O (novo) discurso de Passos vem tarde e não cola
Passos Coelho apostou tudo no diabo e perdeu. E perdeu de um forma que dificilmente será recuperável.
Depois de a economia começar a acelerar, Pedro Passos Coelho e o PSD resolvem mudar de discurso. O alvo já não é o “falhanço” do Governo. Mas a sua incapacidade para impor uma agenda reformista capaz de sustentar os bons indicadores económicos. Indicadores que, defende Passos Coelho, só são positivos por causa da agenda reformista do Governo PSD/CDS.
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Depois de a economia começar a acelerar, Pedro Passos Coelho e o PSD resolvem mudar de discurso. O alvo já não é o “falhanço” do Governo. Mas a sua incapacidade para impor uma agenda reformista capaz de sustentar os bons indicadores económicos. Indicadores que, defende Passos Coelho, só são positivos por causa da agenda reformista do Governo PSD/CDS.
O PSD passa, assim, a insistir num conjunto de reformas que, no essencial, recuperam ideias do seu programa eleitoral ou mesmo do seu programa de Governo quando, em conjunto com o CDS, lideraram o país nos difíceis anos da troika.
Elogia-se a coerência. O PSD e Pedro Passos Coelho não podem ter outro discurso. O problema não está, no entanto, na coerência entre o que Passos Coelho agora defende, e o que Passos Coelho, primeiro-ministro, defendia.
O problema é que este é o plano B de Passos Coelho, líder da oposição. O plano A era outro. Era o que o fazia dizer que a política económica de Costa e Centeno estava "errada", que "alguma coisa em Portugal” não estava “a correr bem" e que se não tivéssemos “capacidade de atrair investimento” externo cresceríamos “sempre pouquinho". Passos dizia isto poucos dias depois de os dados do primeiro trimestre de 2016 darem conta de uma economia em desaceleração. O PIB crescia 0,1% em cadeia e 0,8% em termos homólogos. Um ano depois, o PIB cresce 2,8% em termos homólogos e 1% face ao trimestre anterior.
Era o discurso de quem acreditava que antes das eleições autárquicas haveria eleições legislativas porque a geringonça não se aguentaria. Passos acreditava de tal forma neste cenário que o disse a Assunção Cristas, tal como a líder do CDS confessaria em entrevista dada ao PÚBLICO: “em final de Agosto, ele [Passos Coelho] entendia que podia haver um risco de eleições legislativas antes das eleições autárquicas”.
Passos Coelho apostou tudo no diabo e perdeu. E perdeu de forma que dificilmente será recuperável. Não é difícil acreditar que parte dos bons indicadores económicos que se registam hoje sejam resultado das políticas do anterior Governo, mas a Passos Coelho não basta dizê-lo alto. Tem de fazer essa demonstração. Até hoje não o fez. E dificilmente o fará.
A mudança de discurso não só vem tarde como não cola.