E o vencedor da Eurovisão do andarilho é... Repórter Estrábico
Dez anos depois, a banda volta aos palcos para um concerto best of com a promessa de continuidade.
E se o palco da Eurovisão fosse numa cave do Porto? E se não houvesse votação nem aparato mediático, nem tapetes vermelhos nem milhões de pessoas a assistir em todo o mundo. Sem a troca de galhardetes entre países vizinhos e a espera interminável pelos resultados finais – mais longa do que o desfile de músicas a concurso. A coisa fazia-se na mesma. Fazia-se, fez-se e há um vencedor. São os ou é o Repórter Estrábico, ligado às máquinas nos últimos dez anos à espera do momento certo para um regresso à vida.
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E se o palco da Eurovisão fosse numa cave do Porto? E se não houvesse votação nem aparato mediático, nem tapetes vermelhos nem milhões de pessoas a assistir em todo o mundo. Sem a troca de galhardetes entre países vizinhos e a espera interminável pelos resultados finais – mais longa do que o desfile de músicas a concurso. A coisa fazia-se na mesma. Fazia-se, fez-se e há um vencedor. São os ou é o Repórter Estrábico, ligado às máquinas nos últimos dez anos à espera do momento certo para um regresso à vida.
É com ajuda que se faz esse regresso. Anselmo Canha, Paulo Lopes e Manuel Ribeiro já estão no palco. Na parede há uma projecção com uma mira técnica. No centro da mira está escrito Repórter. Luciano Barbosa fura pelo meio do público para lá chegar. Vai de andarilho, não fosse haver dúvidas de que já são veteranos nisto da música. Devagar, lá chega perto do estrado. Tinha tempo para dar mais uma volta ao Cave 45. Há um falso arranque. Problemas com a guitarra de Paulo Lopes. Quem espera dez anos espera mais 15 minutos.
Ouvem-se as notas do hino da Eurovisão, o andarilho já está encostado e os Repórter Estrábico parecem estar recuperados do estado vegetativo. Tudo bem com as questões técnicas, celebra-se a festa da música europeia com o primeiro tema do álbum homónimo. Não há gorilas em palco ou um espectáculo de luzes de cegar o público, mas há rigor com o dress code. Quatro Elvis do rock electrónico, vestidos com macacões ao estilo do Rei. A meio de Eurovisão, de 2004, a música cresce para o Final Countdown, dos Europe. Mistura-se o electro-rock com um esboço do hard rock mais glam para chegar à apoteose. “Ganhámos o festival da canção”, diz Luciano, não se percebe se a falar do verdadeiro vencedor da noite, Salvador Sobral, ou se a reclamar a posição. Nem de propósito, em noite de festival, é pelo último álbum que vão passar mais uma meia dúzia de vezes.
Saltam do século XXI para o final do anterior. Terão os Repórter Estrábico profetizado, em 1999, aquilo que seria Portugal em 2017? “The weather so warm and the drinks so cheap, the food so tasty, the language very typical”. A letra de Dash City, do álbum Mouse Music, tem pelo menos 18 anos e não poderia aproximar-se mais daquilo que é hoje o Porto ou Lisboa e que o Algarve já era há muitos anos. Poderia muito bem ser a banda sonora em tempo real da acção que logo ali, um pé fora do bar da rua das Oliveiras, acontece.
À quinta música, depois de passarem por Nagasaki M.A. e Lolita, recuam a 1991, ao primeiro álbum Uno Dos, com Eyes Are Crossed. Uma versão mais lenta e com uma batida mais dançante do que o original que se apoia num riff de guitarra mais rock e numa batida de tarola e ride. Nesta versão é o baixo que marca o ritmo mais compassado e o coro que a transforma numa outra música. Os Repórter Estrábico optaram por seguir a via que está registada em Disco de Prata, de 1995.
Voltam à Eurovisão com música endereçada. “Biltre, cabotino, mentecapto, lorpa, palhaço, morcão. Bronco, sabujo, tacanho, grunho, pilantra, lambão”. Luciano Barbosa dedica Biltre! a Cavaco Silva, Marine Le Pen, Theresa May e Donald Trump. Aqui à semelhança das imagens projectadas do videoclipe parece discursar num púlpito. A meio faz uma marcha militar.
É 13 de Maio, dia em que o Papa deixa Portugal depois de uma visita a Fátima. “Fala-se tanto do Papa e da mama?”. Adivinha-se o que por aí vem. É Mama Papa. Esta ode ao consumismo agrada tanto a fãs mais antigos, representados em número considerável, como aos mais recentes.
“Gosto de concertos mais íntimos”, disse Luciano Barbosa, que durante toda a actuação, como é habitual não tirou os óculos escuros. A sala onde não cabem mais do que 200 pessoas é então o sítio para essa proximidade.
Para evitarem o constrangimento da chamada para o encore passam directos para a fase do regresso ao palco sem de lá saírem. Há um “boa noite” e um “até já”. Ficam no mesmo sítio, tocam a Billy Idolesca Quality Stress e fecham com o clássico John Wayne, do primeiro disco, já sem a vocalista de apoio que os acompanhou durante todo o concerto nos coros.
Serviu este concerto para revisitar os temas dos álbuns lançados até 2004. A setlist não fugiu à que foi apresentada no mês passado no Sabotage, em Lisboa, o primeiro destes dois concertos de regresso depois da paragem de dez anos.
Esperava-se que tocassem alguns dos temas novos que dizem estar a compor. Não aconteceu. Para que esta noite não tenha sido em vão, espera-se que os Repórter Estrábico, que demonstraram continuar actuais e com lugar no cenário musical nacional, não se fiquem por aqui. Não foi o concerto “frete” de reunião de banda, mas também não terá sido memorável. Valeu, sobretudo, para recordar e pela abertura da possibilidade do cumprimento da promessa de um regresso com material novo.