O dia em que Henrique falou, David cantou e Marcelo encantou
A visita do Presidente ao Luxemburgo acabou em apoteose na romaria anual da Nossa Senhora de Fátima. Marcelo vai propor que o país seja observador da CPLP e anunciou que os grãos-duques vão a Portugal em 2018.
Acabou em apoteose a visita do Presidente da República ao Luxemburgo. Já fora da visita de Estado, esta quinta-feira foi o dia em que o grão-duque falou, David Carreira cantou e Marcelo Rebelo de Sousa encantou várias gerações de portugueses no país.
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Acabou em apoteose a visita do Presidente da República ao Luxemburgo. Já fora da visita de Estado, esta quinta-feira foi o dia em que o grão-duque falou, David Carreira cantou e Marcelo Rebelo de Sousa encantou várias gerações de portugueses no país.
Em Wiltz, uma cidade do norte do país muito perto da fronteira com a Bélgica e a França, cerca de 20 mil portugueses distribuíam-se entre a missa campal no santuário local de Nossa Senhora de Fátima, as barraquinhas de comes e bebes à portuguesa e o Lycée du Nord, transformado em recinto festivaleiro.
Sempre acompanhado pelos grãos-duques, Marcelo Rebelo de Sousa soube dar a cada momento aquilo que o momento pedia. A solenidade da missa que, no 50.º aniversário do santuário contou com a presença da imagem peregrina de Fátima, impediu o chefe de Estado de corresponder aos apelos dos fiéis que o chamavam, à entrada e à saída. Rezou, comungou e acenou com o lenço branco à despedida.
Entretanto, no Lyceé du Nord, começava o curto espectáculo de David Carreira entre os gritos histéricos das jovens fãs, que sob o comando do cantor saltavam, agitavam os braços e filmavam o seu herói musical. “Não vás em grupos”, cantavam em coro. Mas era em grupo que a multidão gritava "David, David..." Como depois entoou "Marcelo! Marcelo!...". E também "Henrique! Henri!; Portugal! Portugal!; Luxemburgo! Luxemburgo!".
A estrela no palco era já o Presidente português, que puxou pelo orgulho nacional e inflamou o ego dos emigrantes ao longo de todo o discurso. “Os mais importantes aqui sois vós que, desde os anos 60, trabalhando, estudando, criando riqueza, tendes mostrado que os portugueses, quando são bons, são os melhores dos melhores.”
Aproveitando o entusiasmo e em ritmo de concerto, foi desfiando os sucessos do país, do Nobel de Saramago aos Pritzker de Siza Vieira e Souto de Moura, do melhor jogador do mundo ao Europeu de futebol, da Eurovisão à vitória do Manchester United na Liga Europa, sob o comando de Mourinho. A cada evocação, uma ovação do público.
“Somos ainda melhores quando suportamos uma crise durante cinco anos e meio, mas conseguimos sair e começar a crescer, e com a vossa ajuda, pois em 2016 aumentou o vosso apoio financeiro”, acrescentou, arrancando mais gritos e palmas.
Quando os ânimos já estavam ao rubro, Marcelo fez um pedido, aquele que mais repetiu em toda a visita: “Inscrevam-se para votar nas eleições”. E fez uma promessa, que já tinha formulado de manhã nos Encontros com as Comunidades: “Há 17 mil portugueses inscritos. Se houver mais 10 mil até 13 de Julho, quando acaba o recenseamento, eu volto cá antes do fim deste ano”.
E deu duas notícias: anunciou que vai pedir que o Luxemburgo tenha o estatuto de observador da CPLP, como já têm a Turquia,o Japão e a República Checa e adiantou que os grãos-duques visitam Portugal em 2018.
Foi então que, para surpresa geral, Henrique do Luxemburgo se dirigiu ao microfone e falou à multidão. Facto raro, garantem os jornalistas locais, que já não se recordam de uma intervenção diante do povo, para além dos discursos na varanda do palácio no dia nacional, 23 de Junho.
“O vosso Presidente é um homem que vos ama. Ele trouxe-nos o sol, a alegria e o calor humano. É justo agradecer o trabalho extraordinário que cada um de vocês faz aqui, ajudando a construir este país. Vão à universidade e façam uma carreira extraordinária. Continuem a construir este país”, disse.
Rematou com uma mensagem comum a Marcelo: “Mais do que portugueses ou luxemburgueses, vocês são sobretudo cidadãos europeus” E não recebeu só uma grande salva de palmas, mas ouviu chamar pelo seu nome com tanta energia como antes tinham chamado por Marcelo.
Quando a banda tocou A Portuguesa, a multidão cantou tão alto que se deve ter ouvido do fundo do vale ao cimo daqueles montes da Eislek (Terra do Gelo). Marcelo acompanhou Henrique até à saída do recinto e voltou para trás, para mergulhar na multidão que o esperava. A ele e a David Carreira.
Os mais novos à frente, atrás das baias, tentavam desesperadamente tocar, beijar e tirar selfies com o cantor. Os mais velhos e as famílias, mais atrás, cercavam o Presidente com a mesma ânsia, temperada pela idade. David percorreu dezenas de metros ao longo da cortina de metal dando os abraços e beijos possíveis, até à saída.
Marcelo, rodeado de meia dúzia de seguranças pouco habituados a estas andanças, não deixou ninguém sem a selfie e o abraço desejado. Andou bem mais de uma hora pelo recinto, pois a seguir ao seu ídolo, também os adolescentes quiseram tocar no Presidente. E este, como bom professor, ter-lhes-á repetido os apelos que fez ao longo destes últimos três dias: estudem, votem, fiquem ou voltem, mas participem.