Os minideputados do Parlamento copiam os mais velhos

O Parlamento dos Jovens vai na 22.ª edição. O objectivo é despertar o gosto pela política nos mais novos.

Fotogaleria

“Silêncio, por favor.” “Sr. deputado, terminou o seu tempo”. “Tem mesmo de terminar, sr. deputado”. Muitos de fato e alguns até de gravata, os jovens colocam a voz quando têm de intervir na imponente sala do Senado, na Assembleia da República. Faz de conta que são deputados e que estão numa sessão parlamentar. Às vezes, aplaudem alguma frase mais arrebatada. Copiam os tiques todos dos deputados, fazem como vêem nos excertos dos debates que passam na televisão. Usam a mesma retórica, a mesma encenação. No Parlamento dos Jovens, o deputado Alexandre Quintanilha falou-lhes da importância da ousadia e da imaginação, mas é quando imitam o estilo de quem os representa na casa da democracia que estes alunos do secundário sentem que estão a fazer bem.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

“Silêncio, por favor.” “Sr. deputado, terminou o seu tempo”. “Tem mesmo de terminar, sr. deputado”. Muitos de fato e alguns até de gravata, os jovens colocam a voz quando têm de intervir na imponente sala do Senado, na Assembleia da República. Faz de conta que são deputados e que estão numa sessão parlamentar. Às vezes, aplaudem alguma frase mais arrebatada. Copiam os tiques todos dos deputados, fazem como vêem nos excertos dos debates que passam na televisão. Usam a mesma retórica, a mesma encenação. No Parlamento dos Jovens, o deputado Alexandre Quintanilha falou-lhes da importância da ousadia e da imaginação, mas é quando imitam o estilo de quem os representa na casa da democracia que estes alunos do secundário sentem que estão a fazer bem.

A iniciativa, da Assembleia da República em conjunto com outras entidades e que vai na 22.ª edição, começa nas escolas do país (e escolas portuguesas noutros países) e inclui alunos do secundário e do básico (a sessão com os mais novos é no final de Maio). O processo é longo e passa por várias fases, de preparação, de selecção, até se escolherem aqueles que vão ao Palácio de São Bento. Alguns aterram lá pela primeira vez e até se emocionam. É o caso de Sara Santos, de 18 anos, que foi a presidente da mesa e que recebeu elogios dos deputados crescidos no final. Disseram-lhe que é muito difícil conduzir uma sessão e que ela foi muito despachada.

A aluna de São João da Madeira, que de facto fala sem papas na língua, diz quase ter chorado depois da experiência em São Bento. Está em economia e quer seguir a mesma área na universidade, mas não tem planos para abraçar a política. Pelo menos, para já. É ela quem explica que, apesar de fazer parte das regras seguirem o regimento do Parlamento, a opção de se aproximarem do estilo dos deputados é deles, ninguém lhes diz tem de ser assim.

Alexandre Quintanilha, presidente da Comissão de Educação e Ciência, sorri diante desta tentativa de decalcar da pose dos deputados: “Se calhar, ainda não descobriram as fraquezas dos deputados mais velhos.” Pode não se rever na repetição, mas compreende: “[Copiar] é quase inevitável, tem a ver com alguma falta de autoconfiança que as pessoas têm com esta idade. Acham que imitar ou seguir aquilo que vêem é uma forma de se mostrarem adultos e de fazerem bem. Espero que isso evolua, que seja uma parte do caminho”, diz o deputado do PS.

O grande objectivo da iniciativa, que reuniu no início da semana centenas de jovens (134 faziam de deputados e 54 de jornalistas) é despertar nos mais novos o “gosto pela política”, é “incentivar o debate democrático”, é “dar a conhecer as regras do debate parlamentar e o processo de decisão da Assembleia da República”, diz a coordenadora Marlene Freire. O tema deste ano era a Constituição (40 anos) e o poder local.

Grândola e hino

Na primeira parte da sessão, estiveram deputados como Heloísa Apolónia, d’Os Verdes, Luís Monteiro, do Bloco de Esquerda, Carla Barros, do PSD, Odete João, do PS, Filipe Anacoreta Correia, do CDS, e Ana Mesquita, do PCP. Sob a forma de perguntas, de respostas, de intervenções, alunos (divididos por círculos eleitorais, no seu papel de parlamentares) e deputados “a sério” falaram sobre várias questões: financiamento dos partidos, abstenção, dívida pública, descentralização, regionalização, entre muitos outros temas. Não se cansaram. Antes do início da segunda parte, ainda se juntaram todos para fotografias de grupo e até cantaram a Grândola, Vila Morena e o hino.

Mas, afinal, que medidas aprovaram estes jovens? Depois da discussão, chegaram a uma dezenas de ideias, tais como, por exemplo: “reforçar os mecanismos de responsabilização dos detentores de poder político, através de um agravamento da pena dos processos relativos a casos de gestão danosa do bem público”; “instituir as regiões administrativas, reajustando-as às existentes CCDR’s, de forma a fomentar a descentralização do poder central, aproximando os cidadãos mediante a realização de um novo referendo e alargando o poder das autarquias”; “estabelecer um diálogo obrigatório entre o poder central e local sempre que alguma medida ou lei venha a modificar geograficamente ou politicamente o segundo. Em caso de impasse, a voz do povo, através de um referendo, será soberana”; “implementação obrigatória de assembleias municipais jovens sem associação partidária e também de orçamentos participativos jovens para que os jovens sintam motivação para participar activamente na vida política local”; “criação de uma hora mensal nas turmas do ensino básico destinada a fomentar o interesse dos mais novos pelo debate político e pela decisão conjunta”.

Mas nem só de adolescentes se encheu a Assembleia da República no início da semana. Embora não sendo uma iniciativa da casa, também os mais pequeninos – alguns de laçarote ao pescoço e algumas de laçarote na cabeça – andaram pelo Parlamento a dar ideias aos deputados. Ideias sobre como tornar o país e o mundo melhores.

Ao microfone, Lourenço, de 8 anos, transmitiu mensagens dos colegas: “Não podemos continuar a gastar água no banho como a minha irmã”; “tenho medo que o planeta desapareça, que seja destruído por um meteorito, como no tempo dos dinossauros”; “tenho medo que o atum acabe, eu gosto de atum mas não posso comer exageradamente”; “como vegetais e fruta, não preciso de comer carne nem peixe e como podem ver estou saudável.” As propostas de pendor ecológico agradaram aos deputados, e em particular, claro, ao Partido Ecologista Os Verdes e ao Pessoas-Animais-Natureza.

A iniciativa – organizada pela Associação Fazedores da Mudança, Movimento Por Uma Escola Diferente, Cooperativa Horas de Sonho e João Sem Medo - Comunidade de Empreendedores Evolucionários – incluiu 140 estudantes, a do pré-escolar ao secundário (e do Programa Escolhas), de vários pontos do país.