Shawn Mendes pediu aos fãs para ficarem sem voz e o Meo Arena respondeu
Não precisava, mas o músico de 18 anos pediu aos fãs que, se ficassem sem voz esta quinta-feira, a razão fosse o seu concerto. Uma plateia esgotada respondeu ao ídolo em uníssono.
Os milhares de fãs (na sua larga maioria adolescentes de sexo feminino) que enchem cada lugar do Meo Arena sabem bem quem querem ver subir ao palco, mas ainda assim não foram dispensadas as apresentações. Ouvem-se vozes sobrepostas de apresentadores de rádio e televisão, mais ou menos decifráveis, a descrever um “jovem talento”, “um fenómeno mundial” e “um músico que move multidões”. Feita a introdução, é de guitarra na mão – instrumento indissociável da imagem de Shawn Mendes – que o músico sobe do centro do palco.
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Os milhares de fãs (na sua larga maioria adolescentes de sexo feminino) que enchem cada lugar do Meo Arena sabem bem quem querem ver subir ao palco, mas ainda assim não foram dispensadas as apresentações. Ouvem-se vozes sobrepostas de apresentadores de rádio e televisão, mais ou menos decifráveis, a descrever um “jovem talento”, “um fenómeno mundial” e “um músico que move multidões”. Feita a introdução, é de guitarra na mão – instrumento indissociável da imagem de Shawn Mendes – que o músico sobe do centro do palco.
There is nothing holding me back é uma das músicas que integra o segundo e mais recente álbum de originais do cantor, Illuminate (lançado a Setembro de 2016 e que dá nome à digressão), e é com ela que arranca a uma hora e meia de concerto.
O autor da popular Mercy (que se tornou um fenómeno à escala global) cumprimenta a plateia – composta por muitos adolescentes, alguns pais (uns entregues ao telemóvel, outros que se deixem contagiar) e outros tantos graúdos que ali estão sozinhos – mas só se ouve um “hello”. Os gritos dos fãs, que enchem a sala há muito esgotada, não deixam ouvir o resto da mensagem.
Ainda antes da entrada no recinto, a sincronia perfeita que soava do interior fazia tremer os fãs mais atrasados, que corriam pelas escadas. O concerto não havia ainda começado e o aquecimento já estava a ser feito com músicas de Bruno Mars e Justin Bieber, mas as capacidades vocais das vozes do público ainda estariam para ser demonstradas.
Com um jeito simples, o músico canadiano e luso-descendente de apenas 18 anos, apresenta-se ao público com uma t-shirt cinza simples e jeans, figurino que o acompanharia todo o concerto, sem grandes brilhos e como gente grande que aposta tudo nas canções e no espectáculo de luzes – quase com vida própria – que o acompanha.
Depois de aos 13 anos ter aprendido a tocar guitarra através de vídeos na Internet, foi no Vine (aplicação que permite a criação e partilha de vídeos de seis segundos) e no YouTube que Shawn Mendes conquistou milhares de visualizações e em poucos meses atraiu as atenções de produtores com as suas covers. Apenas seis anos depois, o músico é um fenómeno que esgota salas e percorre a sua segunda digressão mundial.
A cada música, Shawn Mendes fala de amores e desamores e de temas próximos aos adolescentes que, não muito longe da sua idade, se identificam com o cantor. Os milhares de fãs respondem de volta, cantando sem falhar uma única palavra das letras, de tal forma que é praticamente impossível perceber qual a música que mais fez tremer a sala de espectáculos. “Obrigado por virem, vocês soam de uma forma louca”, diz, para uma imensidão de luzes verdes, amarelas e vermelhas que saem dos telemóveis e criam uma atmosfera intimista que conduziria o concerto.
O universo Shawn
Não que a iluminação dos fãs fosse necessária. O espectáculo cénico está calculado a cada nota, com uma luminotécnica invejável e irrepreensível que transforma a sala do Meo Arena numa espécie de universo Shawn Mendes. A cada música, o ambiente transforma-se e desafia o protagonismo do músico em palco, sem nunca perder a harmonia que conduz o concerto.
No meio das luzes e mensagens, destaca-se um cartaz, "escrito" com pequenas lâmpadas de decoração natalícia, que formam a frase "Today is my Bday!" (Hoje é o meu aniversário, em português), resultado de uma semana de trabalho, conta Mariana Nave, de 14 anos, amiga da aniversariante, Margarida Sousa, que escolheu o Meo Arena para celebrar os seus 16 anos. Foi a primeira vez que celebrou a data com um concerto e não se arrepende da escolha, tecendo elogios ao concerto. Mariana e Margarida são o espelho do auditório jovem que compõe o recinto e que obriga mesmo alguns fãs mais novos a subir ao banco para conseguirem espreitar o palco.
São raras as vezes em que o músico interrompe o concerto para além de soltar uns “beautiful!” e ir cumprimentando, entre sorrisos, o carinho do público, mas pelo meio há uma música que merece destaque. “Esta é uma canção que escrevi no meu quarto. Uma canção muito importante”, começa por introduzir o cantor. Trata-se de A little too much, do álbum Handwritten (2015). “Sometimes it all gets a little too much/ But you gotta realize that soon the fog will clear up”, canta a letra. “Na altura estava numa fase má, a sentir-me mal e esta música fez-me sentir melhor. Foi só na digressão que percebi a importância desta canção”, continua. “And you don't have to be afraid, because we're all the same”, diz a música. O ritmo mais animado voltaria a ser recuperado com êxitos do primeiro e segundo álbum, Stitches e Bad Reputation.
A meio do concerto, as luzes apagam-se por completo e o rasto de Shawn perde-se durante minutos no Meo Arena enquanto a banda toca no palco e as lanternas deixam de acompanhar a melodia e procuram o cantor canadiano. Surge então num palco secundário no centro do recinto e a bola gigante desce para se transformar numa espécie de planeta, que acompanha a música girando a um ritmo lento e vai mudado de cores durante as diferentes canções. Dúvidas houvessem, a arena tinha oficialmente ganho o seu próprio mundo. Toca-se então Three empty words enquanto atrás de Shawn, no palco principal, continua um jogo de luzes e imagens de uma espécie de floresta encantada.
Aos primeiros acordes de Roses, os braços dos milhares de fãs levantam-se para exibir uma folha distribuída ainda antes do concerto. Shawn canta o verso “will you let it die or let it grow?” (em português: “vais deixar que morra ou vais deixar que cresça?”) e a resposta é unânime: “we will let it grow” (“vamos deixar que cresça”), lê-se na mensagem emoldurada com desenhos de rosas.
Houve ainda espaço para a Understand, “uma música sobre nos tentarmos entender a nós próprios”, contextualizou o cantor e claro, para o sucesso de Mercy, uma das músicas que mais vídeos e fotografias registou.
O concerto encerra com a Treat you better, que começa com Shawn no piano e com o que se parece uma capa vermelha às costas: é a bandeira portuguesa. É com ela que Shawn actua durante a última música e com a qual se despede do país onde nasceu o pai e que lhe dá o apelido português.
A saída é definitiva e apesar dos pedidos, não há regresso. Para o ouvir outra vez será preciso esperar por mais um concerto. A Illuminate Tour arrancou em Abril, no Reino Unido e Shawn Mendes já tem concertos marcados até ao final do ano.
Horas depois do concerto, o músico utilizou a sua conta na rede social Twitter para assinalar o ambiente e resumir a noite em Lisboa. “Lisboa! Sem dúvida o público mais alto que já ouvi! Muito obrigado!”, agradeceu em despedida.