Estúdios de gravação? Uma fonoteca? É a música a caminho de Campanhã!
Plataforma de Campanhã, nova casa dos estúdios da Arda, vai juntar, num enorme armazém, músicos, produtores e agentes e uma fonoteca municipal com 36 mil discos de vinil.
A Câmara do Porto vai instalar ainda este ano num armazém a cem metros da estação de Campanhã uma fonoteca municipal inteiramente dedicada ao vinil, a reboque de um investimento da Arda Recording Company, que vai mudar os seus estúdios da Baixa, em Sá da Bandeira, para um novo espaço na freguesia mais oriental da cidade. Atrás da Arda, outras empresas do sector, para além do município, vão instalar-se na designada Plataforma de Campanhã, que deve abrir, em parte, ainda este ano.
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A Câmara do Porto vai instalar ainda este ano num armazém a cem metros da estação de Campanhã uma fonoteca municipal inteiramente dedicada ao vinil, a reboque de um investimento da Arda Recording Company, que vai mudar os seus estúdios da Baixa, em Sá da Bandeira, para um novo espaço na freguesia mais oriental da cidade. Atrás da Arda, outras empresas do sector, para além do município, vão instalar-se na designada Plataforma de Campanhã, que deve abrir, em parte, ainda este ano.
O engenheiro de som João Brandão, proprietário da Arda, abriu esta quarta-feira à imprensa os enormes portões do armazém n. 12 de uma rua privada e sem nome, com entrada pelo n.º 122 da Rua Pinto Bessa, onde nascerá a sua Plataforma Campanhã. Trata-se de um investimento de 700 mil euros que transformará um espaço já de si amplo, com um pé direito muito elevado, e que dará lugar a dois pisos com 1250 metros quadrados distribuídos por várias funções: três estúdios de gravação (que só estarão prontos no primeiro trimestre de 2018), e salas de ensaio/produção para bandas, escritórios para agências, produtores ou outras entidades que os queiram arrendar.
A Plataforma Campanhã, um condomínio da indústria musical projectado pelo arquitecto e designer Carlos Aguiar, garantiu já vários parceiros, e um deles de peso. A Câmara do Porto, que andava a estudar alternativas para valorizar duas doações de discos de Vinil da Rádio Renascença (18 mil rodelas recebidas em 2008) e da RDP Norte (16 mil exemplares), entendeu, quando soube deste investimento privado, que valeria a pena levar para este espaço essa colecção de 34 mil discos, em vez de o instalar num edifício municipal. Parte da colecção está, neste momento, na Biblioteca Almeida Garret, que se articulará com a futura fonoteca.
Para a câmara, a adesão à Plataforma de Campanhã implicará 50 mil euros de investimento em equipamento informático, leitores de vinil e mobiliário, a que acrescerá uma despesa mensal com renda e pessoal dedicado à fonoteca, e que rondará os seis mil euros. Este equipamento municipal estará aberto ao público, a investigadores e escolas e, segundo o adjunto de Rui Moreira para a Cultura, Guilherme Blanc, serão organizadas actividades temáticas em torno do catálogo que ali vai ser disponibilizado. João Brandão, da Arda, acredita que no acervo haja pérolas esquecidas que talvez possa valer a pena reeditar, também.
A fonoteca pode ainda ser inspiradora para os músicos que vão passar pelos três estúdios da Arda – um deles, o principal, projectado por Philip Newell, um experiente designer acústico que já desenhou salas de gravação em vários países – bem como para os restantes inquilinos da Plataforma. Esta tem assegurada a presença da produtora Lovers & Lollypops, de Joaquim Durães, da produtora audiovisual de André Tentugal, da banda Best Youth, que terá um espaço de ensaio e produção, tal como João Coimbra, dos Mesa. João Vieira (X-Wife, DJ Kitten, White Haus), será outro membro deste condomínio, explicou João Brandão.
Rui Moreira olha para este projecto da Arda como a materialização de projectos municipais imateriais, como a Cultura em Expansão, que leva espectáculos a “palcos” inesperados da cidade, e como expressão, levada a cabo por privados, da política que vem defendendo para esta freguesia oriental, onde continuam bem visíveis as cicatrizes, e algumas feridas abertas, da desindustrialização. O autarca diz que tem tido vários contactos de investidores da área do audiovisual, interessados em espaços no Porto, e explica que a Investporto os direcciona para Campanhã, onde não faltam edifícios amplos, devolutos. Há anos que a zona – e bem perto da Plataforma, na rua de Miraflores – conta com o perseverança do Mira - Espaço Cultural, que recentemente cresceu para abrir um novo espaço dedicado À dança.
Agora é a música que segue os passos da revolução iniciada pelo Mira, ainda antes da concretização de dois investimentos âncora, municipais: O Matadouro, que tem também uma forte valência cultural, e o interface de transportes, que nascerá a sul da estação ferroviária e que, além de requalificar o espaço público, criando um novo parque urbano, tornará ainda mais central, do ponto de vista das acessibilidades, esta freguesia que procura despojar-se da sua condição, social e urbana, periférica. Não espanta por isso que Ernesto Santos rasgue um sorriso de orelha a orelha, perante o anúncio da criação da Plataforma Campanhã. Que é música para os ouvidos deste autarca que há anos vem exigindo que a cidade olhe de outra forma para esta parte do território do Porto.