Setúbal celebra com música as migrações felizes
Começa nesta quinta-feira mais um encontro entre músicos consagrados e jovens aprendizes. Quatro dias de festa a pensar na inclusão e em viagens para cá e para lá. Sobretudo na Península Ibérica.
São muitos os motivos para rumar até Setúbal por estes dias, para a 7.ª edição do Festival de Música: Grand Union Orchestra de Londres, Sinfonietta de Lisboa, Coro Gulbenkian, Orquestra Ensemble Juvenil de Setúbal, Extravaganza de Guitarras, com Dejan Ivanovich (Bósnia), e as exposições Lanzarote — A Janela de Saramago (João Francisco Vilhena) e Iberian Peninsula/Migrations (Graça Pinto Basto e Maria João Frade).
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São muitos os motivos para rumar até Setúbal por estes dias, para a 7.ª edição do Festival de Música: Grand Union Orchestra de Londres, Sinfonietta de Lisboa, Coro Gulbenkian, Orquestra Ensemble Juvenil de Setúbal, Extravaganza de Guitarras, com Dejan Ivanovich (Bósnia), e as exposições Lanzarote — A Janela de Saramago (João Francisco Vilhena) e Iberian Peninsula/Migrations (Graça Pinto Basto e Maria João Frade).
O tema “migrações” foi escolhido por Ian Ritchie, o director artístico (britânico) de uma festa que há sete anos mobiliza escolas e cidadãos para a educação e fruição musical. No total, mais de dez mil alunos já participaram no Festival de Música de Setúbal, que teve a sua primeira edição em 2011, a partir da vontade de Helen Hamlyn, uma benfeitora também britânica que gere um fundo multimilionário com o seu nome — Helen Hamlyn Trust. Com ele, pretende “melhorar a vida das pessoas”, sobretudo “através da cultura e da arte” e em várias geografias. E há uma dezena de anos que se apaixonou pela cidade de Setúbal.
O festival decorre até domingo, dia 28, com concertos no Fórum Municipal Luísa Todi, na Igreja do Convento de Jesus, na Igreja de S. Simão (Azeitão), no Museu do Trabalho Michel Giacometti, na Casa d’Avenida, no Auditório José Afonso e na Baixa de Setúbal.
Uma das actuações mais emblemáticas e mobilizadoras é o cortejo das escolas e dos grupos comunitários da cidade, num desfile de percussão coordenado por Fernando Molina (Mãos Juntas, sexta-feira, 26, 10h30, Largo José Afonso-Fórum Luísa Todi).
A migração enriquece a música
Nas palavras de Ian Ritchie, que já foi programador do Festival de Londres, o tema migrações, “focando-se na inter-relação das culturas da Península Ibérica, é muito significativo, não só enquanto conceito, mas também a nível global e local”.
No texto de apresentação do festival, o barítono que deixou de cantar profissionalmente para se dedicar à organização de encontros artísticos escreve: “A música tem o poder de mudar as nossas vidas e de nos unir — e foi ela própria sempre transformada e enriquecida através da migração — em Setúbal, em toda a Península Ibérica e em todo o mundo.”
Do concerto de abertura, Boas Migrações (dia 25, Fórum Luísa Todi, 21h30), faz parte a Suíte Polaca Antiga, composta por Andrzej Panufnik, “um famoso ‘migrante’ — refugiado do regime opressivo soviético na Polónia que se instalou em Inglaterra”, segundo Ritchie, que informa que a viúva do compositor, Camilla Panufnik, irá assistir ao concerto.
Nesta actuação, que reúne a Sinfonietta de Lisboa, a Camerata do Festival de Setúbal e o Conservatório Regional de Setúbal, dirigidos pelos maestros Vasco Pearce de Azevedo e Kerem Hasan, podem escutar-se “outros compositores migrantes/refugiados do século XX: Bartók e Stravinsky”.
A originalidade deste festival reside na convivência entre músicos consagrados e jovens principiantes em educação musical e também na preocupação com a inclusão, espelhada sobretudo no projecto Ensemble Juvenil de Setúbal, que reúne jovens de várias origens sociais, diferentes etnias e com necessidades educativas especiais (formação que deixou recentemente de ser apoiada pela Fundação Calouste Gulbenkian).
Com vista para Saramago
A par da música, quatro exposições podem ser vistas nalguns dos espaços onde irão decorrer concertos. Na Casa d’ Avenida, está instalada a mostra Lanzarote — A Janela de Saramago, do fotógrafo João Francisco Vilhena, que “em 1998 esteve em Lanzarote para o retratar e 15 anos depois regressou para capturar novas imagens e sentir o que aquela terra, no meio do oceano, representou para o único prémio Nobel da Literatura de língua portuguesa”.
No domingo (dia 28, 16h), João Vilhena, Pilar del Río e João Brites irão conversar sobre A Jangada de Pedra, “que reflecte e ilumina perfeitamente os nossos temas vitais de migração e da Península Ibérica”, afirma o director artístico do festival.
No mesmo espaço, Graça Pinto Basto (pintura) e Maria João Frade (escolha de textos) assinam a exposição Iberian Peninsula/Migrations, uma reflexão plástica e textual sobre “identidade, alteridade, busca do paraíso”. A três autores ibéricos, Miguel Torga, Cervantes e Gabriel Aresti, junta-se um convidado brasileiro, Manuel Bandeira, numa exibição em vídeo “à procura do eldorado”.
No foyer do Fórum Municipal Luísa Todi, Cartazes de Um Festival reúne as propostas de imagens promocionais inspiradas no tema do Festival de Música de Setúbal de 2017, realizadas por alunos da Escola Secundária D. João II. As alunas vencedoras foram Beatriz Santos e Joana Rodrigues, do 8.º F.
O Museu do Trabalho Michel Giacometti (dia 27, 18h) acolhe a exposição Ensemble Sketchbook, de José Minderico, “que, através de desenhos, mostra o ambiente vivido nos ensaios de um ensemble antes de actuar perante o público”.
Nos dois últimos anos, os temas do Festival de Música de Setúbal foram o clima (2015) e o sal (2016).