Alexander Search, um segredo mal guardado

Os Alexander Search cantam os poemas do homónimo heterónimo de Fernando Pessoa na pele de personagens fictícias interpretadas por cada um dos elementos da banda

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O meu amigo André faz parte dos Alexander Search, um novo projecto musical do qual não é suposto poder falar. Estávamos no Natal de 2016 e era preciso guardar segredo. E eu guardei, pelo menos até hoje, quando já não é segredo nenhum, por isso, André, desculpa, mas depois das emoções todas da semana passada tenho mesmo de falar, abrir a boca e escancarar esta caixa de Pandora em cujo interior vivem todas as maravilhas do mundo.

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O meu amigo André faz parte dos Alexander Search, um novo projecto musical do qual não é suposto poder falar. Estávamos no Natal de 2016 e era preciso guardar segredo. E eu guardei, pelo menos até hoje, quando já não é segredo nenhum, por isso, André, desculpa, mas depois das emoções todas da semana passada tenho mesmo de falar, abrir a boca e escancarar esta caixa de Pandora em cujo interior vivem todas as maravilhas do mundo.

Não sei muito bem como se formaram os Alexander Search, mas não é difícil adivinhar: o meu amigo André já há muito toca com o Júlio Resende, e os dois em conjunto com os Ogre, banda de música Jazz e electrónica da cantora Maria João, e como o mundo é pequeno o mais provável foi o Júlio e o André terem dado de caras com o Salvador numa nessas noites do Braço de Prata, do Santiago Alquimista ou do Bairro, e portanto cá estamos, dia 28 de Dezembro de 2016, à noite em casa do André, a ouvir em segredo aquela voz de quem acabou de cair do céu para viver entre os Homens.

“Ó André”, perguntei, “De quem é esta voz?”, responde o André “É o Salvador Sobral, o irmão da Luísa Sobral.”, e eu, sem sombra ou memória do “Ídolos”, para já não falar do “Bravo Bravíssimo”, digo “A sério? Canta muito melhor que a irmã.”, para em seguida acrescentar “Epá, vocês não deixem fugir este gajo.”, sem saber muito bem como é que se faz para prender um gajo, para segurar um gajo, para não deixar voar um gajo dono de uma daquelas vozes tão carismáticas como o pé de um ponta-de-lança, um diamante em bruto e a certeza de uma carreira tão nacional como internacional, ou não fossem as músicas cantadas em inglês, assim manda o heterónimo do Pessoa, mas não só, a certeza de muito trabalho, sempre bem-vindo no pequeno mundo artístico português. “Isto vai passar na rádio”, rematei, sem sequer saber como acabara de marcar um golo. A multidão em delírio, e os jogadores, em campo, ausentes.

Tudo isto meses antes do Festival da Canção, e mais alguns meses antes do Festival Eurovisão da Canção. Quem diria? Entretanto tudo aconteceu, o Salvador ganhou o primeiro, cresceu em nome e popularidade, agigantou-se, chegou os adversários para lá e para cá para arranjar espaço, abriu a boca e engoliu o mundo. “E pronto”, pensei eu depois da Eurovisão, “o gajo fugiu mesmo”, mesmo sem querer, sem ser de propósito, estava apenas a brincar, era apenas uma brincadeira, não era mesmo a sério, podemos voltar a brincar? Porque depois de uma destas o Salvador é agora maior do que si mesmo e já não há forma de voltar atrás. Ou talvez haja. Por isso é que a fama é efémera, assim disse o Salvador, daqui por uns meses já ninguém se lembra disto e eu posso voltar a fazer aquilo que sempre quis fazer, cantar. E meu dito, meu feito, e porque cantar sempre a mesma música deve ser aborrecido quanto baste, ei-los, os Alexander Search, num desses festivais de Verão, para minha grande satisfação, para não dizer alívio, e gáudio de centenas de milhares de fãs à procura da tal música não descartável, perene, sempre verde, hoje, e para sempre, as letras na boca, na ponta da língua, as palavras de cor, como o coração, no coração, a fazer as vezes dos batimentos cardíacos e a empurrar este sangue todo pela vida fora.

Os Alexander Search cantam os poemas do homónimo heterónimo de Fernando Pessoa na pele de personagens fictícias interpretadas por cada um dos elementos da banda. Ainda não percebi muito bem quem é quem mas, pelo que me parece, o meu amigo André é o Sgt. William Byng, hoje a cantar Pessoa, porque afinal o Salvador não fugiu, está aqui, bem presente e à frente, a chegar-se à frente, pouco ou nada preocupado com a fama, eventualmente com a voz, não vá esta falhar quando menos se espera, até porque ainda falta cantar Ricardo Reis, Álvaro de Campos, Alberto Caeiro e não sei quantas vidas mais na alma de todos os portugueses.