Documentário de Susana Sousa Dias, Luz Obscura, distinguido em Madrid

Filme mais recente da autora de 48 regressa à memória do Estado Novo. Teve estreia portuguesa no IndieLisboa.

Foto
Susana Sousa Dias Luís Manso

Luz Obscura, novo documentário de Susana Sousa Dias, feito a partir dos arquivos da PIDE, foi distinguido com a Menção Especial do Júri da Competição Internacional de Longas-Metragens da DocumentaMadrid, festival de cinema documental da capital espanhola.

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Luz Obscura, novo documentário de Susana Sousa Dias, feito a partir dos arquivos da PIDE, foi distinguido com a Menção Especial do Júri da Competição Internacional de Longas-Metragens da DocumentaMadrid, festival de cinema documental da capital espanhola.

No filme de Susana Sousa Dias, o júri destacou "o uso de uma proposta estética e narrativa própria com um desenho sonoro muito cuidado", promovendo "uma reflexão que transcende e convida a atingir o 'poço escuro' da memória", de acordo com a decisão anunciada na noite de sábado, em Madrid.

Na competição internacional de curtas-metragens, foi igualmente atribuída uma Menção Especial do Júri ao documentário A Gis, do realizador brasileiro Thiago Carvalhaes, sobre Gisberta Júnior, a mulher transexual assassinada na cidade do Porto, em 2006.

City of the Sun (Cidade do Sol), documentário do realizador georgiano Rati Oneli, sobre uma mina abandonada e o impacto na cidade vizinha, foi o vencedor da Competição Internacional de Longas-Metragens da DocumentaMadrid 2017.

Machines, longa-metragem de estreia do realizador de origem indiana Rahul Jain, residente nos Estados Unidos, partilha a menção especial do júri com Susana Sousa Dias, através do testemunho de uma fábrica de têxteis na região de Gujurat, no noroeste da Índia. O prémio internacional de melhor curta-metragem foi para Manodopera (Mão de Obra, em tradução livre), do grego Loukianos Moshonas.

Luz Obscura, de Susana Sousa Dias, insere-se no trabalho de "arqueologia" que a realizadora tem vindo a fazer sobre a ditadura do Estado Novo – e os arquivos da polícia política, em particular – que está também na base de 48, de 2010, e de Natureza Morta, de 2005, no qual revisita actualidades da época, reportagens de guerra, documentários de propaganda, além fotografias de prisioneiros políticos.

Processo-crime 141/53 - Enfermeiras no Estado Novo, de 2000, o documentário de estreia de Susana Sousa Dias, como realizadora, aborda a situação de enfermeiras, presas durante a ditadura, em Caxias, por se terem oposto à proibição de trabalharem nos hospitais civis, por serem casadas ou viúvas, com filhos.

No mais recente documentário, Luz Obscura, Susana Sousa Dias prendeu-se às fotografias de cadastro de presos políticos, em que estes aparecem acompanhados dos seus filhos, centrando-se em particular na família do militante comunista Octávio Pato (1925-1999) – o mais novo dos três irmãos nasceu na clandestinidade e aparece ao colo da mãe, na fotografia da PIDE.

"Ouvimos testemunhos de familiares de comunistas assassinados, explicando como se viram arrastados para processos de humilhação – crianças tratadas como prisioneiros, sendo que muitas delas nunca mais viram os pais", destaca a realizadora na sinopse do documentário, que teve estreia nacional na sexta-feira, no âmbito do festival IndieLisboa.

Cidade Pequena, curta-metragem que valeu a Diogo Costa Amarante o Urso de Ouro no festival de Berlim, foi exibido em Madrid na secção competitiva Fugas, para filmes "inovadores e ousados e com um acentuado ênfase político e experimental".

Na competição nacional espanhola da DocumentaMadrid, o prémio de melhor longa-metragem foi para Laura Herrero Garvín por El Remolino (O Remoinho), uma coprodução mexicana rodada em Chiapas; o de melhor realizador foi para Chico Pereira, por Donkeyote; e o de melhor curta-metragem para 25 Cines, de Luis Macías.

O DocumentaMadrid - Festival Internacional de Documentário decorreu, desde 4 de Maio, na Cinemateca da capital espanhola.