Pedro Rodrigues: "Rio é uma figura incontornável do PSD”
O ex-líder da JSD e fundador do movimento de reflexão interna do PSD Portugal Não Pode Esperar defende que o PSD “tem de falar para fora” e “reinventar temas”. É crítico do “desinvestimento” que o PSD fez nas autárquicas e elogia Rui Rio e Morais Sarmento.
Com 37 anos, o advogado Pedro Rodrigues, ex-líder da JSD e fundador do movimento interno Portugal Não Pode Esperar, assume “perplexidade” perante a rejeição dos candidatos às juntas de freguesia propostos pela concelhia de Lisboa.
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Com 37 anos, o advogado Pedro Rodrigues, ex-líder da JSD e fundador do movimento interno Portugal Não Pode Esperar, assume “perplexidade” perante a rejeição dos candidatos às juntas de freguesia propostos pela concelhia de Lisboa.
O que é que tem faltado ao papel de oposição do PSD?
O PSD e a liderança de Pedro Passos Coelho estão a viver uma situação que é única na democracia portuguesa, não só porque o anterior primeiro-ministro está na oposição mas também porque a coligação PSD/CDS foi a força mais votada mas não teve maioria para formar Governo. Pela primeira vez, a ala esquerda do Parlamento está a suportar um Governo, o que significa que aí a luta política se resume ao centro-direita e à direita. Significa que o PSD tem de ser capaz de sair do Parlamento e fazer oposição também junto da sociedade civil, das associações, dos sindicatos, de ir ao encontro do país real e de reinventar temas. O PSD não deve continuar apenas centrado nas discussões de natureza económico-financeira. São questões determinantes, mas há outras matérias que interessam aos portugueses para as quais o PSD também tem de olhar. Como a questão do conhecimento, da inovação, do empreendedorismo, de dar condições políticas, económicas e sociais para que os sectores mais dinâmicos possam desenvolver as suas actividades, e o novo paradigma de gestão das cidades.
Acha que a direcção de Passos Coelho será capaz de fazer isso?
O problema fundamental do PSD não é sobretudo um problema de pessoas, mas de discurso e de posicionamento na sociedade. Foi muito por isso que o Movimento Portugal Não pode Esperar surgiu. Porque é fundamental que o PSD se repense não só em termos organizativos, mas também em termos de posicionamento na relação com o eleitor, na abordagem dos temas. Passos Coelho já mostrou ser capaz de fazer coisas extraordinárias e surpreendentes, como ganhar as últimas eleições e tirar o país da situação económica em que estava. Não tenho dúvidas de que ele consegue, vamos é perceber se ele está com esse drive e se é essa a preocupação que tem e que quer assumir.
Quando o movimento apareceu houve especulação sobre as motivações. Pode vir a apoiar a Rui Rio?
Nós não estamos aqui para discutir poder, mas sim a política e motivar um conjunto de sectores da sociedade a virem a ajudar o PSD a construir alternativas. É essa a nossa motivação. Mas o movimento não é um think thank nem uma tertúlia. É um movimento de intervenção política e de intervenção partidária. Tudo quanto fizermos terá uma consequência política. É perfeitamente natural que no próximo congresso nacional apareçam moções do movimento Portugal Não Pode Esperar que sejam resultado das discussões que tivemos. Respondendo à pergunta sobre se o movimento vai ou não apoiar qualquer candidato, o tema não está em cima da mesa neste momento. Quando estiver, o movimento não apoiará nenhum candidato. Eu com certeza que estarei envolvido no debate político interno do PSD, como sempre, e os membros do movimento também terão as suas posições.
Sente-se mais próximo de Rui Rio do que de Passos Coelho, se for esse o duelo do próximo congresso?
Não antecipo duelos nem faço futurologia sobre o que será a vida interna do PSD, até porque quem se arrisca a fazê-lo normalmente não é bem-sucedido. O PSD é tão rico, tem uma dinâmica tão própria que antever cenários dessa natureza pode ser fazer ficção científica. Não entremos nessa discussão, mas não deixo de dizer que Rui Rio é uma figura incontornável do PSD. É um autarca de referência que transformou a cidade do Porto, não só pondo as contas em ordem mas também preparando a cidade para a dinâmica que hoje tem. Foi um autarca de excelência do PSD e é um exemplo para os autarcas de todos os partidos.
Está mais próximo de Rio, Morais Sarmento ou de Paulo Rangel, que apoiou em 2010?
Sinto-me bem na família política do PSD. O caminho que estamos a traçar é o da construção de um conjunto de propostas que coloquem o PSD novamente a governar Portugal. Agora, quem será o próximo líder do PSD serão os militantes a escolher.
Ficaria desiludido se Rui Rio recuasse?
