Sobrinho Simões defende a despenalização da eutanásia mas será objector de consciência

"Por um lado acho que as pessoas têm todo o direito a terem acesso à eutanásia, mas eu não a farei e serei objector de consciência", diz médico.

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O médico falava no primeiro de um conjunto de debates promovidos pelo Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida Fernando Veludo/NFACTOS

O médico e investigador Sobrinho Simões, que defende a despenalização da eutanásia, disse nesta segunda-feira que será objector de consciência se o procedimento for legalizado, por não fazer ideia de como tal se faz.

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O médico e investigador Sobrinho Simões, que defende a despenalização da eutanásia, disse nesta segunda-feira que será objector de consciência se o procedimento for legalizado, por não fazer ideia de como tal se faz.

"Por um lado acho que as pessoas têm todo o direito a terem acesso à eutanásia, mas eu não a farei e serei objector de consciência", afirmou Sobrinho Simões, um dos subscritores de um apelo ao Presidente da República e ao presidente da Assembleia da República a defender uma lei "que permita a cada um encarar o final da vida de acordo com os seus valores e padrões".

O médico falava no primeiro de um conjunto de debates promovidos pelo Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (CNECV) e que irá percorrer dez cidades de Portugal com o tema "Decidir sobre o final da Vida".

Neste primeiro painel, participaram Sobrinho Simões, o filósofo José Gil, o especialista em ética Walter Osswald e a ex-ministra da Saúde Maria de Belém Roseira, cabendo a moderação ao médico Miguel Oliveira da Silva.

"Só o médico é que pode determinar condições do doente"

A autonomia foi um dos temas em redor do qual os oradores se pronunciaram, com a jurista Maria de Belém Roseira a assumir-se como "defensora do aprofundamento da autonomia no âmbito da pessoa e da pessoa em sociedade".

Sobre a autonomia, Walter Osswald referiu que a legalização do suicídio assistido ou da eutanásia irá precisamente reforçar a autonomia do médico.

"Só o médico é que pode determinar as condições do doente. Há um reforço do poder do médico e não do doente", afirmou.

Já em relação às crianças, este especialista em ética alertou: "Os pais são tutores, mas não são os seus donos".

O filósofo José Gil referiu-se às mudanças na sociedade portuguesa, o que "afastou os mortos das instituições".

"Quanto mais os vivos apagam os mortos da sua vida, mais empobrecidos ficam", disse, considerando que a eutanásia é "uma maneira da sociedade os acolher".

No debate foi ainda abordada a aplicação da eutanásia em países como a Bélgica e a Holanda, para alguns considerados maus exemplos, tendo em conta a sua aplicação em crianças ou menores deficientes.

O próximo debate do CNECV realiza-se no Porto, a 5 de Junho. Este primeiro contou com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.