Mísia: “Foram as palavras dos poetas que me permitiram falar da vida”
Ainda na vaga dos seus 25 anos de carreira, Mísia celebra os seus poetas no CCB esta sexta-feira, com Adriana Calcanhotto por convidada.
Desde Dezembro de 2016, quando celebrou no Trindade 25 anos de fados e canções (mote para a antologia, em disco duplo, Do Primeiro Fado ao Último Tango), que Mísia não tem parado. Teve um ciclo de conversas no Museu do Fado, cantou Violeta Parra no Capitólio, canções napolitanas no São Jorge, encarnou Giosefine em Coimbra e apresenta esta sexta-feira no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa (21h), um espectáculo onde canta alguns dos seus poetas.
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Desde Dezembro de 2016, quando celebrou no Trindade 25 anos de fados e canções (mote para a antologia, em disco duplo, Do Primeiro Fado ao Último Tango), que Mísia não tem parado. Teve um ciclo de conversas no Museu do Fado, cantou Violeta Parra no Capitólio, canções napolitanas no São Jorge, encarnou Giosefine em Coimbra e apresenta esta sexta-feira no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa (21h), um espectáculo onde canta alguns dos seus poetas.
Alguns, porque há mais nos seus discos. Ela canta muitos autores, poetas ou letristas, mas neste caso são os poetas os seleccionados. O que se entende, aqui, por poetas? Mísia diz: “Pessoas que têm livros publicados, que se dedicam à literatura, à poesia, à escrita. Há uma diferença entre, por exemplo, cantar a Agustina Bessa-Luís, que fez um poema para mim, ou cantar uma pessoa que faz letras para fados há muito tempo, que respeito muitíssimo e também canto. Aliás, estou de acordo com o Nobel dado ao Bob Dylan.”
No CCB ouvir-se-ão palavras de Fernando Pessoa, Drummond de Andrade, Vasco Graça Moura, José Saramago, Agustina Bessa-Luís, António Botto, Florbela Espanca, Natália Correia, Hélia Correia, António Lobo Antunes, Lídia Jorge, Mário de Sá-Carneiro, Amália Rodrigues, Paulo José Miranda, Rosa Lobato Faria, musicados por alguns compositores (Mário Pacheco, Amélia Muge, Vitorino, etc.) ou ajustados a fados tradicionais. “Dá-me um prazer extraordinário, fico mesmo muito feliz por conseguir encontrar aquilo que para mim é a música perfeita para aquelas palavras. Outra coisa que eu faço, e que não é muito visível, é compor letras a partir de poemas. No fado Hilário, por exemplo, não está um poema de Florbela Espanca, são quadras de vários poemas dela que eu juntei. É uma montagem, uma arquitectura interna, uma desconstrução, que me dá um enorme prazer.”
Não foi fácil a escolha, diz Mísia, pela obrigatória contenção. “Só do Vasco Graça Moura eu tinha não só todo o trabalho que ele fez para o disco Canto como outras coisas. Mas achei que, para este concerto, ficava melhor um poema que ele fez para o Fado Bailado (Fado do lugar comum). Tive de deixar muitos de parte, o que é muito doloroso.”
O espectáculo terá duas partes. “O Fado adivinha [José Saramago] abre a primeira: ‘Quem se dá quem se recusa/ Quem procura quem alcança’, é quase uma declaração de intenções do que vou cantar depois, abrange quase tudo o que pode ser cantado no fado. Depois há a preocupação de não fazer temas muito lentos seguidos, intercalando outros que tenham um certo ritmo, por exemplo a rapsódia dos poetas (e aqui juntei três).”
Sapho e Caymmi
Adriana Calcanhotto, autora que ela também gravou, participa como convidada especial. “Antes da Adriana eu canto um poema do Mário de Sá-Carneiro [Estátua falsa], ela depois canta outro, e mais poetas portugueses, e em seguida eu canto um poema que não gravei nunca mas já cantei ao vivo, convidada por uma cantora grega [Angélique Ionatos], que é da Sapho de Mytilène [Ki anamessa]; e no final, dedicado à Adriana, canto É doce morrer no mar, de Dorival Caymmi, que faz parte de um espectáculo que eu fiz em 2014 no Brasil, em Porto Alegre, dirigido artisticamente pela Adriana, onde eu cantava três compositores brasileiros: Caymmi, Cartola e Lupicínio Rodrigues. Chamava-se São 3. Mas no meu primeiro disco eu já cantava Vinicius de Moraes. Sempre cantei os brasileiros.”
Adriana Calcanhotto, que está a lançar em Portugal uma colectânea da novíssima poesia brasileira, explica ao PÚBLICO a sua ligação a Mísia e o seu papel neste espectáculo: “Ela é muito responsável por essa minha ligação com os poetas portugueses. Então eu vou fazer o Mário de Sá-Carneiro, com quem tenho uma ligação visceral, e vou fazer uma Adília [Lopes] nova, uma coisa minimal: ‘Vou-te dar/ todas as rosas/ que não me deste.”
Mísia, que depois do CCB apresentará dois espectáculos diferentes na Argentina (Para Amália e Do Primeiro Fado ao Último Tango), no Centro Cultural Néstor Kirchner, de Buenos Aires, vê nesta celebração dos poetas “um enorme agradecimento": "Foram estas palavras que me permitiram falar da vida. Dialogo com o mundo através destas palavras.”