A vontade de ser candidato a alguma coisa tem de partir do próprio. Respeitarei a posição que qualquer militante assuma em relação a essa matéria. Não ficarei iludido nem desiludido.
Morais Sarmento defendeu há dias que os partidos se devem reconfigurar e aproximar dos cidadãos. Acha que o contributo dele seria importante?
Seria inestimável, com toda a certeza. Julgo que o PSD, no próximo ciclo e atendendo às dificuldades que enfrentou, tem de ser capaz de recuperar as referências que do ponto de vista social e cultural valem tanto ou mais do que o partido. Porque só assim seremos capazes de governar com maioria absoluta.
Criticou o processo de escolha dos candidatos autárquicos do PSD. Em Lisboa e Porto, a direcção deveria ter tido outra preocupação?
Lisboa e Porto são situações diferentes. O PSD, estando na oposição, não pode deixar de ver as autárquicas como eleições fundamentais, recuperando algumas das capitais de distrito mais emblemáticas e alguns dos concelhos mais relevantes. Parece-me também evidente que houve um desinvestimento nessa matéria, que as principais figuras que estão hoje no PSD não estão como candidatas às câmaras do país. O processo autárquico não está a ser desenvolvido da forma como foi em 2001, em que ganhámos Porto, Lisboa, Coimbra, Gouveia e Faro e por aí diante. Qualquer candidato do PSD em Lisboa teria extraordinária dificuldade em enfrentar o candidato do PS — que é absolutamente derrotável, não tem projecto para a cidade, não tem relação afectiva com Lisboa — porque durante quatro anos o PSD não afirmou uma ideia, um projecto para a cidade.
Em Lisboa, o PSD não está a gerir bem este processo de escolha dos candidatos?
Os candidatos às juntas de freguesia e à câmara teriam de ser escolhidos de forma muitíssimo cuidada. Não me parece que a postura mais adequada seja a de pura e simplesmente vetar um conjunto de nomes que são apresentados pelas estruturas locais, só porque são apresentados por essas estruturas e alguém na São Caetano à Lapa decide que os candidatos às listas devem ser outros. Por exemplo, foram rejeitados dois ex-secretários de Estado [José Amaral Lopes e Paulo Taveira de Sousa].
A candidata do PSD — Teresa Leal Coelho — teria outros nomes em vista para a sua equipa.
Eu não conheço a razão pela qual os nomes foram rejeitados. Apenas manifesto a minha absoluta perplexidade por dois ex-governantes, um dos quais do Governo liderado pelo dr. Pedro Passos Coelho, terem sido rejeitados sem nenhuma explicação aparente.
Se o PSD perder as autárquicas, o líder deve demitir-se?
O PSD não pode deixar de ser o partido liderante no poder local em Portugal e não pode deixar de ter a ambição de reforçar a sua posição nos centros urbanos. Se não o faz, não pode aspirar a ter maioria absoluta nas próximas legislativas. Porque não se pense que é possível, em dois anos, sair de um resultado em que perdemos influência nos centros urbanos e que, de repente, por artes mágicas, o eleitorado passa a depositar a confiança no PSD.
O líder deve demitir-se, se o PSD falhar esse objectivo?
O líder deve tomar a posição que entender, de acordo com os resultados. A demissão é uma não-questão, porque imediatamente a seguir vai haver um debate político dentro do partido sobre a estratégia política e a liderança.
Passos Coelho terá créditos para se candidatar a um novo mandato e só sair se perder as próximas legislativas?
Eu julgo que o dr. Passos Coelho tem evidentemente crédito para se recandidatar às eleições directas do partido. Se tem ou não crédito — usando a sua expressão — para ser o candidato do PSD a primeiro-ministro, isso são os militantes que têm de decidir.
Já mostrou reservas sobre a eleição através de primárias. Não é um bom modelo?
Essa não é a questão central. O princípio que está subjacente às primárias está correcto, que é aumentar a participação dos cidadãos na vida do partido. Essa participação não deve ser só feita na eleição do candidato a primeiro-ministro ou do líder, deve ser feita através da discussão daquelas que são as posições e as políticas do PSD. Há outra questão: discutem-se as primárias, mas não se discutem os bloqueios burocráticos à participação nas eleições distritais ou nacionais.
Como por exemplo?
As quotas. Seria muitíssimo mais favorável à ideia de que todos os militantes pudessem votar para a eleição do líder independentemente de terem quotas pagas ou não.
Acha que os sociais-democratas se sentem traídos por Marcelo Rebelo de Sousa?
De maneira nenhuma. Se há característica que tem manifestado na Presidência da República é a sua autenticidade.
Já foi candidato à distrital de Lisboa. Pondera voltar a sê-lo?
Quando a questão se colocar, analisarei as circunstâncias e tomarei uma posição.