Fátima aguarda serenamente a enchente
Aparato policial não é visível. A poucos dias da chegada de Francisco, só no santuário a azáfama é maior. E ainda há quartos para alugar. Não são é baratos.
Nas ruas que circundam o recinto do Santuário de Fátima já há cartazes instalados pelo município de Ourém a dar as boas-vindas ao Papa Francisco, embora o ambiente de aparente normalidade pouco denuncie a anunciada enchente.
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Nas ruas que circundam o recinto do Santuário de Fátima já há cartazes instalados pelo município de Ourém a dar as boas-vindas ao Papa Francisco, embora o ambiente de aparente normalidade pouco denuncie a anunciada enchente.
Com o sumo pontífice, que chega nesta sexta-feira, é esperado um milhão de visitantes e uma proporcional operação logística e de segurança. Nas entradas da localidade já estão dispostas algumas casas de banho portáteis e os peregrinos vão chegando. Mas nas redondezas do santuário não havia até esta terça-feira sinais de grande azáfama.
As autoridades têm feito anúncios de reforço das medidas de segurança (desde a meia noite desta quarta-feira que o SEF repôs o controlo de fronteiras), apesar de no terreno ainda não ser visível grande aparato. A excepção vai para alguma polícia a cavalo, de bicicleta e agentes da autoridade a fazer vistoria às tampas de saneamento.
O mesmo acontece com o dispositivo da Protecção Civil, que envolve um total de 980 operacionais e que é activado a partir das 10h da manhã.
Na sexta-feira um contingente policial instalou-se em Fátima, contou o Jornal de Notícias. As autoridades levaram a cabo uma acção de larga escala para testar os militares no terreno, mas o exercício foi desmobilizado no dia seguinte.
Normalmente, os carros dos moradores têm dísticos que lhes permitem circular nas proximidades da Cova da Iria nos dias 12 e 13 de Maio, mas este ano é diferente. Isabel Machado, residente em Fátima, conta que este ano o dístico “não vai funcionar” e que só poderá circular quem tiver “autorização da autarquia”.
Mais confusão, nem tanta facturação
Na Casa Marcelino, que fica para lá do estacionamento das traseiras da Basílica da Santíssima Trindade, espera-se muito movimento, mas “mais confusão que facturação”, explica João Manhãs. O proprietário do restaurante aberto há 17 anos conta que, apesar de os dias 12 e 13 de Maio representarem tradicionalmente jornadas de trabalho mais longas, o cliente procura mais “confortar o estômago” do que fazer refeições demoradas.
São dias de casa cheia e três grupos de cerca de 90 pessoas já reservaram parte dos 170 lugares do restaurante. Mas o empresário diz também que um dos grupos já pediu comida para levar. Nesses dias as pessoas procuram comer e ir logo para o recinto, para não perderem as celebrações, explica. No próximo dia 12 “toda a gente vai querer ir ver o Papa à noite". "É comer e andar.”
O aumento do volume de trabalho levou João Manhãs a ter mais dois trabalhadores ao serviço do que nas mesmas datas de anos anteriores, quando costuma contar com 16 empregados. O mesmo acontece com o stock, “que nesta fase aumenta sempre”. No entanto a preocupação é com o abastecimento de frescos, devido ao condicionamento de acessos a Fátima nos dois dias de maior movimento. Já sabe que o peixe fresco não lhe vai chegar no dia e ainda está a estudar formas de o obter. Em relação a frutas e legumes o fornecimento em princípio está seguro.
Se nas principais vias de Fátima há apenas lugar a pequenos acabamentos, só no santuário se encontra algum movimento que faz prever que este não é um 13 de Maio qualquer. Não tem um aspecto geral de estaleiro, mas o som metálico das aparafusadoras interrompem a harmonia habitual do recinto. Tanto perto da Basílica da Santíssima Trindade como do altar principal, estão a ser montados ecrãs gigantes para transmitir as cerimónias e há veículos a descarregar partes de estruturas e cablagem. Nas traseiras da Basílica do Rosário, várias pessoas descarregam flores de dois camiões TIR.
No dia 12 o preço das dormidas dispara
Apesar de muito se ter escrito sobre a elevada procura de sítio para pernoitar nas proximidades do santuário, ainda não é impossível encontrar um quarto. Inevitavelmente as conversas numa esplanada da rua Jacinta Marto, um dos principais acessos ao recinto, passam por esse tema e dois casais que foram de autocaravana para Fátima falam sobre os preços exorbitantes que se praticam. Rosa Clemente mostra mesmo um panfleto de uma imobiliária, onde a imagem da estátua de Nossa Senhora de Fátima acompanha a informação de T1, quartos e suites para arrendar.
Tiago Costa distribui os panfletos ao virar da esquina. Diz que “ainda há alguns” espaços por ocupar e que os preços andam entre os 300 e os 500 euros. Os quartos estão mesmo às portas do santuário, a escassos metros.
Informação compilada pela Agência Lusa também aponta para a algumas camas por preencher, mas não a preços inferiores. Dormir em Fátima de sexta-feira para sábado custa entre 335 a 1650 em alojamentos locais e entre 500 e 2500 euros em unidades hoteleiras. A Airbnb dá conta de que o número de hóspedes que marcou a dormida na Cova da Iria e imediações pela plataforma aumentou 10 vezes em relação a igual período do ano passado.