Fazer um curso superior ficou mais barato 179 euros
Nos últimos cinco anos desceram os custos directos com a educação, mas aumentaram as despesas com a habitação, alimentação e transportes
Estudar no ensino superior custa, em média, 6445 euros anuais a cada estudante. Quase três quartos deste valor destinam-se aos custos de vida, como o alojamento, alimentação e transportes, concluiu um estudo realizado por investigadores do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, que é apresentado na próxima terça-feira. A despesa anual com um curso superior sofreu uma descida de 2,7% face a 2011, um resultado que pode ser explicado com algumas das consequências da crise financeira que afectou o país.
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Estudar no ensino superior custa, em média, 6445 euros anuais a cada estudante. Quase três quartos deste valor destinam-se aos custos de vida, como o alojamento, alimentação e transportes, concluiu um estudo realizado por investigadores do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, que é apresentado na próxima terça-feira. A despesa anual com um curso superior sofreu uma descida de 2,7% face a 2011, um resultado que pode ser explicado com algumas das consequências da crise financeira que afectou o país.
O valor do custo anual da frequência do ensino superior para cada estudante foi apurado pelo Instituto de Educação da Universidade de Lisboa no último ano lectivo 2015/16. Este número representa uma redução de 179 euros por ano (2,7%), face a 2010/11, quando este mesmo grupo de cientistas tinha feito uma investigação semelhante. Esta descida deve-se à redução de 217 euros anuais nos custos da educação, que incluem propinas, taxas, mas também livros, equipamento e material. Esse custo é agora de 1718 euros anuais. Por seu turno, os custos de vida tiveram uma subida ligeira de 0,8%, fixando-se agora em 4727 euros.
Esta diminuição do custo anual da frequência do ensino superior é “algo surpreendente”, admite Luísa Cerdeira, que coordenou este trabalho. Todavia, a investigadora da Universidade de Lisboa sublinha que os baixos valores da inflação — que foi inclusive negativa em 2014 — ao longo deste período, e a necessidade de contracção de custos a que foram forçadas uma parte significativa das famílias, em função da diminuição de rendimentos entre 2011 e 2016, podem ajudar a explicar esta variação.
A estes aspectos do contexto geral do país juntam-se outras razões do próprio sistema de ensino superior. Nos últimos anos, “as instituições privadas têm vindo a fazer um esforço na fixação do valor das propinas e taxas”, sublinha Cerdeira.
Aliás, a maior baixa de custos do ensino superior ocorre nos custos de educação do sector privado (-4,1% no universitário privado e -18,5% no ensino politécnico privado). O ensino particular passou por “uma crise acentuada com a quebra significativa de estudantes e de procura de alunos do 1.º ano”, contextualiza a investigadora, o que levou algumas instituições a baixar de forma significativa o valor das suas propinas e taxas para poder atrair os alunos.
O estudo sobre os custos do ensino superior será apresentado na próxima terça-feira, num seminário na Universidade de Lisboa. A equipa de investigadores planeia fazer outros dois seminários, no início do próximo ano lectivo, e até lá aprofundar a análise de alguns dos resultados encontrados nesta pesquisa.
Público versus Privado
Globalmente, fica bastante mais caro estudar numa universidade privada (9835 euros anuais) do que numa pública (5575 euros). Quando são contabilizadas só as despesas com educação, os custos no ensino público são também inferiores aos registados no ensino privado. Enquanto um estudante de uma universidade pública gasta 1283 euros anuais com estas despesas, para um estudante privado esse valor ascende a 4053 euros. A diferença é menos significativa no que toca a despesas correntes. Para os alunos das universidades públicas elas fixam-se em 4293 euros, enquanto para os das universidades privadas valem 5783 euros.
Este estudo permite também perceber quais são as áreas científicas mais caras e mais baratas para os estudantes e as famílias. Paradoxalmente, são os cursos de “papel e lápis” os mais caros. As formações superiores na área de Educação são aquelas em que os estudantes assumem, no ensino público, custos mais elevados (7001 euros anuais), seguindo-se Gestão (6294) e Ciências Sociais e Direito (6010). Em sentido contrário, os cursos que saem “mais baratos” aos alunos são os de Ciências, com um custo global anual de 4710 euros, seguindo-se Medicina, Medicina Dentária e Farmácia (5024) e Enfermagem e outras profissão de saúde (5425).
A investigação foi feita com base num inquérito aplicado, entre Maio e Outubro do ano passado, a uma amostra de 1087 estudantes, tanto do ensino público (universidades e politécnicos), como privado (universidades e politécnicos). Os autores calcularam também a acessibilidade financeira dos estudantes do ensino superior português, ou seja, o preço líquido que estes têm de pagar num ano académico para frequentarem um estabelecimento de ensino superior versus o seu rendimento ou o da sua família. Neste cálculo são deduzidos o valor do apoio concedido em bolsas e outros apoios do Estado.
Segundo os investigadores do Instituto de Educação, os estudantes ou as suas famílias usam 62,8% do valor da mediana do rendimento anual de um adulto português para pagar a frequência do ensino superior.
“A acessibilidade financeira dos estudantes portugueses é muito desfavorável no contexto internacional”, avalia Luísa Cerdeira, comparando com outros países onde estudos semelhantes foram realizados recentemente. Os portugueses gastam mais de duas vezes o que gastam os suecos e quase duas vezes e meia mais do que os alemães.