Justiça dá razão parcial a Paulo Branco, mas Terry Gilliam continua a rodar com outros produtores
Polémica em torno de The Man Who Killed Don Quixote continua, tal como a rodagem, que já passou por Portugal. O ex-Monty Python deverá recorrer da decisão.
A turbulência em torno de The Man Who Killed Don Quixote continua. Um processo judicial movido pelo realizador Terry Gilliam para rescindir o contrato com o produtor português Paulo Branco resultou, na tarde desta sexta-feira, num novo capítulo: o Tribunal da Grande Instância de Paris decidiu que o contrato se mantém válido, mas não interrompeu a rodagem, que decorre há semanas com nova equipa de produção, nem suspendeu o financiamento comunitário que lhe foi atribuído. O cineasta, avança Pandora Cunha Telles, da produtora Ukbar Filmes, vai recorrer da decisão.
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A turbulência em torno de The Man Who Killed Don Quixote continua. Um processo judicial movido pelo realizador Terry Gilliam para rescindir o contrato com o produtor português Paulo Branco resultou, na tarde desta sexta-feira, num novo capítulo: o Tribunal da Grande Instância de Paris decidiu que o contrato se mantém válido, mas não interrompeu a rodagem, que decorre há semanas com nova equipa de produção, nem suspendeu o financiamento comunitário que lhe foi atribuído. O cineasta, avança Pandora Cunha Telles, da produtora Ukbar Filmes, vai recorrer da decisão.
A decisão do tribunal motivou um comunicado da produtora de Paulo Branco, declarando que “a rodagem desse filme é (...) manifestamente ilegal e a sua exploração e/ou utilização das suas imagens não poderá, de modo algum, existir sem o acordo prévio da Alfama Films”. Ao PÚBLICO, o produtor disse que a decisão significa que detém “plenamente os direitos” do filme que Gilliam tenta filmar sem sucesso há quase 20 anos.
Por seu turno, a actual equipa de produção declara que “Paulo Branco luta contra moinhos de vento": "Não tem direitos sobre Don Quixote. Hoje os tribunais franceses foram determinantes em rejeitar o pedido expresso que Paulo Branco havia feito para parar a rodagem em curso, tal como o processo de financiamento do filme junto do fundo Eurimages”, frisa a Ukbar Filmes também em comunicado.
Há um ano, no Festival de Cannes, foi anunciada a parceria entre Gilliam e Branco para finalmente levar ao ecrã o projecto que o ex-Monty Python tenta filmar desde 1998 e que tem soçobrado por constantes desaires, desde meteorológicos a financeiros. Em Outubro, o desaguisado entre as partes tornou-se público, com queixas de Terry Gilliam sobre problemas de financiamento. A parceria caiu por terra e entretanto o realizador encontrou novos produtores na figura da espanhola Tornasol, da belga Entre chien et Loup, da francesa Kinology e da portuguesa Ukbar Filmes, fazendo o filme avançar finalmente. E as filmagens, que fizeram uma escala de três semanas em Portugal, entre Abril e Maio, e se transferiram depois para Espanha, “continuam”, garantem os produtores.
Paulo Branco diz agora ao PÚBLICO, ao telefone a partir de Cannes, que inicialmente foram dadas “todas as condições” ao realizador para encetar o projecto. “Em Agosto do ano passado não senti que fosse a altura exacta para começar a rodagem e decidi interromper a produção do filme até estarem reunidas as condições.” Dois meses depois, e um mês depois do início previsto da rodagem, Gilliam falou à BBC dos problemas de financiamento e recorreu ao Facebook para ironizar sobre a situação, escrevendo sob uma imagem do logo da MGM com o rosto do produtor português “cuidado com quem acreditas”. Quando da aquisição dos direitos, Branco disse que nunca anuncia “um filme sem estar praticamente garantido que os financiamentos estão assegurados ou em vias de estar assegurados”. A relação entre ambos terá cessado.
Agora, e sobre o facto de o projecto estar em curso, Branco considera que tal acontece “de uma maneira absolutamente clandestina e ilegal": "Sempre declarei que os direitos me pertenciam. Terry Gilliam pediu que fosse considerado nulo o contrato de realização”, continua, “e só as decisões dos tribunais podem anulá-lo” – a decisão judicial desta sexta-feira, sublinha, valida que detém “os direitos de realização”.
Também a partir de Cannes, Pandora Cunha Telles detalha que o processo do autor de Brazil e O Rei Pescador deu entrada no início de Março e que o tribunal considerou de facto que “não há provas suficientes que justifiquem que o tribunal invalide o contrato” de realização, mas que manteve a rodagem em curso e não impediu o fluxo de financiamento europeu. E lembra que “existem no Reino Unido, em Portugal e em Espanha processos dos produtores contra a Alfama Films”, sem precisar o seu teor.
The Man Who Killed Don Quixote tem um orçamento actual de 16,6 milhões de euros e é protagonizado por Adam Driver, Jonathan Pryce e Olga Kurylenko, além da portuguesa Joana Ribeiro.