Kevin Spacey: “Não estamos preocupados em competir com a realidade”
House of Cards regressa esta terça-feira para a aguardada quinta temporada e chega a Portugal com estreia mundial no TVSéries. Estivemos à conversa com o maquiavélico Frank Underwood.
É a série política que não fala sobre o momento político actual e é assim que se quer manter. House of Cards, o sucesso global da Netflix que conta a história da ascensão do congressista Frank Underwood (interpretado pelo actor Kevin Spacey) ao poder, está de volta para uma quinta temporada que dilui cada vez mais a fronteira entre a ficção e a realidade.
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É a série política que não fala sobre o momento político actual e é assim que se quer manter. House of Cards, o sucesso global da Netflix que conta a história da ascensão do congressista Frank Underwood (interpretado pelo actor Kevin Spacey) ao poder, está de volta para uma quinta temporada que dilui cada vez mais a fronteira entre a ficção e a realidade.
A série, que se estreia mundialmente esta terça-feira (em Portugal, vai para o ar à meia-noite no TVSéries), recomeça no ambiente de tensão das eleições presidenciais que opõem o actual Presidente ao republicano Will Conway (Joel Kinnaman). Para assegurar o segundo mandato e tentar travar a investigação aos seus crimes, Frank conta com a ajuda de Claire (interpretada pela actriz Robin Wright) para projectar uma campanha alicerçada no momento de terror que concluiu a quarta temporada. Um enredo que parece demasiado familiar e que continua a suscitar comparações com a política norte-americana. “Sei que toda a gente quer comparar a realidade alternativa e ficcionada de um programa de televisão com coisas que estão a acontecer no mundo real”, começa por dizer Kevin Spacey, ao telefone com jornalistas de vários países. “Nós não estamos preocupados em competir com a realidade, nem eu quero participar num diálogo sobre o actual Presidente dos Estados Unidos.”
O actor norte-americano, que sempre fugiu a qualquer paralelo estabelecido entre o drama político e a realidade política norte-americana, sublinha que não é possível comparar uma personagem ficcionada como Frank Underwood a políticos de carne e osso. “Muitas vezes achamos que as pessoas vão assumir que roubamos [ideias] das manchetes dos jornais, mas de facto tem acontecido o contrário”, brinca Spacey. E sublinha o contraste entre a dinâmica de uma série como House of Cards e de um programa de comédia como Saturday Night Live (SNL), cuja imitação de Trump (interpretado por Alec Baldwin) se tornou viral. “Não funcionamos como os argumentistas do SNL, que estão intencionalmente a satirizar ou a imitar a política da vida real. Não é esse o nosso trabalho”, defende Kevin Spacey.
Se é verdade que o terrorismo, o conflito com os media, o eleitorado fragmentado e a fraude eleitoral são temas que os espectadores já conhecem de antemão, House of Cards regressa com os jogos de poder do costume que são pautados por novas alianças e impulsionados pela ambição desmedida que vai testar os limites da democracia. “Tento nunca adoptar uma posição moral em relação às personagens que interpreto, porque o meu papel não é julgar uma personagem”, explica o actor quando questionado sobre o carácter de Frank Underwood. “É o público que deve decidir como se sente em relação a uma determinada personagem.”
A quinta temporada é a primeira sem o criador Beau Willimon, cujo lugar foi ocupado pelos showrunners Melissa James Gibson e Frank Pugliese. Com os novos 13 episódios chegam também dois reforços ao elenco: Campbell Scott será Mark Usher, um consultor republicano que tem como missão garantir a vitória de Will Conway, e Patricia Clarkson, que interpretará Jane Davis, figura divisiva que chega ao governo e se torna amiga de Claire. É, aliás, a mulher de Frank que, à semelhança das temporadas anteriores, vai ser a sua maior aliada numa incessante luta pelo poder sem olhar às consequências. “Eles funcionam melhor juntos do que separados. E já sobreviveram a diversas coisas que poderiam destruir outras pessoas”, clarifica Kevin Spacey ao PÚBLICO.
O protagonista de House of Cards, que à semelhança de Robin Wright é também produtor executivo da série, revelou aos jornalistas que o processo de preparação começa um ano antes da rodagem. “Quando estamos a meio das gravações de uma determinada temporada, já estamos a discutir, a planear e a criar aquilo a que chamamos ‘a Bíblia’ de uma temporada, com as novas personagens e histórias que queremos introduzir.” Caracterizando-o como um método “muito mais orgânico e criativo”, o actor revela que o seu envolvimento total no projecto faz com que seja mais fácil mergulhar no enredo. “Não é como se eu aparecesse no set e me dessem um guião e eu fosse para um canto preparar-me para interpretar Frank Underwood.”
A premiada série do Netflix, que arrecadou seis Emmys e dois Globos de Ouro ao longo dos anos, é tida como a principal responsável pela aposta do serviço de streaming na ficção original. A sua primeira temporada, que se estreou em 2013, tornou-se um sucesso imediato à escala planetária, obrigando a indústria televisiva a olhar para a Internet como uma plataforma válida para contar histórias e viabilizando a lógica de Binge-watching (o visionamento de uma temporada de uma só vez). Mas a popularidade de House of Cards também se prende com a elaborada máquina de marketing que constrói meticulosamente o suspense que antecede cada temporada.
O primeiro teaser da quinta temporada da série foi desvendado no dia da tomada de posse de Donald Trump. No trailer completo da série, vemos protestos anti-Underwood que são indissociáveis dos protestos anti-Trump que ocorreram nos dias que se seguiram às eleições presidenciais norte-americanas. Houve um vídeo promocional da campanha de Frank Underwood em que Claire se dirige directamente ao povo americano. Pete Souza, o fotógrafo de Obama que tem feito uso do seu arquivo para ridicularizar Trump, foi até chamado para fazer uma sessão fotográfica em que acompanha Kevin Spacey como Frank Underwood durante a campanha com o maior realismo possível. Afinal, não é assim tão difícil de se aproximar o real do fictício.