Ouçamos a Grã-Bretanha
Vinda do Dogma 95, Lone Scherfig consumou-se como realizadora britânica. Mas Heróis da Nação, não sendo desagradável, é um filme decepcionante.
Lone Scherfig, dinamarquesa, deu nas vistas quando apanhou o comboio do saudoso (risos) Dogma 95, por alturas da viragem do século. O seu “filme Dogma”, Italiano para Principiantes, estreou-se por cá, e alguns dos seguintes também (Wilbur Quer Matar-se, Uma Educação), pelo que fomos acompanhando o seu “esquecimento” do Dogma e a maneira rápida como se transformou numa realizadora “britânica”.
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Lone Scherfig, dinamarquesa, deu nas vistas quando apanhou o comboio do saudoso (risos) Dogma 95, por alturas da viragem do século. O seu “filme Dogma”, Italiano para Principiantes, estreou-se por cá, e alguns dos seguintes também (Wilbur Quer Matar-se, Uma Educação), pelo que fomos acompanhando o seu “esquecimento” do Dogma e a maneira rápida como se transformou numa realizadora “britânica”.
É aí que estamos, bem longe do Dogma, e radicalmente ancorados na britishness (em todos os bons e maus sentidos que a expressão tem quando aplicada ao cinema), neste Heróis da Nação, reconstituição dos tempos em que Inglaterra vivia debaixo do Blitz e o desfecho da Segunda Guerra Mundial era ainda uma grande incerteza.
Acompanhamos uma jovem argumentista (Gemma Arterton), incumbida de preparar o script para um filme sobre Dunquerque, promovido pelo Ministério da Informação — ou seja, propaganda, de que o cinema britânico da época, entre as ficções de Michael Powell e os documentários de Humphrey Jennings, deu maravilhosos exemplos.
A história era promissora, até pela possibilidade de relação com esse cinema, e há alguma ironia subtil na forma como o filme lida com os imperativos propagandísticos, ou com o sentimento (muito a posteriori, porque talvez na altura não se pensasse muito nisso) de que a guerra implica uma transformação social, nomeadamente — e é o tema mais verbalizado pelas personagens — no que toca ao papel das mulheres. Infelizmente, a promessa não se cumpre na íntegra, porque Scherfig se deixa enredar nos vícios da “reconstituição”, aquela british quality muito hirta e pouco entusiasmante, e embora num momento ou outro se pressinta a vontade de “comentar” essa “linguagem” (é um filme sobre um filme, de certa forma), falta à realizadora a amplitude de uma mise en scène que seja capaz de dar, ao mesmo tempo, o objecto e a sua crítica. Não é desagradável, tem bons diálogos e bons actores (a protagonista Gemma Arterton, o ultimamente raro Richard E. Grant), mas em última análise é um filme decepcionante.