai enfrentar "sozinho e nu" as negociações com a UE.
A campanha para as legislativas britânicas de 8 de Junho não está a ser o passeio triunfal que Theresa May previa quando decidiu antecipar as eleições em busca da grande maioria que as sondagens antecipavam. Com a vantagem para os trabalhistas a emagrecer, a líder conservadora lançou na terça-feira um duríssimo ataque contra Jeremy Corbyn, acusando o rival de não estar minimamente preparado para negociar a saída do Reino Unido da União Europeia, a questão “fundamental e determinante” que o país enfrenta.
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A campanha para as legislativas britânicas de 8 de Junho não está a ser o passeio triunfal que Theresa May previa quando decidiu antecipar as eleições em busca da grande maioria que as sondagens antecipavam. Com a vantagem para os trabalhistas a emagrecer, a líder conservadora lançou na terça-feira um duríssimo ataque contra Jeremy Corbyn, acusando o rival de não estar minimamente preparado para negociar a saída do Reino Unido da União Europeia, a questão “fundamental e determinante” que o país enfrenta.
Desde Abril, quando surpreendeu todos com a decisão de avançar para eleições, que a primeira-ministra britânica e a sua equipa – entre eles o australiano Lynton Crosby, guru da estratégia eleitoral – tentam concentrar a campanha nos dois temas que lhe são mais favoráveis: o “Brexit” (que May promete concretizar sem reservas) e as dúvidas que pairam sobre as capacidades de liderança de Corbyn, deputado da ala socialista do Labour catapultado por um movimento de bases para a liderança do maior partido da oposição.
Mas as propostas “radicais” de Corbyn – incluindo a abolição das propinas ou a renacionalização dos transportes ferroviários – revelaram-se mais populares do que a imprensa ou os conservadores admitiam. E um fiasco de May, ainda antes do atentado em Manchester, acabou por dar um enorme empurrão nas até então magras perspectivas dos trabalhistas.
O programa eleitoral dos conservadores propunha que um maior número de pensionistas que recebem apoio domiciliário contribua para esses serviços, sendo o pagamento feito após a morte e podendo incluir a venda das suas casas. Confrontada com fortes protestos, a primeira-ministra acabou por admitir um tecto para as contribuições, mas o meio-recuo não impediu um tombo dos conservadores nas sondagens – dos 20 pontos de diferença para o Labour no início de Maio, para apenas cinco num inquérito divulgado sexta-feira.
Os especialistas sublinham que a média das últimas sondagens aponta para uma vantagem muito mais confortável dos tories (um inquérito do ICM para o Guardian publicado esta terça-feira aponta para uma diferença de 12 pontos). E os assessores de May garantem que ela sempre soube que a campanha seria difícil. Mas o reinício da campanha, depois da pausa forçada pelo atentado, mostrou a primeira-ministra ao ataque, tentando colocar de novo Corbyn e o “Brexit” no centro do debate. “As negociações vão começar apenas 11 dias depois das eleições e ele não está preparado”, disse May, num discurso sobre o "Brexit" na cidade de Wolverhampton.
Aludindo à entrevista do líder trabalhista, segunda-feira à noite, nas estações Sky e Channel Four, em que voltou a ser questionado sobre a sua oposição à renovação do arsenal nuclear britânico, com as dúvidas sobre o benefício de acções militares contra extremistas ou o reforço dos poderes da polícia, May diz que se o Labour vencesse (hipótese que voltou a admitir) “ele iria ver-se sozinho e nu nas negociações com a União Europeia”.
Ela, que na entrevista às mesmas estações não conseguiu detalhar os seus planos para a reforma dos cuidados aos idosos, garante estar “preparada para as decisões difíceis que a liderança exige” e reafirmou que não aceitará um acordo a qualquer custo com a UE – sugestão que alarma tanto as empresas como parece cair bem junto dos eleitores.
E depois de duas semanas auspiciosas, o líder trabalhista acabou por abrir o flanco numa entrevista na rádio, esta terça-feira, ao não ser capaz de quantificar quanto irá custar o seu plano de creches gratuitas para as crianças entre os dois e os quatro anos. “Ahhh…, vai custar, ahh…. Vai obviamente custar muito, isso é certo”, afirmou, enquanto procurava os dados no seu iPad.
"Estejam certos ou errados, o eleitorado britânico parece estar num momento volátil e, com menos de duas semanas para as eleições, a vitória de Theresa May é mais difícil de prever do que alguma vez foi", escreveu o colunista do Politico, Tom McTague, admitindo que a líder conservadora só será bem sucedida “se nos próximos dez dias conseguir virar a campanha para o território [que lhe é mais favorável] ”.