Colecção de Julião Sarmento num novo centro de arte em Lisboa
As 1200 obras da colecção privada de Julião Sarmento vão mudar-se para um novo centro de arte contemporânea em Belém. O edifício da Câmara Municipal de Lisboa será recuperado pelo arquitecto Carrilho da Graça.
A colecção particular de Julião Sarmento vai estar num novo centro de arte contemporânea a criar em Lisboa. O edifício, conhecido como Pavilhão Azul, fica na Avenida da Índia, junto ao Centro Cultural de Belém, é propriedade da Câmara Municipal de Lisboa e será alvo de uma intervenção do arquitecto João Luís Carrilho da Graça. Vai ser a residência das 1200 peças da colecção do artista durante um período de cinco anos, renováveis. O protocolo entre Julião Sarmento e a autarquia lisboeta será assinado esta segunda-feira, dia 29.
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A colecção particular de Julião Sarmento vai estar num novo centro de arte contemporânea a criar em Lisboa. O edifício, conhecido como Pavilhão Azul, fica na Avenida da Índia, junto ao Centro Cultural de Belém, é propriedade da Câmara Municipal de Lisboa e será alvo de uma intervenção do arquitecto João Luís Carrilho da Graça. Vai ser a residência das 1200 peças da colecção do artista durante um período de cinco anos, renováveis. O protocolo entre Julião Sarmento e a autarquia lisboeta será assinado esta segunda-feira, dia 29.
“Para mim uma colecção de arte faz sentido se as obras puderem ser vistas pelas pessoas”, diz ao Público Julião Sarmento sobre a decisão de “emprestar” a sua colecção à cidade de Lisboa. A ideia surgiu depois da exposição Afinidades Electivas – título inspirado numa obra de Goethe – que esteve no então Museu da Electricidade (actual MAAT) e na Fundação Carmona e Costa, em 2015. Comissariada por Delfim Sardo, mostrava 300 obras de 100 artistas com os quais o artista plástico sente afinidades: efectivas ou artísticas. Foi o abrir da curiosidade, explica Sarmento: “Várias pessoas mostraram curiosidade em relação ao resto das peças e achei que seria interessante poder mostrar esta colecção, que é orgânica, está sempre a aumentar, porque eu compro, mas sobretudo é fruto de trocas com outros artistas.” Nela, pode acompanhar-se um percurso, ler uma espécie de autobiografia que reflecte as preferências ou correlações estéticas daquele que é um dos nomes mais conceituados das artes visuais portuguesas, mas que também conta os caminhos por onde se tem movimentado a arte contemporânea.
Também neste caso se fala de cedência ou troca. A possibilidade de ver uma colecção de arte que integra múltiplas técnicas – pintura, escultura, desenho, instalações, vídeo ou fotografia – e a renovação de um edifício que estava abandonado andam ligadas. Antigo armazém da ModaLisboa, o Pavilhão Azul é uma construção de dois pisos, do século XVIII, e está “livre” há vários anos, refere a vereadora da Cultura Catarina Vaz Pinto. “A criação deste centro de arte contemporânea onde irá residir a colecção de Julião Sarmento durante os próximos anos correspondeu a um acordo de vontades. Achámos que fazia todo o sentido mostrar aquele conjunto notável de peças e reabilitar um espaço que está desaproveitado para a cidade”, explica, acrescentando que o objectivo é que o centro possa abrir em finais de 2018. “Tudo irá depender das obras”, acrescenta. “Foi o primeiro lugar que me mostraram e pareceu-me perfeito, muito bem localizado e com uma escala certa, uma escala humana”, diz por sua vez o artista. O centro terá curadoria de Sérgio Mah, comissário de exposições e professor nas áreas da Fotografia e da Arte Contemporânea que já trabalhou também com Paulo Nozolino, Jeff Wall, Thomas Demand, David Claerbout, Pedro Costa, Victor Burgin, Joel Sternfeld, Roman Signer, Tacita Dean ou Walid Raad.
O Pavilhão Azul deverá entretanto receber o nome da colecção, SILD. “É um nome fácil de dizer em qualquer língua, com o atractivo de suscitar alguma curiosidade quanto ao seu significado”, sublinha Sarmento, que vai dar total liberdade ao curador para trabalhar com as peças que começou a coleccionar quando era ainda estudante de Belas Artes. Dela, constam nomes como Joaquim Rodrigo, Miquel Barceló, Jorge Molder, Álvaro Lapa, Pedro Cabrita Reis, Eduardo Batarda, Rui Chafes, Bruce Nauman, Cindy Sherman, Andy Warhol, Nan Goldin, Joseph Beuys, Pierre Bonnard, Marcel Duchamp, Cristina Iglesias, Adriana Varejão ou Marina Abramovic.
“Poder ter uma colecção como esta é uma mais-valia para a cidade de Lisboa”, acrescenta Catarina Vaz Pinto, justificando desta forma a cedência do espaço. “Este é um centro de arte público para uma colecção privada”, precisa a vereadora sobre os moldes do acordo com opção de renovação. Cabe a Sérgio Mah a decisão sobre as exposições a organizar, com obras da colecção ou inspiradas no acervo de Julião Sarmento.