ARCOlisboa, a não perder
Mesmo que não se seja coleccionador, mesmo que não se tenha por hábito a visita regular de galerias e exposições, há muito por onde escolher e por onde se perder estes dias na Cordoaria de Lisboa.
Não é uma feira barata, nem para galeristas, nem para coleccionadores, nem para o público que a visita. Mas trata-se da maior feira de arte contemporânea da Península Ibérica, aquela que leva todos os meses de Fevereiro multidões de coleccionadores a Madrid. E que, pela segunda vez consecutiva, abre uma extensão em Lisboa.
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Não é uma feira barata, nem para galeristas, nem para coleccionadores, nem para o público que a visita. Mas trata-se da maior feira de arte contemporânea da Península Ibérica, aquela que leva todos os meses de Fevereiro multidões de coleccionadores a Madrid. E que, pela segunda vez consecutiva, abre uma extensão em Lisboa.
Há cinco dezenas de galerias dispostas no longuíssimo corredor do edifício da Cordoaria Nacional, a maior parte delas portuguesas, mas também muitas espanholas. Pontualmente, encontramos a presença do México, dos Estados Unidos, da França e da Suíça, entre outros países. E houve a preocupação da parte de João Laia, o curador da secção Opening, dedicada a jovens galerias com menos de sete anos de actividade (que expõem num espaço separado, juntamente com os editores de livros de artistas), de diversificar geograficamente as suas opções. Quatro de Lisboa (Francisco Fino, Hawaii – Lisbon, Madragoa e Pedro Alfacinha), e outras de Varsóvia, Haia, Cidade do México, Londres. Percebia-se ontem, em conversa com este curador, que ele conhecia o trabalho de todos estes galeristas, dos quais Francisco Fino, que na segunda-feira abriu o seu espaço em Lisboa, trazia artistas que já tínhamos podido ver na sua nova galeria.
Posto isto, é legítimo perguntar: quais são as melhores obras que se podem ver na ARCOlisboa? Haverá alguma que seja indiscutivelmente a melhor, que ganhe a todas as outras? Não sabemos se este será o modo correcto de colocar esta questão. Em primeiro lugar, há trabalhos muito distintos, consoante a missão de cada galeria, obras de diferentes épocas, de diferentes estilos. Será legítimo comparar, por exemplo, os clássicos que a madrilena galeria Leandro Navarro apresenta sempre em Madrid, e que agora traz a Lisboa, com a proposta jovem da polaca Iza Tarasewicz, da galeria BWA, uma instalação originalíssima não muito distante do projecto que apresentou a 32.ª Bienal de São Paulo? A lógica do vencedor do concurso (de beleza?) não parece resultar aqui, onde há tantas variáveis a levar em consideração. Sem esquecer que as instâncias de selecção de galerias jogaram a fundo com as candidaturas portuguesas e estrangeiras à ARCOlisboa, eliminando, por exemplo, instituições que se dedicam sobretudo ao mercado secundário, entre outras cujas razões para a não admissão serão menos óbvias. Quanto ao resto, como é evidente, todos trouxeram aquilo que de melhor tinham, e os artistas nos quais apostam em força neste momento e num futuro mais ou menos próximo.
De qualquer modo, e excluindo logo à partida, de tão bom que é, o magnífico desenho de Lucien Freud na já citada Leandro Navarro, há peças que se destacam naturalmente: um Lanhas na Quadrado Azul, a instalação de Fang Lijung na Art & Public, um Eduardo Merz na Giorgio Persano, os Crofts na Vera Cortês, os Miki Leal na F2 Galeria. Noutro registo, na Vermelho de São Paulo, uma série de artistas a trabalhar sobre o livro: Detanico & Lain e Nicolás Robbio. Nuno Gil tem uma excelente pintura na Módulo, que ontem já tinha sido vendida para uma fundação, e a Filomena Soares apostava nos artistas do acervo, com uma peça de João Penalva que também já tinha partido. As esculturas da dupla Musa paradisiaca (Múrias Centeno), a fabulosa paisagem de Bunga na Elba Benítez, os João Louro e Luís Paulo Costa na Cristina Guerra (uns caracóis em tamanho natural de bronze pintado, intitulados Meanwhile, a lembrar os amendoins também de bronze de Ana Santos na Quadrado Azul) devem também ser assinalados, bem como esculturas de Isaque Pinheiro na Caroline Pagès ou de João Ferro Martins na 3+1, as pinturas de Gil Heitor Cortesão no Pedro Cera, e a instalação conjunta de Suzanne Themlitz e Laura Gonzalez Cabrera na Angéles Baños, de Badajoz. Uma referência obrigatória são algumas das peças na Miguel Nabinho: fotografias de Nuno Cera e Luísa Cunha, um filme lindíssimo de Salomé Lamas, Trial by fire, e finalmente um poster de Ana Jotta a ser oferecido a todos os visitantes do espaço: arte de graça, como dizia o galerista.
Não é todos os dias que isto acontece. E nem mencionámos os artistas que se repetiam em diferentes stands, como Julião Sarmento, Pedro Cabrita Reis, e sobretudo António Ballester Moreno, trazido pela Maisterravalbuena (que também inaugurou por estes dias espaço em Lisboa) e se dava também a ver em mais dois ou três espaços. Sendo que tudo isto que dizemos pode mudar: afinal, uma feira é para vender, e já havia quem ontem tivesse tido de substituir toda a exposição. Sinal de sucesso? Só no fim se pode saber.